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MAPA DA RIQUEZA
Estudo do IBGE revela desigualdade entre regiões; metade de todos os bens e serviços produzidos no Brasil está em apenas 70 cidades
Nove cidades concentram 1/4 do PIB do país
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Que o Brasil é um país desigual
já se sabe. Mas o IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística) relevou uma nova faceta do
problema: em 2002, nove cidades
concentravam 25% do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro.
De 5.560 municípios, 70 (ou
1,3%) respondiam por metade de
todos os bens e serviços produzidos no país. Nessas cidades, morava um terço da população brasileira. Em situação inversa, 1.272
cidades - 22,9%- contribuíam
com só 1% do PIB, segundo a inédita publicação "Produto Interno
Bruto dos Municípios (1999-2002)", divulgada ontem.
Em 2002, os nove maiores PIBs
eram os de São Paulo (10,4% do
total), Rio (4,7%), Brasília (2,7%),
Manaus (1,5%), Belo Horizonte
(1,4%), Duque de Caxias (1,1%),
Curitiba (1%), Guarulhos (1%) e
São José dos Campos (1%).
Pode-se, olhando os dados rapidamente, supor que essas cidades
concentram tanto poder econômico em razão do peso de suas
populações. Mas, juntas, elas têm
14,7% dos habitantes do país, menos que sua participação no PIB.
Segundo especialistas, tal concentração é reflexo direto do nível
de industrialização. Além do próprio peso da atividade, a indústria
agrega uma série de serviços em
torno de si, o que faz crescer a economia local. Onde se instalam fábricas vão fornecedores e prestadores de serviços -consultorias,
bancos, empresas de segurança.
"Esse mapa traçado tende a ser
quase o mapa da indústria, que
traz junto dela uma rede de serviços acoplada", diz Mansueto Almeida, coordenador de Estudos
Regionais do Ipea (Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada).
O efeito propulsor da indústria
explica, por exemplo, o fato de
Manaus contribuir mais para o
PIB do país do que Belo Horizonte, que possui um população
maior. Já a força de Brasília está
em outras fontes: a administração
pública e os bancos federais.
Bráulio Borges, economista da
LCA, concorda com a relevância
da industrialização: "A indústria
tem um peso muito grande por
causa da grande gama de serviços
que ela demanda".
Desconcentração pequena
Os dados mostram que houve
pequena desconcentração do PIB
municipal. Os líderes São Paulo e
Rio -com 11,6% e 5,6% em
1999- perderam um pouco de
espaço. Naquele ano, sete cidades
respondiam por 25% da produção nacional. Todas eram capitais.
Em 2002, Porto Alegre saiu desse grupo. Ingressaram Duque de
Caxias (RJ), São José dos Campos
(SP) e Guarulhos (SP), em razão
de suas indústrias.
Ainda assim, Almeida (Ipea) diz
que há um elevado grau de concentração na geração de bens e
serviços e uma disparidade "enorme" quando analisado o PIB per
capita (dividido pela população).
O que houve, afirma, foi a "chamada desconcentração concentrada". Ou seja: as atividades econômicas saem das maiores cidades e migram para locais do interior próximos e com boa rede de
infra-estrutura e serviços. "Para o
interior do Norte e do Nordeste,
por exemplo, não sobra nada."
Não por acaso, os menores PIBs
do país estão nessas regiões. São
Félix do Tocantins (TO) e Santo
Antonio dos Milagres (PI) -de
R$ 1,911 milhão e R$ 2,008 milhão,
respectivamente (valores de
2002). O PIB brasileiro somou
R$ 1,346 trilhão em 2002.
Das 100 cidades com os mais
baixos PIBs per capita, 83 estão no
Maranhão, e 12, no Piauí. Em Bacuri (MA), de 16 mil habitantes,
era de R$ 581 em 2002. A média do
país se situava em R$ 7.631.
Para alterar esse quadro, diz Almeida, o Estado precisa investir
em serviços públicos e obras de
infra-estrutura nessas áreas.
Outro problema a ser atacado,
segundo ele, é o excessivo número
de municípios. Almeida diz ser
necessário fundir cidades pequenas e sem receita própria. Haveria
"enorme ganho de escala" na
prestação de serviços públicos.
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