São Paulo, quinta-feira, 04 de março de 2010

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Sob pressão, Grécia anuncia novo pacote fiscal; UE elogia

Terceiro plano anunciado nos últimos cinco meses prevê economia de 2% do PIB

País está sob pressão da UE e de instituições financeiras para reduzir seu atual deficit orçamentário, de 12,7% do PIB, que ameaça o euro

Simela Pantzartzi/Efe
Policiais controlam manifestação de aposentados em Atenas contra o novo pacote de cortes

LUCIANA COELHO
DE GENEBRA

A Grécia anunciou ontem um novo pacote de medidas fiscais -o terceiro em cinco meses- sob intensa pressão da União Europeia e dos mercados para cortar três quartos de seu deficit orçamentário, de 12,7% do PIB, em três anos. A expectativa é que o novo ajuste renda ao país 4,8 bilhões neste ano, como exigiu a UE, ou o equivalente a 2% de sua economia.
O plano do governo do socialista George Papandreou, que assumiu em outubro e herdou a crise de seu antecessor conservador, mira o superinchado funcionalismo público grego.
O pacote ressoou positivamente na UE. Do presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, ao chefe do grupo do euro, Jean-Claude Juncker, todos aplaudiram. "Isso pode ser o ponto de virada na crise", afirmou o comissário para questões Econômicas e Monetárias, Olli Rehn, segundo agências de notícias.
Entre outras coisas, as contratações no setor público serão reduzidas em até 80%, bônus serão extintos, pensões serão congeladas e o 13º e o 14º salários, que os gregos recebem entre a Páscoa e as férias de verão, serão cortados em 30%.
A medida é drástica em um país onde o salário médio é de 1.000 e o custo de vida é semelhante ao de vizinhos ricos. Apesar de reclamações iniciais, no entanto, um racha se anuncia nos sindicatos.
A Adedy, maior representante do setor público, criticou o plano e convocou greve para o próximo dia 16. Já o GSEE, o maior do país e responsável pela greve geral da semana passada, diz oficialmente que as medidas "cortam da carne dos trabalhadores mais vulneráveis".
Mas uma fonte na entidade afirmou à Folha que a ordem é esperar e ver como as medidas assentam antes de convocar protestos. Segundo pesquisas, a leva anterior de ajustes teve apoio de 60% da população.
A indústria, já fragilizada, também chiou. O plano prevê subir o "ICMS" grego para 21% para a maioria dos produtos.

Ajuda do FMI
O valor dos novos cortes é o mesmo que propôs a missão da UE à Grécia nesta semana. O plano apresentado há um mês, que elevou o imposto da gasolina e congelou parte das pensões, fora acatado em Bruxelas, mas chamado de insuficiente.
Em seu discurso ao Parlamento ontem, reproduzido por jornais gregos, Papandreou afirmou que as novas medidas eram o único jeito de "salvar" a economia grega, e que, embora duros, os cortes seriam piores se demorassem.
"Estamos lutando com o tempo", afirmou. "Há risco de a Grécia ir pedir empréstimo e dar com a cara na porta."
Papandreou se reúne amanhã em Berlim com a chanceler Angela Merkel. Apesar da resistência em pagar a conta de anos de baderna fiscal grega, a Alemanha é a mais provável fonte do socorro -a UE prometera ajuda a Atenas para impedir a contaminação regional e o colapso do euro, sem dizer como.
A ordem é evitar a intervenção do FMI, algo que mexe com os brios europeus. Mas ontem o governo Papandreou já afirmou que recorrerá ao Fundo se a UE virar-lhe as costas.
Segundo jornais europeus, o governo alemão se prepara, com os maiores bancos do país, para resgatar o vizinho mediterrâneo comprando seus títulos. A Grécia precisa rolar 55 bilhões em dívida neste ano, e metade dela vence até maio.
Porque o mercado reagiu bem ao anúncio ontem, o ágio sobre os títulos gregos caiu, e cresceu a expectativa de que o governo aproveite a oportunidade para emitir novos bônus.


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