São Paulo, segunda, 4 de maio de 1998

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PAPÉIS AVULSOS
Queda nas ações da Brahma surpreende

CRISTIANE PERINI LUCCHESI
CÉLIA DE GOUVÊA FRANCO
da Reportagem Local

A desvalorização de 14,4% das ações da Brahma no mês passado, contra 2,25% da Bolsa, surpreendeu os analistas.
A empresa teve lucros 40% maiores o ano passado sobre 96, tem investido pesado na redução de custos e sua administração é considerada exemplar.
"Com a queda, pode ser uma boa oportunidade de compra da ação. Eu recomendo a manutenção até sair o balanço do primeiro trimestre", diz Andréa Teixeira, do Bozano, Simonsen.
A Brahma já divulgou o seu volume de vendas de cervejas e refrigerantes no primeiro trimestre.
A empresa, que comercializa as marcas Brahma e Skol, anunciou que vendeu 9,713 milhões de hectolitros de cerveja no mercado brasileiro no primeiro trimestre de 98, contra 9,491 milhões no mesmo período em 97, uma alta de 2,3% no verão do "El Niño".
A grande dúvida do mercado é se esse aumento também vai se verificar nos valores faturados.
"Os investimentos em aumento de capacidade, a entrada de novos "players' e marcas no mercado de cerveja aumentaram muito a concorrência desde meados de 97. Há uma verdadeira guerra de preços", disse Aline Prado, analista do Lloyds Asset Management.
A Bavaria, a marca recentemente reposicionada pela concorrente Antarctica, detinha, no bimestre de fevereiro e março, 6,8% do mercado brasileiro de cervejas, segundo dados do Instituto Nielsen.
A Brahma e Skol, com 47,2% do mercado, continuam líderes. Mas a Antarctica, com a Bavaria, passou a abocanhar fatia maior que no bimestre anterior.
A cerveja Brahma vem tendo uma queda lenta, mas persistente, em sua participação de mercado. Em 90, detinha 38% do mercado brasileiro de cervejas. No bimestre de fevereirvo e março, passou a ter 24,5%.
Essa pode ser a razão para a empresa ter tirado a conta da cerveja Brahma das mãos da Fischer, Justus, após oito anos de casamento. Passa a cuidar da conta a agência que já atende a Skol, a F/Nazca Saatchi & Saatchi.
A Skol vem obtendo crescimento em sua participação de mercado, abocanhando 22,7% no bimestre de fevereiro e março, segundo dados Nielsen.
Em 97, ainda segundo a Nielsen, a Brahma foi o nono maior anunciante do país, investindo US$ 88,8 milhões em publicidade, com um aumento de 15% sobre 96.
Neste ano, deverão ser investidos R$ 200 milhões, R$ 40 milhões só na cerveja Brahma.
Depois da investida na Venezuela e na Argentina, a Brahma prepara agora sua chegada no mercado europeu. Vai tentar vender 1,5 milhão de latinhas e 800 mil garrafas "long neck" de cerveja na França durante a Copa do Mundo. O objetivo é atrair não apenas os brasileiros.
No mercado de refrigerantes, também houve crescimento no volume de vendas da Brahma no primeiro trimestre do ano contra igual período de 97, de 2,278 milhões de hectolitros para 3,576 milhões de hectolitros.
Mas, sem considerar a Pepsi, cuja compra pela Brahma foi oficializada à Bolsa no dia 1 de outubro, a empresa teria registrado queda de 15% no volume de venda de seus refrigerantes.
Com as perspectivas de crescimento zero nos mercados de cerveja e refrigerantes neste ano, o lucro líquido de R$ 456 milhões obtido em 97 pela Brahma não deve se repetir neste ano, segundo avalia o mercado.
Em 97, a rentabilidade da empresa cresceu também por conta de resgate de R$ 127 milhões em ICMS, cujo recolhimento havia sido questionado na Justiça. Este ano, esse resgate não vai se repetir.
Segundo a Folha apurou, os boatos no mercado de venda do Banco Garantia, cujos sócios são donos da Brahma, para a Goldman Sachs ou para o banco norte-americano CS First Boston, têm contribuído para depreciar as cotações dos papéis da Brahma.
Em novembro, o Garantia teve de fazer um aumento de capital no valor de R$ 50 milhões para cobrir os prejuízos com a crise asiática nos mercados financeiros, segundo anunciou, na época, o diretor Cláudio Haddad.
O mercado especula também que, com o caixa apertado, os sócios do Garantia, que controlam a Brahma por intermédio do Garantia Participações, teriam a intenção de vender a empresa.




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