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Hidrelétricas trazem ameaça à selva e a 1.500 espécies, afirmam ambientalistas
DA ENVIADA ESPECIAL A RONDÔNIA
Mesmo que o projeto de
construção de duas hidrelétricas no rio Madeira ainda esteja
em discussão em Brasília, as
empresas Odebrecht e Furnas
temem manifestações ambientalistas contrárias. Resolveram
adiantar-se aos políticos e doutrinar a população.
A Folha apurou que líderes
locais são cooptados para chamar quem estiver interessado
em ouvir sobre as usinas. Nos
encontros, geralmente realizados em escolas e nos fins de semana, são feitas palestras por
funcionários da Odebrecht e de
Furnas. Agradam a alguns; causam sarcasmo em outros.
Quem gosta, na maioria, são
os jovens brancos e os colonos.
Querem progresso, trabalho e
oportunidade de "sair do mato". Quem desgosta são os índios (que se consideram espremidos em reservas cada vez
mais rodeadas pelos brancos),
os ribeirinhos mais velhos, os
moradores que participam de
organizações de cunho ambiental e os que já foram desapropriados uma vez -na década de 80, também para a construção de usinas- e jamais viram a cor do dinheiro das indenizações.
Os ambientalistas questionam o fato de o Madeira ser um
rio com muitos sedimentos.
Em poucos anos, resíduos entupiriam as barragens e o nível
do rio tenderia a subir, inundando outras casas além das
que constam do projeto. Outro
dano: cerca de 700 espécies de
peixes e 800 de aves estariam
ameaçadas, devido às mudanças bruscas em seu habitat.
Os empreiteiros negam essas
hipóteses. Seus estudos mostram que os sedimentos são
feitos de argila, moles o bastante para passar pelas barragens.
Outro argumento dos ambientalistas é que o Brasil não
precisa destinar novos rios de
dinheiro, literalmente, para
obter mais energia. O país poderia aumentar sua capacidade
energética em 30% a 40%. Bastaria aproveitar melhor o que
já produz. Essa conversa não
encontra eco no Ministério de
Minas e Energia. Os técnicos
sustentam que o Brasil precisa,
sim, de energia nova.
Por fim, recordam, haveria
danos à selva. Grileiros -instalados no local, como a Folha
pôde comprovar -atrairiam
madeireiros, que serviriam como isca aos agricultores e pecuaristas. E aí, adeus à floresta.
Viriam as queimadas, os pastos
e a soja -muita soja.
Terrenos grilados
A Folha visitou Jaci-Paraná,
cidade próxima a Porto Velho e
uma das possíveis atingidas pelas hidrovias. Negociou dois
terrenos grilados -um, grande,
para comércio, "perto da cidade" foi vendido por R$ 22 mil.
Outro, menor, "mais para o
meio do mato", foi oferecido
por R$ 2.500. Vale ressaltar
que a transação ocorreu em
uma farmácia, a Drogaria São
Paulo. O representante dos grileiros, contudo, só atende no
balcão quem vai atrás de remédios. Investidores potenciais
sentam-se confortavelmente
em uma pequena mesa, que fica no meio da loja.
O complexo do Madeira prevê também a instalação de uma
hidrovia. Dessa idéia, porém,
os ambientalistas gostam. O
governo, todavia, não parece
estar muito interessado. Pelo
contrário. Difícil entender,
porque a hidrovia é a parte
mais barata do projeto -consumiria algo em torno de R$ 50
milhões dos R$ 20 bilhões.
O argumento dos governantes é que ela incentivaria os colonos do Sul a "subirem o Madeira". Eles se instalariam no
meio da floresta e ceifariam,
em nome do progresso, o que
vissem pela frente.
Ambientalistas têm uma visão menos pessimista. Eles
acreditam que a hidrovia é o
caminho mais lógico para
transportar grãos e similares
sem precisar abrir novas estradas por entre as árvores.
(JL)
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