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MISTÉRIO NO BANCO
Ex-diretor da área internacional do Noroeste dá sua versão para o sumiço de US$ 242 milhões
Dinheiro financiou aeroporto, diz acusado
VANESSA ADACHI
da Reportagem Local
O financiamento da construção
de um aeroporto internacional na
Nigéria, país africano, seria o destino da maior parte dos US$ 242
milhões que saíram do Banco Noroeste, levantando suspeitas de
fraude e troca de acusações entre
seus executivos, ex-controladores
e empresas de auditoria.
Essa é a versão do principal acusado no caso, o ex-diretor da área
internacional do banco, Nelson
Tetsuo Sakagushi.
A versão consta de uma petição
assinada por ele e encaminhada
ontem por seu advogado, Paulo
Esteves, ao procurador-geral da
Justiça do Estado de São Paulo.
Segundo descrito por Sakagushi
no documento, em 1995 ele teria
recebido a proposta para realizar
tais operações com o governo da
Nigéria, durante um encontro
realizado em Londres.
O financiamento da construção
do aeroporto demandaria, a partir
de então, remessas mensais de
US$ 5 milhões a US$ 10 milhões,
que "retornariam ao banco com
lucro expressivo", segundo a petição.
Ilhas Virgens
Para tal, Sakagushi utilizou uma
empresa constituída nas Ilhas Virgens, denominada Staton, que solicitava as remessas à agência Cayman do Noroeste. As remessas tinham como destino, segundo Sakagushi, as contas correntes de
"bancos de grande credibilidade e
renome internacional no exterior".
Ainda de acordo com a petição,
Nelson Sakagushi "acreditava na
realidade e lucratividade da operação". Além disso, o ex-diretor
do Noroeste afirma no documento que todos os valores remetidos
constam nas fichas de remessas
em poder do banco.
Empresas-fantasma
Sakagushi levanta a possibilidade de ter sido enganado nas operações que autorizou. A petição assinada por ele fala na hipótese de os
devedores do Noroeste em tais financiamentos serem empresas-fantasma.
Não é essa a história, no entanto,
contada em outro documento encaminhado pelos ex-controladores do Noroeste também ao procurador-geral na quinta-feira.
A queixa-crime assinada por Léo
Wallace Cochrane Jr. e Luiz Vicente Barros Mattos Jr., ex-controladores e vice-presidentes da
instituição, no entanto, refere-se a
essas remessas como desfalques.
A queixa-crime descreve duas
modalidades dos supostos desfalques. Uma delas consistia em saques "sem qualquer suporte contábil", que teriam sido autorizados por Nelson Sakagushi e por
um subordinado seu, superintendente da área internacional e responsável pela parte operacional.
Oferendas
Nesse ponto, a petição narra a
existência de uma evidência curiosa: uma folha de papel com valores escritos por Sakagushi, contendo a palavra "oferendas". Algumas fichas de saques, segundo o
documento, têm quantias correspondentes às da anotação.
Outra modalidade de desfalque,
segundo o documento, seria a
transferência de valores a partir de
saldos bancários mantidos pela
agência Cayman do Noroeste em
instituições internacionais.
As transferências, diz a queixa-crime, eram efetuadas a partir
da matriz de São Paulo.
As transferências eram feitas por
meio eletrônico com a utilização
da senha de dois funcionários das
áreas internacional e de câmbio
do banco.
Descoberta
A queixa-crime dos ex-controladores diz ainda que a suposta
fraude teria sido primeiramente
percebida por funcionários do
próprio banco e não pela empresa
que auditava a instituição, a Price
Waterhouse.
Outros dois funcionários são
mencionados na queixa-crime
dos ex-controladores como sendo
subordinados a Sakagushi na área
internacional.
Um era gerente administrativo
de câmbio, e o outro, assessor de
câmbio.
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