São Paulo, quarta-feira, 04 de maio de 2005

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MAPA DA RIQUEZA

Estudo do IBGE revela desigualdade entre regiões; metade de todos os bens e serviços produzidos no Brasil está em apenas 70 cidades

Nove cidades concentram 1/4 do PIB do país

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Que o Brasil é um país desigual já se sabe. Mas o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) relevou uma nova faceta do problema: em 2002, nove cidades concentravam 25% do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro.
De 5.560 municípios, 70 (ou 1,3%) respondiam por metade de todos os bens e serviços produzidos no país. Nessas cidades, morava um terço da população brasileira. Em situação inversa, 1.272 cidades - 22,9%- contribuíam com só 1% do PIB, segundo a inédita publicação "Produto Interno Bruto dos Municípios (1999-2002)", divulgada ontem.
Em 2002, os nove maiores PIBs eram os de São Paulo (10,4% do total), Rio (4,7%), Brasília (2,7%), Manaus (1,5%), Belo Horizonte (1,4%), Duque de Caxias (1,1%), Curitiba (1%), Guarulhos (1%) e São José dos Campos (1%).
Pode-se, olhando os dados rapidamente, supor que essas cidades concentram tanto poder econômico em razão do peso de suas populações. Mas, juntas, elas têm 14,7% dos habitantes do país, menos que sua participação no PIB.
Segundo especialistas, tal concentração é reflexo direto do nível de industrialização. Além do próprio peso da atividade, a indústria agrega uma série de serviços em torno de si, o que faz crescer a economia local. Onde se instalam fábricas vão fornecedores e prestadores de serviços -consultorias, bancos, empresas de segurança.
"Esse mapa traçado tende a ser quase o mapa da indústria, que traz junto dela uma rede de serviços acoplada", diz Mansueto Almeida, coordenador de Estudos Regionais do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).
O efeito propulsor da indústria explica, por exemplo, o fato de Manaus contribuir mais para o PIB do país do que Belo Horizonte, que possui um população maior. Já a força de Brasília está em outras fontes: a administração pública e os bancos federais.
Bráulio Borges, economista da LCA, concorda com a relevância da industrialização: "A indústria tem um peso muito grande por causa da grande gama de serviços que ela demanda".

Desconcentração pequena
Os dados mostram que houve pequena desconcentração do PIB municipal. Os líderes São Paulo e Rio -com 11,6% e 5,6% em 1999- perderam um pouco de espaço. Naquele ano, sete cidades respondiam por 25% da produção nacional. Todas eram capitais.
Em 2002, Porto Alegre saiu desse grupo. Ingressaram Duque de Caxias (RJ), São José dos Campos (SP) e Guarulhos (SP), em razão de suas indústrias.
Ainda assim, Almeida (Ipea) diz que há um elevado grau de concentração na geração de bens e serviços e uma disparidade "enorme" quando analisado o PIB per capita (dividido pela população).
O que houve, afirma, foi a "chamada desconcentração concentrada". Ou seja: as atividades econômicas saem das maiores cidades e migram para locais do interior próximos e com boa rede de infra-estrutura e serviços. "Para o interior do Norte e do Nordeste, por exemplo, não sobra nada."
Não por acaso, os menores PIBs do país estão nessas regiões. São Félix do Tocantins (TO) e Santo Antonio dos Milagres (PI) -de R$ 1,911 milhão e R$ 2,008 milhão, respectivamente (valores de 2002). O PIB brasileiro somou R$ 1,346 trilhão em 2002.
Das 100 cidades com os mais baixos PIBs per capita, 83 estão no Maranhão, e 12, no Piauí. Em Bacuri (MA), de 16 mil habitantes, era de R$ 581 em 2002. A média do país se situava em R$ 7.631.
Para alterar esse quadro, diz Almeida, o Estado precisa investir em serviços públicos e obras de infra-estrutura nessas áreas.
Outro problema a ser atacado, segundo ele, é o excessivo número de municípios. Almeida diz ser necessário fundir cidades pequenas e sem receita própria. Haveria "enorme ganho de escala" na prestação de serviços públicos.


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