São Paulo, domingo, 04 de abril de 2010

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Crise obriga companhias a reduzir margens

Grandes empresas só conseguiram obter lucro maior em 2009 graças ao impacto positivo do câmbio na despesa financeira

Mercado doméstico levou setores como comércio e eletroeletrônicos a registrar crescimento de receita, apesar do PIB negativo

Paulo Fridman/Bloomberg
Fábrica da Ambev em SP; empresa de bebidas viu o lucro subir

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

No ano do PIB negativo, uma elite do setor corporativo brasileiro driblou a crise, conseguiu ao menos "empatar" as vendas com o ano anterior e até elevar os ganhos, segundo estudo da consultoria Economática.
A principal ajuda veio da taxa de câmbio favorável, que mitigou a redução nas margens de ganho e a dificuldade generalizada das companhias de repassar aumentos de custos.
No levantamento, as vendas (receita) de 233 empresas com ação em Bolsa somaram R$ 602,95 bilhões no ano passado -valor 2,6% superior à mediana obtida em 2008.
No cômputo final, essas empresas com ação em Bolsa terminaram o ano com lucro líquido de R$ 44,4 bilhões, ou 6,5% a mais do que em 2008.
No ano passado, o PIB do Brasil teve queda de 0,2%, segundo o IBGE. O estudo atualizou os balanços pelo IPCA (índice oficial de inflação) e excluiu os resultados de bancos, Vale e Petrobras, que costumam distorcer a análise por terem tamanho maior.
"Independentemente de tudo, [as empresas] tiveram um ano de relativa estabilidade. Diferentemente do PIB, levemente para baixo, elas terminaram no zero a zero. As empresas conseguiram empatar em 2009", disse Einar Rivero, autor do estudo da Economática.
Para Rivero, as empresas abertas tiveram um volume de vendas equivalente ao do ano anterior, porém com margens de ganho menores.
O resultado desse aperto das margens e das vendas estagnadas foi uma queda de 16,4% no resultado operacional -que mede o desempenho no negócio- dessas companhias.
"As empresas devem ter produzido muito mais para vender a mesma coisa, porém com um custo de produção elevado. Ou seja, não conseguiram repassar ao consumidor final esse custo. Se o PIB caiu e o ano foi ruim, as empresas venderam, mas com uma margem menor", disse.
Esse rombo no negócio só foi equilibrado porque houve forte ganho financeiro das empresas, resultado do impacto da moeda americana na dívida.
Em 2008, quando o dólar se valorizou em 31,9%, esse grupo de empresas do estudo teve despesas com juros e câmbio da ordem de R$ 37,762 bilhões.
Já no ano passado, o dólar recuou 25,5% e as despesas financeiras também encolheram, para R$ 3,785 bilhões.
Segundo Fernando Exel, presidente da Economática, aparentemente as empresas fizeram um uso eficiente no ano passado dos mecanismos de proteção cambial.
"O resultado financeiro, que é sempre negativo por representar uma despesa, foi muito baixo, quase inexistente", disse.
Já a rentabilidade média sobre o patrimônio, indicador de remuneração do investimento do acionista, teve recuo de 12,5% para 12,1% na comparação. Segundo Rivero, a explicação é a redução nas margens de ganho das empresas.

Efeito adverso
Apesar de reduzir as despesas financeiras, a taxa de câmbio foi punitiva para as empresas exportadoras, que foram duplamente afetadas pela crise mundial: venderam menos e com preço menor.
"O câmbio, que atrapalhou todo mundo em 2008, ajudou e muito em 2009. Ocasionou um ganho financeiro, embora as receitas das empresas em reais tenham desabado", disse.
Entre as exportadoras, Petrobras e Vale (fora do estudo, mas citadas para efeito de comparação) e Gerdau tiveram quedas nas receitas de R$ 41,7 bilhões, R$ 25,1 bilhões e R$ 17,2 bilhões, respectivamente, de 2008 para 2009.
Por outro lado, empresas voltadas ao mercado doméstico, como as dos setores de energia, eletroeletrônicos e comércio, tiveram crescimento médio de 3%, 4,2% e 11,1% nessa mesma base de comparação.


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