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RECEITA ORTODOXA
Após 30 meses, preços voltam a recuar para o consumidor; alimentos e gasolina são os principais responsáveis
Deflação chega ao varejo em SP, diz Fipe
ALESSANDRA KIANEK
DA REDAÇÃO
Após 30 meses de aumento de
preços consecutivos, o IPC (Índice de Preços ao Consumidor) da
Fipe registrou deflação de 0,16%
em São Paulo em junho, a primeira taxa negativa desde novembro
de 2000 e a maior desde fevereiro
do mesmo ano.
O resultado ficou acima das expectativas dos economistas e da
própria Fipe (Fundação Instituto
de Pesquisas Econômicas), que
esperava deflação de 0,05%. O indicador reflete, além da queda do
dólar, o arrocho da política de juros altos que tem deprimido fortemente a atividade econômica.
Desde o início do governo Lula,
esse é o primeiro índice que mede
a variação de preços para o consumidor a apresentar deflação. Até
agora, apenas os IGPs, em que o
peso de preços no atacado é
maior, haviam registrado taxas
negativas nos últimos dois meses.
Os principais itens responsáveis
pela deflação do IPC foram a queda dos alimentos, principalmente
os "in natura" (frutas, legumes) e
os semi-elaborados, e a retração
dos preços dos combustíveis.
O principal motivo para a queda
dos alimentos é a desvalorização
do dólar no ano. No segundo semestre de 2002, com a alta do
câmbio, os preços chegaram a subir muito e agora estão encontrando espaço para cair.
Segundo analistas, a desaceleração de preços tem sido generalizada e afetado nas últimas semanas
até itens que, segundo o Banco
Central, vinham pressionando a
inflação. É o caso de produtos de
higiene e beleza e mobiliário.
Esse movimento de queda da
taxa de inflação tem aumentado a
expectativa de corte de juros
-pelo movimento dos mercados
futuros, já se acredita em redução
superior a um ponto percentual
na próxima reunião do Copom
(Comitê de Política Monetária).
O BC segue o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor
Amplo) do IBGE, que, em maio,
teve alta de 0,61%. O resultado de
junho deve sair no próximo dia 9.
O coordenador do IPC da Fipe,
Heron do Carmo, não descarta a
possibilidade de o IPCA também
mostrar deflação em junho, mas,
na opinião dele, é mais difícil.
Economistas do mercado, no entanto, já acreditam em variação
negativa do IPCA.
Apesar da deflação do IPC, Heron acredita que o país não esteja
em recessão. Segundo ele, "ainda
estamos em um processo inflacionário, mas com quedas de preços,
longe de um período de deflação".
Neste mês e no próximo, os aumentos das tarifas públicas irão
pressionar o índice. Para julho, a
Fipe prevê inflação de 0,4% -já
levando em conta o aumento de
pedágio, telefone e energia.
Para agosto, quando o impacto
dos aumentos das tarifas se intensificar no índice, a estimativa é
uma taxa próxima a 1%.
Com o dólar no patamar de R$
2,80, o coordenador do IPC reviu
para baixo a estimativa da taxa de
inflação deste ano para 8,5%, contra os 9% esperados desde o início
de 2003. A meta de inflação do governo para este ano também é de
8,5%, mas o BC já espera uma variação do IPCA de 10,2%.
Partida de futebol
Para ilustrar o cenário atual da
economia, Heron recorreu à paixão do brasileiro, o futebol: "É como se o Brasil estivesse empatando em zero a zero no sufoco e passasse, a partir de agora, a atacar".
Questionado sobre o fato de o
presidente Lula ter afirmado que
o "espetáculo do crescimento" da
economia começaria em julho,
Heron respondeu prontamente:
"Julho de que ano?".
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