São Paulo, sexta-feira, 04 de junho de 2004

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SINAL AMARELO

Governo quer controle de qualidade mais rigoroso do que nos EUA para evitar novas recusas de países importadores

Após vetos, país ampliará fiscalização da soja

ANDRÉ SOLIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Ministério da Agricultura quer implementar no Brasil um controle de qualidade da soja mais rigoroso do que o dos Estados Unidos, apurou a Folha.
A decisão de aumentar a fiscalização e os índices de qualidade do grão brasileiro foi tomada depois de a China ter recusado quatro carregamentos que estavam contaminados com sementes de soja tratadas com fungicida, que são impróprias para o consumo humano e animal.
As regras norte-americanas, segundo a embaixada do país, permitem que um quilo de soja para consumo contenha até três sementes tratadas com fungicida. No Brasil, o controle da qualidade deverá ser feito em duas fases. Na primeira, seria verificada a quantidade de sementes tratadas com fungicida por quilo de soja. Caso fossem encontradas mais de três, como nos EUA, a soja seria automaticamente considerada inadequada para consumo.
No Brasil, no entanto, mesmo que apenas uma semente tratada fosse localizada num quilo, a amostra deveria ser testada para verificar o grau de toxicidade de todo o carregamento.
Ao contrário do teste de contagem de grãos, que pode ser feito visualmente, pois as sementes tratadas adquirem coloração específica, o teste de toxicidade da amostra exige exames laboratoriais que podem custar até R$ 2.000. Os resultados do exame seriam, então, comparados com os níveis de contaminação permitidos pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que estabelece a quantidade de partículas por milhão que um alimento pode conter de uma determinada toxina.
O texto final da instrução normativa ainda não foi concluído, pois ainda não obteve o apoio de todos os setores envolvidos na negociação. Uma alternativa é estabelecer que carregamentos que contenham no máximo uma ou duas sementes tratadas por quilo sejam automaticamente liberadas, sem a necessidade dos testes laboratoriais. O governo prefere a alternativa dos testes.
Os padrões mais rigorosos, porém, não atendem as exigências que a China faz no momento. Atualmente, o maior comprador de soja do Brasil afirma que não aceitará nenhuma semente tratada nos carregamentos.
O governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto (PMDB), que tratou do assunto com o governo, disse acreditar que o padrão brasileiro será aceito pelos chineses, pois se baseiam em padrões internacionais. Ele indicou que a intransigência chinesa pode estar ligada a tentativas de derrubar o preço internacional.
A Folha obteve o resultado de uma análise feita pelo próprio governo norte-americano sobre a qualidade do seu produto em quase 600 carregamentos. A pesquisa mostrou que cerca de 50% dos carregamentos de soja nos EUA não contêm nenhum tipo de partícula tóxica por quilo do produto. A semente tratada é considerada partícula tóxica. Apenas 1,7% dos carregamentos tem três partículas. Não foi encontrado nenhum caso com mais de três.
As autoridades brasileiras aceitaram até agora as restrições impostas pelo governo chinês à soja brasileira, pois estariam conscientes de que, pelo menos, parte dos carregamentos impedidos de entrar no país continha uma contaminação maior do que a considerada aceitável. Pelo menos sete empresas brasileiras estão proibidas de entrar no mercado chinês.


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