São Paulo, quinta, 4 de junho de 1998

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MERCADO DE TRABALHO
Especialistas e sindicalistas dizem que governos adotam políticas erradas no combate ao desemprego
Qualificação deve priorizar as pequenas

MAURICIO ESPOSITO
enviado especial a São Pedro

Os governos estão errando no combate ao desemprego ao não priorizarem a qualificação profissional voltada para o trabalho em pequenas empresas.
Especialistas em mercado de trabalho e sindicalistas reunidos nesta semana em seminário internacional sobre o assunto afirmam que as pequenas empresas têm potencial para gerar vagas e absorver os trabalhadores demitidos pelas grandes indústrias.
O seminário, que ocorre em São Pedro (210 km a noroeste de São Paulo), é organizado pela Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT (Central Única dos Trabalhadores) e contou com cerca de 70 sindicalistas estrangeiros, de mais de 20 países.
O consultor Fernando Casanova, do Centro Interamericano de Investigação e Documentação sobre Formação Profissional, do Uruguai, afirma que, de cada 100 novos postos de trabalho criados na América Latina, 85 são no setor informal da economia, onde predominam microempresas.
"Programas de treinamento e capacitação de desempregados, por exemplo, têm que ser voltados para o setor informal", afirma.
Segundo o consultor, o modelo brasileiro de formação profissional do sistema S (Senai e Senac) está ultrapassado, assim como órgãos semelhantes existentes na América Latina.
A razão é que esses sistemas, criados nas décadas de 40 e 50, são voltados para empresas de grande porte, segundo o consultor.
Atualmente, disse Casanova, não há nem mesmo a preocupação dos governos de melhorar a qualidade das ocupações que são criadas no setor de serviços.
"Dependendo do país, de 65% a 95% das vagas criadas no setor de serviços são informais", disse ele.
Essa discussão também está presente no Brasil, segundo Delúbio Soares de Castro, presidente do Codefat, órgão tripartite que gerencia os recursos do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador).
"Todos os anos fala-se em destinar mais recursos do FAT a setores médios e pequenos da economia, que são os responsáveis pela geração de renda do demitido da grande empresa", afirmou.
Segundo o presidente do Codefat, que é o representante da CUT no conselho, o sistema S, com orçamento anual de cerca de R$ 2,8 bilhões para a formação profissional, "ainda é um monopólio dos empresários e não trabalha com as pequenas e microempresas".
Segundo ele, mesmo com o repasse de recursos do FAT, o BNDES financia pouco os pequenos empresários.
Na Suécia, uma experiência desenvolvida por um sindicato junto a pequenas e microempresas tem contribuído para diminuir o desemprego, segundo relato da delegação sueca de sindicalistas presente ao seminário.
O sindicato, que representa profissionais liberais com formação escolar superior, como engenheiros, economistas e advogados, iniciou um mapeamento de pequenas empresas em determinadas regiões do país.
A procura, segundo o dirigente Ulf Sarlém, era por pequenas empresas com idéias economicamente viáveis, mas que enfrentassem problemas de falta de mão-de-obra qualificada.
Após análise dos casos levantados, o sindicato oferecia àquelas empresas mão-de-obra qualificada, majoritariamente demitida de grandes indústrias.
"Cerca de 80% dos desempregados que participaram do programa arrumaram uma colocação", relatou o sindicalista.



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