São Paulo, terça-feira, 04 de agosto de 2009

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BENJAMIN STEINBRUCH

Vamos sair da crise


Passado quase um ano desde a hecatombe econômica de setembro, o mundo dá sinais de que começa a sair da crise


NO PROLONGADO período de hiperinflação e desorganização da economia brasileira, nos anos 80, virou quase neurose a ideia de encontrar caminhos para tirar o país da crise. Havia até um programa de televisão dedicado a esse tema, cujo título tomo emprestado para este artigo, com a licença do jornalista Alexandre Machado, que o apresentou na TV durante longos anos.
Isso me vem à memória no momento em que, passado quase um ano desde a hecatombe econômica de setembro, o mundo já dá sinais de que começa a sair da crise. Para combater o imobilismo provocado pelas notícias catastróficas que caracterizaram o ambiente econômico nos últimos dez meses, vale enumerar algumas informações que já vislumbram um cenário pós-crise lá fora e no Brasil.
A China retomou o crescimento acelerado no segundo trimestre, com taxa anualizada de 7,9%. Os preços das casas tiveram em maio um inesperado aumento de 0,5% nos Estados Unidos. Foi a primeira alta mensal em 34 meses, sinal de possível estabilização para o setor que foi o estopim da atual crise mundial. A indústria americana, excluído o setor de veículos, aumentou seus pedidos em 1,1% em junho. O PIB americano, divulgado na sexta-feira, surpreendeu positivamente, com queda de apenas 1% no segundo trimestre em comparação com -6,4% no primeiro.
Os resultados de bancos e empresas internacionais no segundo trimestre, a chamada agenda corporativa, surpreenderam os analistas. O ritmo de queda dos lucros atenuou-se, sugerindo um possível início do processo de recuperação. O índice mundial de confiança do consumidor, da Nielsen, recuperou-se e está apenas 2% abaixo da média do último trimestre do ano passado. Depois de encolher 3,6% no último trimestre de 2008 e 0,8% no primeiro deste ano, o PIB brasileiro deve ter crescido entre 1,5% e 2,2% no segundo trimestre, segundo estimativas.
Os juros no Brasil, embora ainda sejam estratosféricos, continuam baixando. De maio para junho, a taxa média cobrada pelos bancos para empréstimos caiu de 37,9% para 36,7% ao ano.
O crédito bancário interno também se recupera. Cresceu 1,3% em junho, e a soma de recursos emprestados já alcança R$ 1,27 trilhão, 10% acima do valor de setembro. O valor de mercado das empresas voltou ao de antes da crise, levando-se em conta o índice Bovespa. Ou seja, as perdas decorrentes da hecatombe de setembro estão zeradas.
Setores industriais beneficiados por estímulos fiscais e de crédito batem recorde de produção para o mercado interno. O comércio em geral vai bem, e nos supermercados as vendas tiveram crescimento real (descontada a inflação) de 5,3% no primeiro semestre.
Acabei de citar algumas informações positivas sobre a economia -poderia fazer também uma lista das negativas, já largamente divulgadas, entre elas a queda das exportações da indústria. Por isso, apesar do necessário otimismo, é preciso ter cuidado com comemorações precipitadas do fim da crise, que provocam acomodação e abrem espaço para o discurso conservador. Já se propaga, por exemplo, a ideia de parar com a redução dos juros, cancelar desonerações fiscais, cortar investimentos públicos e racionar o crédito.
Por enquanto, portanto, o que deve nos impulsionar é a certeza de que vamos sair da crise se houver persistência nas medidas anticíclicas e no receituário desenvolvimentista. As desonerações podem ser ainda mais amplas, com alívio de encargos sociais nas folhas de pagamentos e beneficio fiscal a outros setores, como o de alimentos e gêneros de primeira necessidade.

BENJAMIN STEINBRUCH, 55, empresário, é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do conselho de administração da empresa e primeiro vice-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).

bvictoria@psi.com.br

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