São Paulo, quinta-feira, 04 de junho de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Bolsa recua 3,5%, maior desvalorização em três meses

Após oito dias de queda, dólar sobe e fecha a R$ 1,964

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

Dois dias após atingir o novo recorde do ano, a Bolsa brasileira cedeu ontem 3,54% e voltou aos 52.086 pontos. Foi a maior correção nos preços das ações em um único dia desde 2 de março, quando o índice recuou 5,1%, ainda antes de ganhar força a recuperação nos mercados globais.
A correção no preço de ações brasileiras foi uma das mais violentas ontem no mundo, seguindo a forte desvalorização nos preços de commodities como petróleo, que recuou também 3,54% em Nova York. Só a Bolsa de Buenos Aires, também beneficiada nas últimas semanas por investimentos estrangeiros, teve baixa maior, de 4,06%.
O mau humor foi detonado ontem pela recuperação ainda lenta do setor de serviços e pela debilidade do mercado de trabalho norte-americano em maio -pesquisa da consultoria privada ADP mostrou o corte de 532 mil postos; a pesquisa oficial de emprego sai amanhã.
A Bolsa de Nova York teve baixa de 0,75% no índice Dow Jones e de 1,37% no Standard & Poor's 500. A Bolsa Nasdaq recuou 0,59%.
"As commodities caíram no mundo inteiro. Todo mundo se assustou. Vemos que a economia mundial não está tão forte assim", disse José Roberto Carreira, gerente de câmbio da Fair Corretora.
Ações de Vale e Petrobras, as de maior liquidez do mercado brasileiro, estiveram entre as maiores baixas ontem. Os papéis ON da Vale recuaram 4,15%, e os da Petrobras, 4,43%.
Para Álvaro Bandeira, diretor da corretora Ágora, o Brasil devolveu com força ontem parte dos ganhos acumulados no ano, embalado pelo crescente fluxo de investimento estrangeiro. Ele relata que a maior parte das vendas de papéis ontem foi de fundos estrangeiros.
"A gente teve um descolamento muito grande dos outros mercados nas últimas semanas. Agora devolvemos um pouco. Hoje [ontem] foi um dia absolutamente normal nos mercados externos e não tão normal para a gente. Como temos muita gordura ainda, pode ser que a correção seja um pouco maior aqui", disse Bandeira.
Segundo Fausto Gouveia, economista da Legan Asset, o mercado deu uma "freada" para tomar fôlego e reavaliar se os preços das ações estão refletindo as perspectivas de lucros das empresas.
"O mercado saiu de 40 mil pontos [do Ibovespa] para 54 mil em uma pernada só. Na euforia, o estrangeiro não quer perder o trem e acaba pagando qualquer coisa. [A correção] Traz essa cotação inflada para um patamar mais real."

BC age
No Brasil, o pessimismo global ajudou o Banco Central a levar o dólar de volta para R$ 1,964. A moeda terminou o dia com alta de 2,09%. Foi a primeira valorização da divisa americana após oito dias seguidos de desvalorização.
Operadores relatam que o BC teria aproveitado o ambiente favorável ontem para comprar um pouco mais de dólares do que os US$ 50 milhões diários habituais, o que teria ajudado na valorização da moeda. O volume não foi divulgado. "O Banco Central agiu com a correnteza. Pode ter comprado um pouco mais", disse Carreira, da Fair Corretora.
Para Bandeira, a correção desta semana trará o preço de ações brasileiras a patamares mais razoáveis, favorecendo uma eventual recuperação nos próximos dias.
"Pessoalmente, acho que cria um espaço para a Bolsa voltar a subir nos próximos dias. Vejo só um reajuste e depois o mercado ganha força de novo."


Texto Anterior: Agronegócios: Rússia libera importação de carne suína de SC
Próximo Texto: Vaivém das commodities
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.