São Paulo, segunda-feira, 04 de julho de 2005

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PREÇOS

Alimentos e produtos de higiene recuam, assim como custos das empresas

Dólar mais barato já causa deflação

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Se por um lado o dólar mais baixo tira, em parte, a competitividade das exportações e é motivo de chiadeira dos empresários do comércio exterior, a queda da moeda dos EUA tem, por outro lado, um efeito benéfico para os preços e é responsável pelo recente recuo dos índices de inflação.
Dados do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor ao Consumidor), do IBGE, revelam deflação de itens que vão desde alimentos, com preços referenciados no mercado internacional, a produtos de higiene e limpeza.
Na lista, estão itens que sofrem impacto direto da moeda, como o milho (-3,42%), cotado em dólar no mercado externo. E outros cuja influência é indireta, que tiveram quedas acumuladas ou estabilidade de janeiro a maio. É o caso do macarrão (-0,62%), carnes (-3,25%), carne de porco (-9,02%), frango (-4,41%), óleo de soja (-3,46%) e margarina vegetal (0,81%).
Em todos esses produtos, o tropeço da moeda reduziu o valor de matérias-primas como soja e milho ou de itens que utilizam insumos referenciados no mercado externo. É o que acontece com as carnes, já que as rações animais usam, em geral, esses dois grãos.

Repasse menor
Carlos Thadeu de Freitas Filho, economista do Grupo de Conjuntura da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), diz que, de fato, o dólar mais barato contribuiu para o recuo da inflação em maio e no atacado em junho. Só não houve um benefício maior, diz, porque o repasse do câmbio tem sido menos intenso -na casa dos 7,7%, a menor marca desde de 2002.
Por esse e outros motivos, o IPCA acumulado de janeiro a maio ficou em 3,18%, mais do que a alta de 2,75% em igual período de 2004. A elevação ocorreu também porque muitos produtos subiram em razão da forte estiagem do começo do ano no sul do país, que neutralizou o efeito positivo do câmbio. Os preços administrados, especialmente os ônibus, também foram um fator adicional de pressão.
Além do efeito concreto, o de queda dos preços, o recuo do dólar tem um impacto sobre as expectativas e sobre o custo das empresas, o que propicia a redução nos índices de preço.
"Os efeitos da apreciação do real sobre a inflação não podem ser menosprezados. Primeiro, o recuo do dólar atua diretamente sobre as expectativas de inflação, já que é uma variável-chave ao se prever qual será a inflação do ano e dos próximos 12 meses. Quedas adicionais garantem, pelo menos, a estabilidade das expectativas", diz Alexandre Sant'Anna, economista da ARX Capital.
Segundo ele, o tombo do dólar afeta também os custos das empresas, gerando um efeito "desinflacionário" sobre os índices do atacado que, eventualmente, será repassado aos índices de preços ao consumidor. "As deflações recentes dos IPAs (Índice de Preços no Atacado) industriais refletem em parte a apreciação do real e também a desaceleração da atividade econômica."
Dados da FGV revelam que o IPA teve deflação de 1% em junho, o que fez o IGP-M registrar queda de 0,44% no mês. Parte desse recuo, diz, deve chegar com mais intensidade no varejo nos próximos meses.
"Como os efeitos no atacado estão sendo sentidos com mais força agora, nos próximos meses ficará mais claro o impacto da queda do dólar sobre a inflação no varejo. Mas alguns efeitos já podem ser observados, como o recuo da inflação dos bens duráveis", afirma o economista da ARX Capital.

Redução de custos
Além disso, Sant'Anna destaca um outro impacto indireto da desvalorização da moeda norte-americana diante do real: a redução dos custos das empresas brasileiras.
"Pode-se dizer que a queda do dólar atua indiretamente sobre a inflação, ao afetar o planejamento de investimentos dos setores exportadores: no curto prazo há uma redução de demanda por insumos e materiais básicos que reduzem a inflação. Mas no longo prazo, isso representa uma potencial restrição de oferta", avalia o economista.
Não são apenas os alimentos que recuam em tempos de queda do dólar, embora eles representem os itens de maior peso no IPCA. Sob o impacto do dólar mais baixo, caíram (ou ficaram estáveis), no acumulado do ano, também o valor de itens de higiene e limpeza. São eles: sabão em pó (0,34%), sabão em barra (-2,38%), produtos para unhas (-0,39%), para limpeza de pele (-0,63%) e desodorante (-1,77%).
Boa parte das matérias-primas usadas na produção desses artigos é importada.
A intensidade do recuo dos preços atrelados ao câmbio nos próximos meses, porém, dependerá do nível de atividade econômica. Se ocorrer uma recuperação da economia e a demanda crescer, há risco de altas nos preços. Logo, o efeito do dólar será reduzido.


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