|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SINAL AMARELO
Governo quer controle de qualidade mais rigoroso do que nos EUA para evitar novas recusas de países importadores
Após vetos, país ampliará fiscalização da soja
ANDRÉ SOLIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Ministério da Agricultura
quer implementar no Brasil um
controle de qualidade da soja
mais rigoroso do que o dos Estados Unidos, apurou a Folha.
A decisão de aumentar a fiscalização e os índices de qualidade do
grão brasileiro foi tomada depois
de a China ter recusado quatro
carregamentos que estavam contaminados com sementes de soja
tratadas com fungicida, que são
impróprias para o consumo humano e animal.
As regras norte-americanas, segundo a embaixada do país, permitem que um quilo de soja para
consumo contenha até três sementes tratadas com fungicida.
No Brasil, o controle da qualidade
deverá ser feito em duas fases. Na
primeira, seria verificada a quantidade de sementes tratadas com
fungicida por quilo de soja. Caso
fossem encontradas mais de três,
como nos EUA, a soja seria automaticamente considerada inadequada para consumo.
No Brasil, no entanto, mesmo
que apenas uma semente tratada
fosse localizada num quilo, a
amostra deveria ser testada para
verificar o grau de toxicidade de
todo o carregamento.
Ao contrário do teste de contagem de grãos, que pode ser feito
visualmente, pois as sementes tratadas adquirem coloração específica, o teste de toxicidade da
amostra exige exames laboratoriais que podem custar até R$
2.000. Os resultados do exame seriam, então, comparados com os
níveis de contaminação permitidos pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que
estabelece a quantidade de partículas por milhão que um alimento pode conter de uma determinada toxina.
O texto final da instrução normativa ainda não foi concluído,
pois ainda não obteve o apoio de
todos os setores envolvidos na negociação. Uma alternativa é estabelecer que carregamentos que
contenham no máximo uma ou
duas sementes tratadas por quilo
sejam automaticamente liberadas, sem a necessidade dos testes
laboratoriais. O governo prefere a
alternativa dos testes.
Os padrões mais rigorosos, porém, não atendem as exigências
que a China faz no momento.
Atualmente, o maior comprador
de soja do Brasil afirma que não
aceitará nenhuma semente tratada nos carregamentos.
O governador do Rio Grande do
Sul, Germano Rigotto (PMDB),
que tratou do assunto com o governo, disse acreditar que o padrão brasileiro será aceito pelos
chineses, pois se baseiam em padrões internacionais. Ele indicou
que a intransigência chinesa pode
estar ligada a tentativas de derrubar o preço internacional.
A Folha obteve o resultado de
uma análise feita pelo próprio governo norte-americano sobre a
qualidade do seu produto em
quase 600 carregamentos. A pesquisa mostrou que cerca de 50%
dos carregamentos de soja nos
EUA não contêm nenhum tipo de
partícula tóxica por quilo do produto. A semente tratada é considerada partícula tóxica. Apenas
1,7% dos carregamentos tem três
partículas. Não foi encontrado
nenhum caso com mais de três.
As autoridades brasileiras aceitaram até agora as restrições impostas pelo governo chinês à soja
brasileira, pois estariam conscientes de que, pelo menos, parte dos
carregamentos impedidos de entrar no país continha uma contaminação maior do que a considerada aceitável. Pelo menos sete
empresas brasileiras estão proibidas de entrar no mercado chinês.
Texto Anterior: O vaivém das commodities Próximo Texto: PR barra cargas contaminadas com fungicidas Índice
|