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São Paulo, sexta-feira, 04 de julho de 2003

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RECEITA ORTODOXA

Após 30 meses, preços voltam a recuar para o consumidor; alimentos e gasolina são os principais responsáveis

Deflação chega ao varejo em SP, diz Fipe

ALESSANDRA KIANEK
DA REDAÇÃO

Após 30 meses de aumento de preços consecutivos, o IPC (Índice de Preços ao Consumidor) da Fipe registrou deflação de 0,16% em São Paulo em junho, a primeira taxa negativa desde novembro de 2000 e a maior desde fevereiro do mesmo ano.
O resultado ficou acima das expectativas dos economistas e da própria Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), que esperava deflação de 0,05%. O indicador reflete, além da queda do dólar, o arrocho da política de juros altos que tem deprimido fortemente a atividade econômica.
Desde o início do governo Lula, esse é o primeiro índice que mede a variação de preços para o consumidor a apresentar deflação. Até agora, apenas os IGPs, em que o peso de preços no atacado é maior, haviam registrado taxas negativas nos últimos dois meses.
Os principais itens responsáveis pela deflação do IPC foram a queda dos alimentos, principalmente os "in natura" (frutas, legumes) e os semi-elaborados, e a retração dos preços dos combustíveis.
O principal motivo para a queda dos alimentos é a desvalorização do dólar no ano. No segundo semestre de 2002, com a alta do câmbio, os preços chegaram a subir muito e agora estão encontrando espaço para cair.
Segundo analistas, a desaceleração de preços tem sido generalizada e afetado nas últimas semanas até itens que, segundo o Banco Central, vinham pressionando a inflação. É o caso de produtos de higiene e beleza e mobiliário.
Esse movimento de queda da taxa de inflação tem aumentado a expectativa de corte de juros -pelo movimento dos mercados futuros, já se acredita em redução superior a um ponto percentual na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária).
O BC segue o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) do IBGE, que, em maio, teve alta de 0,61%. O resultado de junho deve sair no próximo dia 9.
O coordenador do IPC da Fipe, Heron do Carmo, não descarta a possibilidade de o IPCA também mostrar deflação em junho, mas, na opinião dele, é mais difícil. Economistas do mercado, no entanto, já acreditam em variação negativa do IPCA.
Apesar da deflação do IPC, Heron acredita que o país não esteja em recessão. Segundo ele, "ainda estamos em um processo inflacionário, mas com quedas de preços, longe de um período de deflação".
Neste mês e no próximo, os aumentos das tarifas públicas irão pressionar o índice. Para julho, a Fipe prevê inflação de 0,4% -já levando em conta o aumento de pedágio, telefone e energia.
Para agosto, quando o impacto dos aumentos das tarifas se intensificar no índice, a estimativa é uma taxa próxima a 1%.
Com o dólar no patamar de R$ 2,80, o coordenador do IPC reviu para baixo a estimativa da taxa de inflação deste ano para 8,5%, contra os 9% esperados desde o início de 2003. A meta de inflação do governo para este ano também é de 8,5%, mas o BC já espera uma variação do IPCA de 10,2%.

Partida de futebol
Para ilustrar o cenário atual da economia, Heron recorreu à paixão do brasileiro, o futebol: "É como se o Brasil estivesse empatando em zero a zero no sufoco e passasse, a partir de agora, a atacar".
Questionado sobre o fato de o presidente Lula ter afirmado que o "espetáculo do crescimento" da economia começaria em julho, Heron respondeu prontamente: "Julho de que ano?".


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