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ANÁLISE
Disputa por preços marca história da energia no país
DA REPORTAGEM LOCAL
A história do setor elétrico brasileiro é a saga dos
embates entre o Estado, para controlar os preços de um serviço público, e as empresas que visam
maximizar lucros, sejam elas públicas ou privadas, segundo o
professor Ari Ferreira de Abreu,
da Universidade Federal de Santa
Catarina. A disputa vem desde os
anos 30, primeira intervenção do
governo no setor.
O início da eletrificação do país
foi marcado pela iluminação da
Estação Central da Estrada de
Ferro D. Pedro 2º, atual Central
do Brasil, no Rio, em 1890. Desde
então, até 1934, a geração de energia esteve sob o domínio de duas
grandes companhias estrangeiras, a Light (canadense) e a Anforp (American Foreign Power).
Nessa época, o Estado não intervinha na geração e distribuição de
energia. As empresas tinham direito de corrigir suas tarifas e receber o equivalente em ouro, a chamada "cláusula-ouro", que protegia suas receitas da inflação.
Em 1934, foi aprovado o Código
de Águas, a primeira regulamentação do setor. Entre outros itens,
ele determinou que as tarifas de
energia seriam fixadas de acordo
com os custos de operação e o valor histórico dos investimentos.
Era o fim da "cláusula-ouro".
"As empresas estrangeiras resistiram à nova legislação a ponto
de a Light, que também controlava o sistema de bondes, entregar o
serviço à CMTC", conta Abreu.
Na primeira metade do século
passado, as duas grandes empresas limitavam seus investimentos
no país, priorizando a remessa de
lucros para as matrizes. Com o
avanço da urbanização, veio a crise: faltava energia para o abastecimento das cidades e a expansão
das indústrias. O resultado foi o
racionamento de 1951/52.
A falência do modelo de geração privada levou o governo a investir no setor a partir da década
de 50. Em 1960 é criado o Ministério das Minas e Energia e, dois
anos depois, a Eletrobrás.
Foi o início da estatização do setor, que ganhou impulso nos governos militares, e também do
controle de tarifas governamental. "Do final dos anos 70 em diante, controlar os preços da energia
elétrica era fundamental para
conter a inflação", observa Abreu.
Segundo ele, isso parou o setor.
As empresas se descapitalizaram,
assumiram dívidas em nome do
governo para financiar o déficit
público e reduziram os investimentos. Após os acordos com o
FMI - que limitavam os investimentos para conter o déficit do
governo- o quadro se agravou.
A saída encontrada no primeiro
governo de Fernando Henrique
Cardoso foi a privatização do setor. "O problema é que além de
mal feita, a privatização limitou-se às distribuidoras; as geradoras
-que precisavam investir na expansão da oferta- ficaram de fora", prossegue Abreu.
"Dessa forma, quando veio a
crise de abastecimento, em 2001,
as distribuidoras simplesmente
deixaram de entregar energia e foram remuneradas pelo que não
venderam", diz ele. Agora, travam uma queda de braço com a
Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) em torno de - mais
uma vez- preços.
A revisão tarifária - que ocorre
a cada quatro anos para a maioria
das distribuidoras- começará
em abril e deve atingir 17 das 64
distribuidoras. As empresas querem que os novos preços remunerem o capital investido.
A Aneel quer usar como referência o valor dos ativos, que se
desvalorizaram, e estabeleceu um
limite para a revisão: os índices
não poderão superar o reajuste
anual que as 17 empresas teriam
- e que foi substituído neste ano
pela revisão tarifária.
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