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"Só recebíamos migalhas", diz presidente da YPFB
DO ENVIADO ESPECIAL A SANTA CRUZ DE LA SIERRA
O presidente da YPFB, Jorge Alvarado, disse que o Estado boliviano só estava recebendo "migalhas" pela exploração do gás e negou que o decreto de nacionalização visa atingir a Petrobras Bolívia. A seguir, a entrevista de Alvarado concedida à Folha, ontem,
por telefone.
Folha - O decreto de nacionalização foi assinado num campo de gás
da Petrobras. Suas duas refinarias
terão o controle acionário do Estado e o aumento da tributação para
82% atinge apenas a estatal brasileira. Trata-se de uma ação dirigida
contra essa empresa?
Jorge Alvarado - Não, de nenhuma maneira. Estamos atuando
com muita responsabilidade.
Nosso presidente atua com seriedade e não queremos prejudicar
em particular a nenhuma empresa. O que queremos é manter excelentes relações tanto com a empresa como com o governo Lula.
Folha - A forma como o decreto
foi anunciado não resulta de um
fracasso nas negociações com a Petrobras?
Alvarado - Não. Esse decreto tem
sido trabalhado desde o início do
governo atual. As conversações
que tivemos -porque não foram
negociações- foram uma troca
de idéias de como vamos melhorar e aprofundar nosso trabalho
entre a YPFB e a Petrobras.
Folha - No caso das duas refinarias, a Petrobras tinha a posição de
que só aceitaria continuar no negócio se tivesse o controle acionário...
Alvarado - Não, isso nunca ocorreu. No governo Carlos Mesa
(2003-2005), a Petrobras ofereceu
até a entrega de 100% das duas refinarias. Esse tema não é de agora.
Estamos tomando apenas 51%
para que a Petrobras continue
operando conosco e progressivamente possamos tomar o controle das duas refinarias, sempre em
razão desse desejo da Petrobras
de devolvê-las.
Folha - Mas, se havia essa disposição, por que o uso de um decreto?
Alvarado - Porque não é só com
as refinarias, incluímos outras
empresas. Deveríamos evitar suscetibilidades de que isso [o decreto de nacionalização] estaria dirigido exclusivamente à Petrobras.
Folha - Como será o pagamento
dos 51% das ações?
Alvarado - Isso vamos negociar.
Agora, sim, há uma negociação.
Vamos fazer uma conciliação para ver quanto deveríamos pagar.
Folha - Qual é a proposta da Bolívia para o pagamento?
Alvarado - Não posso informar
isso agora.
Folha - Como a YPFB conseguirá
assumir responsabilidades, já que
é uma empresa sem recursos financeiros e técnicos? A capitalização
será só via aumento de impostos?
Alvarado - Primeiro, não é um
aumento de impostos. É um incremento da participação do Estado, mas não como imposto, e
sim como dono absoluto dos hidrocarbonetos. Nós, como donos,
fixamos quanto deve receber o
Estado e quanto deve receber a
empresa, como qualquer dono de
um bem. Você, como dono da sua
casa, se quiser alugar, o fará à pessoa de sua escolha e no preço que
você deseja. Isso é o que vamos fazer. Até agora, nós só recebíamos
migalhas. Com relação à falta de
pessoal técnico, isso não é verdade. Temos técnicos bolivianos, inclusive no exterior, que estão dispostos a voltar imediatamente.
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