São Paulo, segunda-feira, 04 de julho de 2005

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CÂMBIO

Ao contrário do que ocorria, tendência do "black" está próxima da do comercial

Nem crise política anima cotação do dólar paralelo

DA REPORTAGEM LOCAL

Apesar de as cotações do dólar no câmbio comercial e no paralelo serem diferentes, a tendência das duas operações no mercado está muito próxima.
Analistas explicam que isso tem ocorrido porque tanto empresas quanto pequenos investidores não estão interessados na moeda norte-americana neste momento.
O dólar comercial -por onde passa o grosso do mercado, especialmente exportadores, importadores e bancos- fechou a R$ 2,357 na sexta-feira.
Nesse segmento, a moeda norte-americana registra desvalorização de 12,06% em 2005 (até 30 de junho).
Já no segmento paralelo, conhecido antigamente como "black", a moeda encerrou o último dia de negócios da semana passada a R$ 2,74. No ano, o dólar paralelo está com baixa de 8,97% diante do real (até 30 de junho).
"Mesmo no mercado paralelo, a procura por dólares tem sido baixa. As pessoas, assim como as empresas, não estão à caça da moeda, motivadas pela crise política", diz Mário Battistel, diretor de câmbio da corretora Novação.
O analista afirma que quem busca dólares neste momento está muito mais interessado no preço baixo da moeda.
A piora da crise política -não param de pipocar denúncias envolvendo o governo federal- parece não ser suficiente para fazer com que o dólar ganhe terreno diante do real.
Nem mesmo a informação de que o Tesouro Nacional elevou sua previsão de compras de dólares em 2005 chegou a empurrar a cotação da moeda dos EUA para cima, como era esperado.
Próximo de seu menor patamar desde abril de 2002, o dólar não encontra compradores -ao menos não em tamanho suficiente para barrar a apreciação do real.

Reclamações
Quem não está gostando nem um pouco do atual cenário do mercado de câmbio são os exportadores. A reclamação do setor é de que o real apreciado acaba por diminuir os ganhos e a competitividade no comércio com o exterior. Mas, como o saldo da balança comercial -a diferença entre o que é exportado e o que é importado- segue batendo recordes, o governo não dá sinais de estar preocupado com as constantes críticas do setor industrial.
Em junho, o saldo da balança comercial atingiu US$ 4,031 bilhões, o melhor resultado mensal já registrado no país.
Dessa forma, e levando em conta que o dólar baixo é favorável ao arrefecimento da inflação, analistas avaliam que é difícil o Banco Central entrar no mercado neste momento e comprar a moeda.
Desde março, o BC deixou de atuar no mercado de câmbio. Uma das formas de agir é por meio da compra de moeda, que ajuda a evitar desvalorizações mais fortes no câmbio.
Além do saldo positivo da balança comercial, a entrada de dinheiro estrangeiro no mercado doméstico tem sido forte há algum tempo. O capital estrangeiro tem desembarcado por aqui na tentativa de lucrar com as taxas de juros recorde praticadas no país. Esse movimento amplia a disponibilidade de dólares no mercado em um momento de baixa procura. E quanto mais aumenta a oferta, quando há pouca demanda, a tendência é de o preço cair.
Após corrigirem um pouco suas posições na eclosão da atual crise política, os bancos voltaram a ficar "vendidos" (isso significa que apostaram na tendência de baixa do dólar).
Por outro lado, o boletim Focus -que é uma pesquisa semanal realizada pelo BC junto às instituições financeiras-, da semana passada mostrou que a projeção mediana do mercado é a de que o dólar esteja a R$ 2,65 no fim de 2005. Isso pode ser interpretado como uma possibilidade de que a apreciação do real perderá intensidade.
Na sexta-feira, o dólar registrou valorização de 0,99%.
(FABRICIO VIEIRA)


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