São Paulo, terça-feira, 04 de março de 2008

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Preço defasado "custou" R$ 5,8 bi desde 2005, diz analista

HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Analistas de mercado vêem defasagem no preço da gasolina e do diesel vendido pela Petrobras, mas não acreditam que a estatal vá reajustar o preço em ano eleitoral. O último aumento ocorreu em setembro de 2005. Naquela ocasião, o barril de petróleo estava em aproximadamente US$ 60. Hoje, está na casa dos US$ 100.
A falta de aumento afeta os resultados da empresa, 17% menores em 2007 do que em 2006. Se não causa prejuízo, impede ganhos maiores -uma das principais fontes de receita da estatal é a venda de óleo diesel, que, de acordo com o mercado, está com seu preço 11% defasado em relação ao praticado no mercado internacional.
De acordo com a consultoria CBIE (Centro Brasileiro de Infra-Estrutura), a Petrobras deixou de ganhar R$ 5,8 bilhões desde o início de 2005 por não ter feito reajustes nos valores de venda de derivados quando os preços internacionais estavam mais altos. Em fevereiro, as perdas diárias da estatal foram de R$ 16 milhões, segundo cálculo da consultoria.
Em tese, com a liberação do mercado, em 2002, a Petrobras deveria reajustar os preços dos derivados vendidos no mercado interno de acordo com as variações do mercado internacional. Dessa forma, manteria o seu preço sempre próximo ao custo de importação de combustíveis, o que, em tese, permitiria competição no setor.
Na prática, apenas derivados como querosene de aviação e óleo combustível são reajustados com freqüência. Para a gasolina e óleo diesel, produtos com maior peso na inflação e grande visibilidade, a posição oficial da empresa tem sido a de não repassar para o mercado interno as oscilações de preço internacionais. Assim, só haveria reajuste quando o preço do petróleo ficasse estável em um determinado patamar.
Em estudo feito pela consultoria Tendências, são traçados três cenários para os preços internos dos derivados de petróleo em 2008. No cenário considerado "básico", o preço médio do barril do petróleo recua para uma cotação média de aproximadamente US$ 81 ao longo do ano, o que daria uma defasagem de aproximadamente 10% para os combustíveis no mercado interno, que não seria repassada pela Petrobras.
No cenário chamado "stress 1", a cotação média do barril de petróleo ao longo do ano fica em cerca de US$ 91, com defasagem média de 15% nos combustíveis no mercado interno. Em tese, isso aumentaria a chance de reajuste, mas as eleições municipais no segundo semestre levariam a uma baixa probabilidade de reajuste.
O terceiro cenário ("stress 2") indica uma alta ainda maior nas cotações internacionais, o que levaria a uma chance maior de reajuste no mercado interno. Levando em conta os três cenários, a consultoria conclui que é pequena a chance de reajuste em 2008.
Para a RC Consultores, o preço da gasolina está 7% abaixo do mercado internacional, e o do diesel, 11%. Apesar da defasagem, o consultor Fábio Silveira acredita que, se houver reajuste, ele será bem menor, de no máximo 3%, em junho ou julho. "Um reajuste maior teria impacto nas metas de inflação, o que pode ter impacto na política monetária, com pressão para alta de juros", avalia.
Para ele, o cenário neste ano pressiona mais por reajuste do que em 2007. "O cenário lá fora não é de queda. Há escassez estrutural [de petróleo] e fortes movimentos especulativos."
A decisão de aumentar ou não o preço dos derivados é política, e não empresarial, disse Silveira. "É uma questão de política do Estado. A empresa é uma estatal, e existem metas de inflação", afirmou.

Consumidores
Do ponto de vista do consumidor brasileiro, a política de preços da Petrobras trouxe benefícios. Os combustíveis caíram e ajudaram a conter o IPCA, índice de inflação que baliza a meta do governo. O IPCA se acelerou e subiu 4,46% em 2007 -mais do que os 3,14% de 2006. Já o subgrupo dos combustíveis caiu 0,33% graças à redução de 0,69% dos preços médios da gasolina. Em 2006, a gasolina havia subido 2,94%.
Para Nelson Rodrigues Matos, analista do Banco do Brasil, a Petrobras foi beneficiada pela queda do dólar de 18% em 2007, que compensou em parte a alta do barril. Assim, absorveu fatia menor da valorização de 51% do petróleo, que não foi repassada integralmente.


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