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TENSÃO ENTRE VIZINHOS
Motoristas temem que crise com a Bolívia faça preço subir muito e inviabilizar economia com o combustível
Taxistas suspendem troca para carro a gás
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
A expectativa de que o preço do
gás possa subir no Brasil devido à
decisão do governo boliviano de
nacionalizar as operações de petróleo e gás levou taxistas de São
Paulo a suspender a conversão
dos veículos para uso de gás.
"Há dois dias as conversões estão paradas. Não adianta gastar
R$ 3.000, no mínimo, para usar
gás como combustível, quando
nem o presidente Lula sabe o que
vai acontecer com o preço do gás
no Brasil daqui para a frente",
afirma Natalício Bezerra da Silva,
presidente do Sindicato dos Taxistas Autônomos de São Paulo.
Esse sindicato representa cerca
de 35 mil taxistas na capital paulista, dos quais cerca de 12 mil utilizam gás. "Recebemos no sindicato centenas de ligações de taxistas querendo saber sobre o preço
do gás", afirma.
O Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP) informa que a frota de carros a gás era de 1,118 milhão de veículos até março deste
ano. Os Estados do Rio de Janeiro
e de São Paulo concentram cerca
de 65% desses veículos. A expectativa da Associação Brasileira do
Gás Natural Veicular (ABGNV) é
que esse número esteja próximo
de 1,25 milhão de veículos e que
chegue a 1,3 milhão de veículos
até o final deste semestre.
Antonio Teixeira Mendes, coordenador-técnico da associação,
informa que a decisão do governo
boliviano criou uma expectativa
nos consumidores de gás. "Pode
dar, sim, uma parada agora na
conversão de veículos para uso de
gás, mas a tendência é isso se normalizar até o final deste mês."
Mendes informa que as oficinas
do país -cerca de 800 estão autorizadas a fazer a conversão- têm
capacidade para converter cerca
de 23 mil veículos por mês. Quem
opta pelo investimento de R$
3.000 para usar gás como combustível, diz ele, considera que vai
amortizar esse investimento com
a economia que fará na compra
do gás, que custa menos que a gasolina e que o álcool.
O IBP informa que o preço médio do metro cúbico do gás era de
R$ 1,26 no primeiro trimestre deste ano. No mesmo período, o litro
da gasolina custava R$ 2,58 e o do
álcool, R$ 2,00. Com um litro de
gasolina e um metro cúbico de
gás, um carro popular roda cerca
de 15 quilômetros, segundo informa Ricardo Aurimma, presidente
da Adetax, associação que reúne
as empresas de táxis de frota do
município de São Paulo.
"Parece que o governo boliviano quer aumentar o imposto sobre o gás, mas não se sabe se isso
terá impacto no preço no Brasil. O
fato é que, se o preço do gás chegar próximo ao do álcool, não é
mais vantajoso ter carro a gás."
O coordenador técnico da
ABGNV considera remota essa
possibilidade. "A Comgas [distribuidora de gás na região metropolitana de São Paulo] possui
contratos de longo prazo, com
preços fixos, com a Petrobras. Isso não muda de uma hora para a
outra", afirma Mendes. "O que
pode acontecer é a Petrobras ter
de pagar mais pelo gás que vem
da Bolívia e absorver esse custo."
Mendes informa que o gás extraído na Bolívia custa um décimo
do preço que é comercializado no
Brasil. "Se a Petrobras paga, por
exemplo, R$ 0,10 pelo metro cúbico do gás, esse gás é vendido a R$
1,00. Isso quer dizer que a Petrobras tem muita margem para absorver aumentos de preços", diz.
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