São Paulo, domingo, 04 de julho de 2004

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CONSUMO

Clientes com maior poder aquisitivo em busca satisfação pessoal elevaram em 19% as vendas de marcas internacionais em 2003

"Novo luxo" movimentará R$ 3 tri em 2010

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Há um grupo de consumidores no mundo que desembolsam US$ 32 mil (R$ 96 mil) pelo modelo BMW série 3, mas não deixam passar a promoção de camisetas brancas no Wal-Mart, a US$ 6,84 cada uma. Com renda anual entre US$ 50 mil e US$ 150 mil (R$ 150 mil a R$ 450 mil), eles não são milionários, gostam de pechinchar e formam o público que salvou várias empresas de resultados de vendas medíocres em 2003.
Identificada como classe alta ou média alta, essa turma de consumidores gasta em todo o mundo US$ 840 bilhões por ano -cerca de R$ 2,5 trilhões, ou uma vez e meia o PIB brasileiro- na compra de produtos do "novo luxo" do varejo. São chamados assim por serem vistos hoje mais como meio para a satisfação pessoal e a auto-estima do que propriamente para a afirmação de status.
Esse público foi alvo de relatório de 47 páginas da consultoria BCG Group, que mostra que:
1) No ranking das 15 marcas preferidas estão Coach (roupas e acessórios), Starbucks (café) BMW (automóveis) e Lowe's (loja de artigos para casa), entre outras. Elas vendem produtos que variam de R$ 3,75 (café mais barato na Starbucks) a R$ 510 mil (último modelo sedã da BMW).
2) Esse grupo de companhias registrou um aumento nas vendas de 19% em 2003, em média. O resto do mercado (alimentos e não-alimentos) teve alta de só 3%.
3) Os acionistas dessas empresas tiveram um retorno médio ao ano, de 2000 a 2003, de 26%. O índice Standard & Poor's, das 500 maiores empresas, registrou elevação de 4% no período.
4) Em 2010, esse público vai gastar US$ 1 trilhão (mais de R$ 3 trilhões) ao ano em mercadorias de alto valor agregado no mundo.
Calcula-se uma expansão anual na venda desses produtos de 15%, em média, nos próximos anos, segundo informações da BCG obtidas com empresas que atendem esse público em 23 categorias.
Publicado por Michael Silverstein e Neil Fiske, sócios da BCG nos EUA, o documento reforça que, mesmo em crises econômicas, a demanda dessa categoria mantém ritmo acelerado.
"Nos anos de 2002 e 2003, esse grupo de pessoas foi mais cuidadoso na hora de gastar dinheiro, mas eles não pararam de comprar, mesmo com instabilidade econômica em alguns mercados. Isso porque eles querem adquirir coisas para se sentir bem, para se sentir orgulhosos", disse à Folha Michael Silverstein, vice-presidente da BCG em Chicago, EUA.
Na avaliação dele, trazer essa realidade para o cenário brasileiro tem suas complicações, mas é possível. "Um aumento na renda per capita da classe média brasileira vai impulsionar a demanda pelos luxos disponíveis do país", afirma. "De qualquer forma, o Brasil já tem núcleos formados por uma população extremamente rica, consumista e consciente dos valores das marcas", diz.
Formado por aqueles que ganham acima de dez salários mínimo (R$ 2.600), segundo a BCG, a classe A e B no país somava cerca de 7,1 milhões de famílias brasileiras em 2003, com base em dados do IBGE. O Brasil tem 48,5 milhões de famílias no total.
Já nos EUA, essa classe média que ganha de US$ 50 mil a US$ 150 mil reúne 48 milhões de famílias. No total, existem 75,6 milhões de famílias americanas.
Para Renata Ribeiro, diretora da área de consumo da BCG no Brasil, as comparações entre países são delicadas. "Não temos o mesmo padrão de renda dos americanos. O que existe de similar é só o desejo de consumo", afirma.


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