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São Paulo, sexta-feira, 04 de julho de 2003

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ANÁLISE

Desde a posse de Bush, 2,4 milhões de empregos desapareceram

DAVID LEONHARDT
DO "NEW YORK TIMES"

Para George W. Bush, começou a corrida para escapar de comparações com Herbert Hoover, que presidiu o país de 1929 a 33. Com o desaparecimento de 2,4 milhões de empregos desde que assumiu o governo em janeiro de 2001, Bush enfrenta o risco de ser o primeiro presidente desde Hoover a administrar uma queda no nível de emprego.
Os economistas discordam sobre a parcela de culpa, se alguma, que cabe a Bush, mas mesmo assessores da Casa Branca consideram a economia uma das poucas ameaças graves na campanha para a reeleição. O verdadeiro teste para o governo Bush vai começar.
Bush disse que o recém-aprovado corte de impostos é o principal motivo para otimismo, e membros do governo se referiram repetidamente a ele como um plano de "empregos e crescimento", para salientar seu objetivo.
"Escutem, estou interessado em uma coisa", disse o presidente durante um comício no mês passado para promover o corte. "Estou interessado em ajudar as pessoas a encontrar trabalho."
Segundo a previsão da Casa Branca, o aumento de gastos dos consumidores e investimentos das empresas, juntamente com o crescimento subjacente da economia, facilmente colocarão em números positivos o histórico de empregos no governo Bush. Mesmo que a economia aumente os postos no índice médio dos últimos 50 anos, o histórico de Bush ficará próximo do de outros presidentes republicanos da era moderna, que ocuparam o cargo durante períodos fracos de aumento de empregos.

Marcha lenta
Mas a duração dessa desaceleração econômica surpreendeu quase todos os economistas, e alguns começaram a dizer que existe uma probabilidade significativa de que a economia não elimine o déficit de empregos até o final de 2004. A Economy.com situa as probabilidades disso ocorrer em 33%, a Global Insight em 25% e a Macroeconomic Advisers em 20%. Os postos teriam de aumentar em 120 mil por mês, em média, para que até o final do próximo ano a força de trabalho voltasse a seu tamanho de janeiro de 2001.
Embora a diferença entre números positivos e negativos possa ser um tanto arbitrária, as estatísticas provavelmente terão um papel central nos discursos da campanha de 2004, segundo estrategistas políticos e economistas.
A deputada da Califórnia Nancy Pelosi, líder democrata na Câmara, começou a resumir o histórico econômico de Bush como "US$ 3 trilhões de dívida a mais, 3 milhões de empregos a menos". (Enquanto as folhas de pagamento do setor privado diminuíram em mais de 3 milhões, o declínio geral foi de 2,4 milhões, devido às contratações pelo governo.)
A nova redução de impostos, de US$ 350 bilhões, beneficia principalmente a pessoas de alta renda, que pagam mais tributos. Além disso, o crescimento econômico foi mais lento nos últimos meses do que as autoridades esperavam, e geralmente as empresas só contratam trabalhadores depois que os executivos se convencem de que uma recuperação saudável está em curso.

Azar
Membros do governo atribuíram o torpor econômico à bolha dos preços das ações e de investimentos empresariais nos anos 90, aos escândalos contábeis e à incerteza causada pelas guerras no Afeganistão e no Iraque. Economistas de fora concordam predominantemente que a queda de contratações, a pior em 20 anos e a mais longa desde antes da Segunda Guerra Mundial, não é basicamente culpa de Bush.
"Ele não teve sorte", disse John H. Makin, um estudioso residente no Instituto Americano de Empresas, um grupo de pesquisa conservador de Washington. ""Diria que a bolha foi culpa dos democratas. As pessoas ficaram animadas demais."
A principal discussão é se Bush fez tudo o que podia para mitigar a desaceleração. Seus assessores dizem que, sem os três cortes fiscais aprovados desde o início de 2001, a redução de empregos teria sido ainda pior. Ao diminuir os impostos sobre ganhos de capital e dividendos, haveria aumento nos investimentos, incentivando as empresas a expandir-se, segundo os assessores.

Alternativas
Democratas (de oposição) afirmam que há maneiras mais eficazes de estimular a economia do que cortes fiscais concentrados nos ricos. Sugeriram mandar dinheiro para os governos estaduais, que agora estão cortando programas para anular seus grandes déficits orçamentários, e dar maiores cortes de impostos às famílias pobres e da classe média.
Juntamente com a sorte, medidas semelhantes são um dos motivos pelos quais os seis presidentes com melhor histórico de geração de empregos desde 1933 são todos democratas. É o que dizem alguns membros do partido.
Mas tanto democratas quanto republicanos concordam que as chances de reeleição de Bush aumentarão se seu histórico de empregos ficar em algum ponto entre os de Gerald Ford e Ronald Reagan, assim como distante do de Herbert Hoover.


Tradução de Luiz Roberto Gonçalves


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