|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CONJUNTURA
Economista diz que crise é uma hipótese, mas acha difícil que o país mantenha crescimento de 4% ao ano
Krugman teme "crash" nos Estados Unidos
CELSO PINTO
do Conselho Editorial
O Japão está estagnado e sua Bolsa está despencando, enquanto os
Estados Unidos continuam crescendo e com a Bolsa batendo sucessivos recordes. O economista
Paul Krugman, contudo, está mais
preocupado com a dimensão de
uma crise potencial nos Estados
Unidos do que com a crise real japonesa, comentou num café da
manhã com alguns jornalistas, ontem, no Rio.
Krugman, um dos mais respeitados gurus do mercado internacional, acha que o Japão pode até sofrer uma recessão severa, como
uma queda de 3% do PIB, mas é
improvável que chegue a um
"crash" com impacto mundial.
Já o "cenário pesadelo" para os
Estados Unidos poderia incluir
uma queda de 30% na Bolsa de
Nova York e um salto do desemprego para dois dígitos, antes que
o banco central (o Fed) pudesse
reverter a situação. Ele não diz que
isso vai, necessariamente, acontecer, mas não afasta a hipótese.
O grande risco nos Estados Unidos é que o que tem empurrado as
Bolsas é a convicção de que o país
"pode crescer 4% ao ano para
sempre". Para Krugman, os EUA
tiveram "dois anos excepcionais",
mas o potencial de crescimento da
economia, a longo prazo, continua entre 2% e 3% ao ano.
A economia americana tem crescido mais rápido do que isso nos
últimos anos, sem pressionar a inflação e com desemprego muito
baixo, ajudada por fatores únicos,
segundo Krugman. Por exemplo,
a redução no custo dos benefícios
da saúde e dos preços de importação, em função da valorização do
dólar.
Nos dois últimos meses, os ganhos salariais têm crescido a 5%
ao ano, comparado a menos de 3%
há dois anos. A produtividade da
economia melhorou, mas nada espetacular: de 1,3% ao ano para
1,5%. O nível mínimo de desemprego aceitável sem que haja pressão inflacionária, que se supunha
ser 6% há alguns anos, deve ser
hoje de 5% a 5,5%, acima dos 4,6%
atuais.
Em suma, Krugman discorda
que a economia americana tenha
passado por uma revolução que
mudou seus parâmetros, como argumentam alguns economistas.
Ao contrário, estaria dando sinais
preocupantes de que pode voltar a
acelerar a inflação.
O Fed sabe disso, diz ele, mas
não eleva os juros por razões políticas, para não ser acusado de ter
provocado uma recessão. Pode
ser, contudo, que seja obrigado a
elevá-los nos próximos meses.
Se esta subida coincidir com
uma súbita percepção geral de que
havia excesso de otimismo e que o
crescimento não poderá continuar
tão rápido, isso poderia provocar
uma forte queda (talvez de 30%)
na Bolsa. O Fed pode reagir devagar e cortar os juros só depois de a
economia americana entrar num
ciclo "japonês", de baixo crescimento.
Dilema japonês
O Japão, na visão de Krugman,
está preso num círculo vicioso:
cresce pouco porque há pouca demanda e a demanda é pequena
porque a economia está crescendo
pouco. Algo comparável ao que
aconteceu nos anos 30 com a economia americana.
Qual a saída? Krugman recomenda uma gigantesca emissão
monetária pelo governo, algo como US$ 1 trilhão, usado para recomprar dívida pública em mãos
do setor privado. Reformas estruturais ajudam, mas é preciso mais
do que isso.
Alguns dizem que uma emissão
deste tamanho provocaria inflação; outros sustentam que seria
inútil, pela tendência dos japoneses a poupar e não a consumir.
Krugman diz que é impossível, logicamente, os dois argumentos estarem corretos.
Se nada for feito, a recessão pode
se aprofundar. Não vai virar, contudo, um "crash". Para chegar a
um crash, o governo japonês teria
que reagir à piora do cenário de
forma inteiramente passiva todo o
tempo, o que ele acha improvável.
Ao contrário de outros países asiáticos, onde existe uma fuga da
moeda local em favor do dólar, no
Japão isso não vai acontecer, o que
abre sempre a possibilidade de o
governo emitir para evitar o pior.
Os preços dos ativos japoneses
podem cair ainda mais (inclusive
o das ações). O risco de um contágio mundial muito forte, contudo,
é pequeno. A Bolsa de Tóquio já
perdeu 90% do seu valor em relação ao comportamento da Bolsa
de Nova York, medido em dólares.
Se isso não levou a nada dramático
na economia internacional, por
que uma queda adicional levaria?
Em relação à Ásia, Krugman está
otimista com a Coréia e a Tailândia. Acha que ambos podem recuperar o vigor das exportações em
um ano e voltar a crescer de forma
significativa. Em outros países, a
crise pode ainda piorar.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|