São Paulo, domingo, 04 de março de 2007

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País está mais preparado para turbulência

Para analistas, dívida externa menor e reservas internacionais elevadas deixam país em situação mais confortável perante crises

Fundo de investimento afirma que mercado brasileiro continua um dos mais atrativos no universo dos emergentes

DA REPORTAGEM LOCAL

A turbulência que atingiu as Bolsas em todo o mundo na semana passada causou estragos no mercado brasileiro, mas não deve afetar a economia nem afastar os investidores estrangeiros do país. Para analistas, o Brasil está mais bem preparado para enfrentar instabilidades -a dívida externa é cada vez menor, o nível das reservas internacionais avança e a relação dívida/PIB está em queda.
"Nunca vi uma situação externa tão positiva para o país. O Brasil tem produzido um superávit em conta corrente [saldo das transações do país com o exterior] de 1,5% do PIB, nossa balança está melhorando e o investimento está crescendo", afirma Luiz Fernando Figueiredo, diretor do Banco Central de 1999 a 2003 (leia entrevista à pág. B3).
"Se as reservas internacionais daqui até o final do governo Lula chegarem a US$ 140 bilhões [na semana passada, superaram os US$ 100 bilhões], o que é um cenário possível, ao mesmo tempo em que a dívida externa se reduzir, o impacto de uma mudança no ambiente internacional é completamente diferente do que se tinha", diz Fabio Giambiagi, economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (leia entrevista à pág. B6).
"Nestes dias de turbulência, o BC comprou mais de US$ 2 bilhões para acumulação de reservas. Se considerar do início do ano até agora, as compras somam mais de US$ 13 bilhões. Isso não é sinal de nenhuma crise", afirma Figueiredo.

Mercado atrativo
Apesar da queda de 7,9% da Bolsa de Valores de São Paulo na semana passada, o mercado brasileiro continua um "dos mais atrativos no universo dos emergentes". Essa a opinião de Christian Deseglise, responsável pela área de investimentos em mercados emergentes do HSBC Asset Management.
Há menos de duas semanas, ele comemorava o fato de um dos fundos sob sua responsabilidade ter atingido, pouco menos de três anos após ser lançado, a marca de US$ 1 bilhão. Foi o HSBC GIF Brazil, criado para investir no mercado local.
Deseglise diz que nada mudou em relação à política de investimentos do fundo no Brasil. Ao contrário, afirma o gestor, "nós vemos a fraqueza atual como uma oportunidade de compra".
Desde 2002, as principais Bolsas mundiais não registram perdas. A despeito da trajetória de alta, ele diz que há muitas oportunidades de investimentos. Também há apetite por ativos do Brasil, do que seria prova o US$ 1 bilhão arrecadado pelo fundo para investir no país.
Deseglise justifica o apetite pelo país: "Os juros estão em queda, as exportações em alta e as perspectivas são de crescimento". A Bovespa registrou alta de 33% em 2006, o que não deve impedir, caso se concretizem as projeções para a economia brasileira, que ela tenha outro ano positivo, diz ele, que estima existir espaço para uma alta perto de 25% neste ano.
Há quem se preocupe com o tamanho do mercado brasileiro. Os anos de bons resultados também foram anos em que as empresas redescobriram o mercado de capitais e em que voltaram a abrir capital na Bolsa. Alguns analistas chegaram a apontar que não haveria dinheiro e investidores suficientes para todos os papéis.
Para Deseglise, os investidores estrangeiros podem ser a saída "para alargar o mercado, criar liquidez". Há bons ativos, e a regulação do mercado brasileiro, diz ele, não preocupa os investidores internacionais.
Otimista em relação à evolução dos ativos brasileiros e da maioria dos de emergentes, ele diz acreditar que os tempos de turbulência, como os dos últimos dias, devem passar. "Nós acreditamos que o que estamos vendo é a espuma sendo eliminada, mais do que o começo de uma sinistra fase de quedas nos mercados." (MARCELO BILLI)


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