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PREÇOS
Alimentos e produtos de higiene recuam, assim como custos das empresas
Dólar mais barato já causa deflação
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Se por um lado o dólar mais baixo tira, em parte, a competitividade das exportações e é motivo de
chiadeira dos empresários do comércio exterior, a queda da moeda dos EUA tem, por outro lado,
um efeito benéfico para os preços
e é responsável pelo recente recuo
dos índices de inflação.
Dados do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor ao Consumidor), do IBGE, revelam deflação
de itens que vão desde alimentos,
com preços referenciados no
mercado internacional, a produtos de higiene e limpeza.
Na lista, estão itens que sofrem
impacto direto da moeda, como o
milho (-3,42%), cotado em dólar
no mercado externo. E outros cuja influência é indireta, que tiveram quedas acumuladas ou estabilidade de janeiro a maio. É o caso do macarrão (-0,62%), carnes
(-3,25%), carne de porco (-9,02%), frango (-4,41%), óleo de
soja (-3,46%) e margarina vegetal
(0,81%).
Em todos esses produtos, o tropeço da moeda reduziu o valor de
matérias-primas como soja e milho ou de itens que utilizam insumos referenciados no mercado
externo. É o que acontece com as
carnes, já que as rações animais
usam, em geral, esses dois grãos.
Repasse menor
Carlos Thadeu de Freitas Filho,
economista do Grupo de Conjuntura da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), diz que, de
fato, o dólar mais barato contribuiu para o recuo da inflação em
maio e no atacado em junho. Só
não houve um benefício maior,
diz, porque o repasse do câmbio
tem sido menos intenso -na casa dos 7,7%, a menor marca desde
de 2002.
Por esse e outros motivos, o IPCA acumulado de janeiro a maio
ficou em 3,18%, mais do que a alta
de 2,75% em igual período de
2004. A elevação ocorreu também
porque muitos produtos subiram
em razão da forte estiagem do começo do ano no sul do país, que
neutralizou o efeito positivo do
câmbio. Os preços administrados, especialmente os ônibus,
também foram um fator adicional
de pressão.
Além do efeito concreto, o de
queda dos preços, o recuo do dólar tem um impacto sobre as expectativas e sobre o custo das empresas, o que propicia a redução
nos índices de preço.
"Os efeitos da apreciação do real
sobre a inflação não podem ser
menosprezados. Primeiro, o recuo do dólar atua diretamente sobre as expectativas de inflação, já
que é uma variável-chave ao se
prever qual será a inflação do ano
e dos próximos 12 meses. Quedas
adicionais garantem, pelo menos,
a estabilidade das expectativas",
diz Alexandre Sant'Anna, economista da ARX Capital.
Segundo ele, o tombo do dólar
afeta também os custos das empresas, gerando um efeito "desinflacionário" sobre os índices do
atacado que, eventualmente, será
repassado aos índices de preços
ao consumidor. "As deflações recentes dos IPAs (Índice de Preços
no Atacado) industriais refletem
em parte a apreciação do real e
também a desaceleração da atividade econômica."
Dados da FGV revelam que o
IPA teve deflação de 1% em junho, o que fez o IGP-M registrar
queda de 0,44% no mês. Parte
desse recuo, diz, deve chegar com
mais intensidade no varejo nos
próximos meses.
"Como os efeitos no atacado estão sendo sentidos com mais força agora, nos próximos meses ficará mais claro o impacto da queda do dólar sobre a inflação no varejo. Mas alguns efeitos já podem
ser observados, como o recuo da
inflação dos bens duráveis", afirma o economista da ARX Capital.
Redução de custos
Além disso, Sant'Anna destaca
um outro impacto indireto da
desvalorização da moeda norte-americana diante do real: a redução dos custos das empresas brasileiras.
"Pode-se dizer que a queda do
dólar atua indiretamente sobre a
inflação, ao afetar o planejamento
de investimentos dos setores exportadores: no curto prazo há
uma redução de demanda por insumos e materiais básicos que reduzem a inflação. Mas no longo
prazo, isso representa uma potencial restrição de oferta", avalia o
economista.
Não são apenas os alimentos
que recuam em tempos de queda
do dólar, embora eles representem os itens de maior peso no IPCA. Sob o impacto do dólar mais
baixo, caíram (ou ficaram estáveis), no acumulado do ano, também o valor de itens de higiene e
limpeza. São eles: sabão em pó
(0,34%), sabão em barra
(-2,38%), produtos para unhas
(-0,39%), para limpeza de pele
(-0,63%) e desodorante (-1,77%).
Boa parte das matérias-primas
usadas na produção desses artigos é importada.
A intensidade do recuo dos preços atrelados ao câmbio nos próximos meses, porém, dependerá
do nível de atividade econômica.
Se ocorrer uma recuperação da
economia e a demanda crescer, há
risco de altas nos preços. Logo, o
efeito do dólar será reduzido.
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