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ROBERTO RODRIGUES
É preciso rever índices de produtividade?
Não há sentido mais em fixar
índices de produtividade
para desapropriar terras
para reforma agrária
O GOVERNO federal tem um
certo compromisso com os
assim chamados movimentos sociais, no sentido de modificar
os índices de produtividade agrícola.
É preciso entender bem esse tema. Os índices de produtividade foram criados nos anos 60 e tinham
por objetivo forçar os produtores
rurais a investir em tecnologia, para
produzir mais por área. Com isso, a
idéia era acabar a especulação com a
terra, bem como levar ao cumprimento da função social da propriedade rural, que era gerar empregos e
renda para o país de forma sustentada.
E, por trás desses objetivos, havia
um outro: as terras que não atingissem o índice mínimo de produtividade, independentemente do cultivo ou da região onde estivessem, ficariam sujeitas a desapropriação
para fins de reforma agrária. Embora discutível, havia um sentido nisso
tudo: o setor rural não era homogêneo e havia segmentos extremamente atrasados e incapazes de
competir: estimular a produtividade poderia ser um mecanismo interessante para mudar essa realidade.
Por outro lado, a inflação alta também inibia a eficiência, porque os
custos de produção eram "comidos"
por ela, de modo que não havia exposição dos produtores incapazes.
Mas isso tudo acabou. Os sucessivos planos de estabilização da economia produziram resultados brutais na agricultura: correções de
preços, de dívidas rurais com índices diferentes no Plano Collor e o
descasamento do Plano Real acabaram levando a uma tríplice colisão
na primeira metade dos anos 90: estabilização interna da moeda, abertura comercial indiscriminada e falência das políticas públicas para o
setor.
Isso gerou duas ondas simultâneas no campo: uma de conclusão e
outra de competitividade. Aqueles
produtores -especialmente os pequenos- que por diversas razões
não conseguiram avançar foram excluídos da atividade. E os remanescentes tiveram que investir em tecnologia e em gestão para sobreviver.
Com isso, o agronegócio brasileiro hoje é extremamente eficiente e
competitivo, a produtividade aumentou espetacularmente e os índices ficaram desatualizados. Mas, então, por que corrigi-los agora? Por
que aumentá-los? Só para ampliar o
número de hectares para reforma
agrária? Por que só no campo se exige uma produtividade mínima?
Indústria tem índice de produtividade? Loja tem? Restaurante, bares,
cinemas, farmácias, fábrica de autopeças, de roupas, de alimentos, têm?
Bancos têm?
Não, claro que não! Porque, se não
são eficientes e competitivos, não
agüentam a concorrência e quebram.
Ora, isso também acontece no
moderno agronegócio brasileiro.
Acabou o tempo em que comprar
terra era bom investimento. Hoje, o
produtor rural que não for competitivo também quebra. Também é excluído. Com a inflação dominada,
não tem mais ineficiência escondida. Agora está tudo às claras: ou é
bom ou cai fora.
Por essas razões, não há sentido
mais em estabelecer índices de produtividade para desapropriar terras
para reforma agrária: o mercado desapropria, por si só. E, além disso, seria uma injustiça: afinal, os agricultores investiram em tecnologia, e,
com isso, a produtividade cresceu.
Aumentar os índices seria um castigo para quem investiu e melhorou as
coisas para o país.
Não se discute se a reforma agrária é necessária ou não. Mas forçar a
barra para arranjar mais terra para
isso não parece lógico. Afinal, qual a
garantia de que os novos proprietários serão mais produtivos?
ROBERTO RODRIGUES, 64, coordenador do Centro de
Agronegócio da FGV, presidente do Conselho Superior do
Agronegócio da Fiesp e professor do Departamento de Economia Rural da Unesp - Jaboticabal, foi ministro da Agricultura. Escreve aos sábados, a cada 15 dias, nesta coluna.
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