São Paulo, segunda-feira, 04 de setembro de 2006

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Banco paga até R$ 50 mi por conta salário

Empresas fazem leilão de folhas de pagamento entre instituições financeiras, que desembolsam valor para ter funcionários como clientes

Antes restrita à negociação de tarifas, prestação de serviço bancário agora envolve somas de acordo com o número de empregados e seus salários

SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

Empresas nacionais e multinacionais estão leiloando suas folhas de salários entre grandes bancos ávidos por arrebanhar, num só lance, um pacote de milhares de correntistas. A Folha apurou que 11 grandes empresas receberam dinheiro para entregar o processamento da folha de pagamento dos empregados a um único banco, em licitações que envolveram as maiores instituições financeiras do país.
Por trás dessa movimentação, iniciada no ano passado, há uma corrida para garantir o máximo de contratos antes que o governo aprove medida que torne obrigatória a conta salário e a livre opção bancária, permitindo ao trabalhador decidir em que banco quer receber o dinheiro.
Nos leilões promovidos por empresas do porte do grupo Votorantim, JBS-Friboi, Dixie-Toga, Arcelor, Tigre, Marco Polo e Boticário, os bancos pagaram entre R$ 4 milhões e R$ 50 milhões para ter a exclusividade da folha de salários, em geral por um período de cinco anos. Nesse tempo, os bancos contam recuperar o investimento com a venda de produtos financeiros aos empregados-clientes e com a cobrança de tarifas.
Licitações feitas por Sadia, Colgate Palmolive, Goodyear e Philip Morris também envolveram pagamento, segundo a Folha apurou, embora os valores não sejam conhecidos. Todas as empresas negociaram, também, redução ou isenção temporária de tarifas bancárias para seus empregados.

Valor de mercado
A movimentação no setor privado começou depois que o então prefeito José Serra (PSDB) leiloou, em setembro do ano passado, a folha de pagamento dos 210 mil funcionários da Prefeitura de São Paulo. O Itaú pagou R$ 510 milhões pela exclusividade do serviço -cerca de R$ 2.400 per capita.
Desde então, as empresas descobriram que suas folhas salariais valem muito e obtêm entre R$ 833 e R$ 2.300 por funcionário nos seus leilões.
Nos primeiros leilões de folhas salariais realizados pelo setor privado, o preço pago por um funcionário com alto salário equivalia a 60% do que o Itaú desembolsou por um trabalhador graduado da Prefeitura de São Paulo. Para os salários mais baixos, um empregado do setor privado valia 30% de um similar da prefeitura.
O "deságio" no preço per capita da folha salarial das empresas deve-se ao risco de demissão no setor privado: um corte de pessoal pode dizimar o lote de correntistas captado.
Na maior dessas licitações, feita pelo grupo Votorantim, que centralizou a folha de pagamento dos quase 28 mil empregados da Votorantim Industrial, o ABN Amro decidiu pagar R$ 1.789 por funcionário.
O banco holandês substituiu oito bancos que faziam o pagamento dos salários das 12 empresas da unidade industrial do grupo. Consultado, o diretor financeiro da Votorantim Participações, Luis Felipe Schiriak, informou que, no contrato, "existe uma cláusula de confidencialidade" sobre o pagamento feito pelo ABN Amro. O banco também não se manifestou sobre o valor pago.
"Ao avaliarmos uma licitação, levamos em consideração vários aspectos, entre eles a quantidade de contas salário envolvidas, a segmentação da folha e a necessidade de investimentos para suportar o atendimento aos potenciais clientes", diz o diretor comercial do ABN Amro, Wagner Ferrari.
O segredo do negócio com folhas de pagamento, segundo consultores, é a pirâmide salarial. Os bancos calculam o custo e as receitas por funcionário para ver se compensa a aquisição. Empresas com um percentual elevado de trabalhadores de baixa renda não interessam às instituições financeiras.
Já corporações como o grupo Votorantim são muito disputadas. A Folha teve acesso à chamada da licitação ("request for proposal") do grupo Votorantim. No documento, entre as informações relevantes, a companhia mostra que 46% dos trabalhadores recebem entre R$ 1.000 e R$ 3.000, 40% até R$ 1.000 e 14% ganham acima de R$ 3.000 mensais.
Outra licitação de peso foi a da folha de pagamento do grupo Arcelor Brasil, realizada em julho deste ano. Com 14,5 mil empregados, a folha foi disputada por oito bancos. Segundo informação da assessoria do grupo, participaram da licitação Banco do Brasil, Bradesco, Caixa Econômica Federal, HSBC, Itaú, Unibanco, ABN Amro e Santander Banespa.
Quem levou o pacote de funcionários para sua base de clientes foi o espanhol Santander Banespa, mediante o desembolso de cerca de R$ 35 milhões. O banco começa a operar a folha a partir de outubro.

Silêncio
A Folha procurou as empresas que licitaram suas folhas, mas a maioria não se manifestou. Os bancos, com exceção do ABN Amro, também não responderam ao pedido.
A Philip Morris informou, por intermédio de sua assessoria, que todos os anos faz licitação para fornecimento de serviços bancários. O objetivo, segundo a companhia, é verificar se está pagando as menores tarifas bancárias do mercado. Há seis anos é o Itaú que presta o serviço, e o banco não pagou para manter a exclusividade, de acordo com a Philip Morris.
O grupo JBS-Friboi informou que, "recentemente, fez licitação da folha de pagamento da empresa entre os maiores bancos brasileiros".
O objetivo foi "melhorar a prestação de serviços aos colaboradores da empresa". Também não comentou o valor pago pelo Unibanco -avaliado em cerca de R$ 10 milhões- para ter os 12 mil funcionários da empresa como correntistas.


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