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Preço defasado "custou" R$ 5,8 bi desde 2005, diz analista
HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Analistas de mercado vêem
defasagem no preço da gasolina
e do diesel vendido pela Petrobras, mas não acreditam que a
estatal vá reajustar o preço em
ano eleitoral. O último aumento ocorreu em setembro de
2005. Naquela ocasião, o barril
de petróleo estava em aproximadamente US$ 60. Hoje, está
na casa dos US$ 100.
A falta de aumento afeta os
resultados da empresa, 17%
menores em 2007 do que em
2006. Se não causa prejuízo,
impede ganhos maiores -uma
das principais fontes de receita
da estatal é a venda de óleo diesel, que, de acordo com o mercado, está com seu preço 11%
defasado em relação ao praticado no mercado internacional.
De acordo com a consultoria
CBIE (Centro Brasileiro de Infra-Estrutura), a Petrobras deixou de ganhar R$ 5,8 bilhões
desde o início de 2005 por não
ter feito reajustes nos valores
de venda de derivados quando
os preços internacionais estavam mais altos. Em fevereiro,
as perdas diárias da estatal foram de R$ 16 milhões, segundo
cálculo da consultoria.
Em tese, com a liberação do
mercado, em 2002, a Petrobras
deveria reajustar os preços dos
derivados vendidos no mercado interno de acordo com as variações do mercado internacional. Dessa forma, manteria o
seu preço sempre próximo ao
custo de importação de combustíveis, o que, em tese, permitiria competição no setor.
Na prática, apenas derivados
como querosene de aviação e
óleo combustível são reajustados com freqüência. Para a gasolina e óleo diesel, produtos
com maior peso na inflação e
grande visibilidade, a posição
oficial da empresa tem sido a de
não repassar para o mercado
interno as oscilações de preço
internacionais. Assim, só haveria reajuste quando o preço do
petróleo ficasse estável em um
determinado patamar.
Em estudo feito pela consultoria Tendências, são traçados
três cenários para os preços internos dos derivados de petróleo em 2008. No cenário considerado "básico", o preço médio
do barril do petróleo recua para
uma cotação média de aproximadamente US$ 81 ao longo do
ano, o que daria uma defasagem de aproximadamente 10%
para os combustíveis no mercado interno, que não seria repassada pela Petrobras.
No cenário chamado "stress
1", a cotação média do barril de
petróleo ao longo do ano fica
em cerca de US$ 91, com defasagem média de 15% nos combustíveis no mercado interno.
Em tese, isso aumentaria a
chance de reajuste, mas as eleições municipais no segundo semestre levariam a uma baixa
probabilidade de reajuste.
O terceiro cenário ("stress
2") indica uma alta ainda maior
nas cotações internacionais, o
que levaria a uma chance maior
de reajuste no mercado interno. Levando em conta os três
cenários, a consultoria conclui
que é pequena a chance de reajuste em 2008.
Para a RC Consultores, o preço da gasolina está 7% abaixo
do mercado internacional, e o
do diesel, 11%. Apesar da defasagem, o consultor Fábio Silveira acredita que, se houver
reajuste, ele será bem menor,
de no máximo 3%, em junho ou
julho. "Um reajuste maior teria
impacto nas metas de inflação,
o que pode ter impacto na política monetária, com pressão
para alta de juros", avalia.
Para ele, o cenário neste ano
pressiona mais por reajuste do
que em 2007. "O cenário lá fora
não é de queda. Há escassez estrutural [de petróleo] e fortes
movimentos especulativos."
A decisão de aumentar ou
não o preço dos derivados é política, e não empresarial, disse
Silveira. "É uma questão de política do Estado. A empresa é
uma estatal, e existem metas de
inflação", afirmou.
Consumidores
Do ponto de vista do consumidor brasileiro, a política de
preços da Petrobras trouxe benefícios. Os combustíveis caíram e ajudaram a conter o IPCA, índice de inflação que baliza a meta do governo. O IPCA
se acelerou e subiu 4,46% em
2007 -mais do que os 3,14% de
2006. Já o subgrupo dos combustíveis caiu 0,33% graças à
redução de 0,69% dos preços
médios da gasolina. Em 2006, a
gasolina havia subido 2,94%.
Para Nelson Rodrigues Matos, analista do Banco do Brasil,
a Petrobras foi beneficiada pela
queda do dólar de 18% em
2007, que compensou em parte
a alta do barril. Assim, absorveu
fatia menor da valorização de
51% do petróleo, que não foi repassada integralmente.
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