São Paulo, domingo, 04 de março de 2007

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Analistas descartam alta maior do PIB

Governo Lula deve trabalhar nas reformas estruturais, em especial a tributária, para criar condições de taxas maiores

Expansão neste ano não deve superar 4%, dizem Paulo Levy, do Ipea, Gustavo Loyola, ex-Banco Central, e Skaf, presidente da Fiesp

VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Brasil ainda não tem condições de crescer rapidamente a taxas elevadas. A recomendação é que o governo Lula busque um crescimento gradual e, ao mesmo tempo, trabalhe nas reformas estruturais da economia, principalmente a redução da carga tributária, para o país sonhar com taxas de crescimento na casa dos 5%.
Essa é a opinião de especialistas como o diretor do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) Paulo Levy, do ex-presidente do Banco Central Gustavo Loyola e do presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Paulo Skaf.
Todos apostam num crescimento maior neste ano, divergem apenas quanto ao percentual, mas prescrevem a mesma receita para que o país possa mudar de patamar.
"O importante é ter claro que esse fenômeno de curto prazo, que aponta condições para o país crescer entre 3,5% e 4% neste ano, não pode mascarar o fato de que o crescimento potencial da economia brasileira ainda é relativamente baixo", diz Levy, responsável por análises macroeconômicas do Ipea, órgão do Ministério do Planejamento.
Na próxima semana, o Ipea divulga seu "Boletim de Conjuntura Econômica" e deve, segundo o economista, recomendar exatamente a "aceleração gradual" do crescimento acompanhada de medidas para expandir o investimento e a melhora da produtividade.
"Nós não só acreditamos como recomendamos evitar o crescimento muito elevado no curto prazo, porque isso vai gerar tensões, desequilíbrios da nossa economia", diz Levy.
Loyola acredita que o país criou condições para chegar a um crescimento de até 4% ao ano, apesar de prever que, neste ano, ainda deve ficar mais perto de 3,5%. Segundo ele, para o país ultrapassar esse nível, precisa atacar problemas estruturais, especialmente reduzir a carga tributária a fim de abrir espaço para mais investimentos privados.
Sem isso, Loyola acredita que o país continuará enfrentando dificuldades, como uma taxa de câmbio apreciada, munição para aqueles que apontam o real valorizado como um dos principais motivos para o baixo crescimento no ano passado, de apenas 2,9%. Ele lembra, porém, que é o câmbio apreciado que pode permitir uma melhora da situação brasileira enquanto o governo não consegue atacar as reformas estruturais.
"O fato é que, no ano passado, o Brasil viveu um mini-Plano Real, com a renda dos mais pobres crescendo mais por conta da inflação baixa", diz ele. O dólar desvalorizado, que estimulou as importações e reduziu a inflação, também permitiu "um maior crescimento dos investimentos e da produtividade, fundamentais para aumentar o potencial da economia brasileira".

Efeito só em 2008
Skaf é o mais pessimista dos três. Diz não acreditar em crescimento superior a 3% neste ano. Segundo ele, a recuperação agrícola e da construção civil será sentida principalmente no próximo ano, quando, aí sim, acredita em crescimento elevado, de até 5%. "Mas, depois, a tendência é recuar, caso o governo não ataque os problemas estruturais brasileiros, principalmente a pesada carga tributária."
Loyola e Levy têm prognósticos mais otimistas. Segundo o diretor do Ipea, 2007 terá um juro real menor do que o de 2006, o que vai permitir que o país cresça entre 3,5% e 4%. "Talvez dê para chegar próximo de 4%, já que ainda sentiremos o efeito da queda dos juros do ano passado e as taxas vão continuar caindo."
O ex-presidente do Banco Central lembra ainda que, apesar da insegurança jurídica e da elevada carga de impostos, houve muita coisa positiva nos últimos anos. "A economia está mais aberta, mais competitiva, ainda vamos sentir o efeito de um longo período de estabilidade, tudo isso vai ajudar a fazer com que o país possa crescer na casa dos 4%."


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