São Paulo, sábado, 4 de abril de 1998

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ÁSIA
Relatório da agência Moody's Investors Service sobre dívida pública do Japão provoca instabilidade no mercado
BC japonês intervém para recuperar iene

Reuters
Operadores da Bolsa de Nova York (EUA), cujo índice Dow Jones bateu ontem os 9.000 pontos pela primeira vez em sua história


MARCIO AITH
de Tóquio

Uma intervenção do banco central do Japão impediu ontem que o iene, a moeda local, atingisse seu valor mais baixo desde setembro de 1991.
O governo interveio no mercado depois que a Moody's Investors Service, considerada a maior agência de classificação de riscos do mundo, mudou de "estável" para "negativo" o perfil da dívida pública japonesa.
Na avaliação do mercado, trata-se de uma indicação de que a Moody's irá, num futuro próximo, rebaixar a classificação dos próprios títulos públicos japoneses, que possuem atualmente a melhor avaliação possível, "AAA". Rebaixar títulos significa dizer ao mercado que quem os emitiu tem menos capacidade para pagá-los.
Formalmente, a Moody's não rebaixou esses títulos, mas insinuou que o fará e causou uma confusão no mercado.
O dólar chegou a valer, no meio da tarde de ontem, 135 ienes. Uma maciça venda da moeda norte-americana promovida pelo banco central japonês fez, no entanto, com que o dólar fechasse a 134,5 ienes.
A Bolsa de Valores de Tóquio, que vem registrando sucessivas quedas nos últimos dias, caiu 1,1%.
Foi a maior intervenção do governo japonês no mercado nos últimos seis meses.
Na última terça-feira, o vice-ministro para assuntos internacionais, Eisuke Sakakibara, havia dito que estava "preocupado" com as desvalorizações gradativas do iene e sugeriu que o governo interviria caso a cotação chegasse a níveis preocupantes.
Sakakibara disse que estava em contato permanente com o governo dos Estados Unidos e não iria permitir que as flutuações da moeda causassem conflitos entre os dois países -com o iene desvalorizado, fica mais fácil para os japoneses exportarem para os Estados Unidos.
Superávit
A Moody's também recebeu críticas de alguns investidores, para os quais, apesar da crise econômica do Japão, é praticamente impossível que o governo japonês venha a dar um "calote" nos investidores.
Ron Bevacqua, economista da Merrill Lynch em Tóquio, afirmou que, com um superávit comercial de 3% sobre um PIB de US$ 4 trilhões, seria praticamente impossível que o governo japonês descumprisse suas obrigações.
O economista disse ainda que somente 10% dos compradores de títulos japoneses são investidores estrangeiros.
"Cerca de 50% dos títulos estão nas mãos de estatais japonesas. Calote em quem?", perguntou o economista.



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