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Banco paga até R$ 50 mi por conta salário
Empresas fazem leilão de folhas de pagamento entre instituições financeiras, que desembolsam valor para ter funcionários como clientes
Antes restrita à negociação
de tarifas, prestação de serviço
bancário agora envolve somas
de acordo com o número de
empregados e seus salários
SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL
Empresas nacionais e multinacionais estão leiloando suas
folhas de salários entre grandes
bancos ávidos por arrebanhar,
num só lance, um pacote de milhares de correntistas. A Folha
apurou que 11 grandes empresas receberam dinheiro para
entregar o processamento da
folha de pagamento dos empregados a um único banco, em
licitações que envolveram as
maiores instituições financeiras do país.
Por trás dessa movimentação, iniciada no ano passado,
há uma corrida para garantir o
máximo de contratos antes que
o governo aprove medida que
torne obrigatória a conta salário e a livre opção bancária,
permitindo ao trabalhador decidir em que banco quer receber o dinheiro.
Nos leilões promovidos por
empresas do porte do grupo
Votorantim, JBS-Friboi, Dixie-Toga, Arcelor, Tigre, Marco Polo e Boticário, os bancos pagaram entre R$ 4 milhões e R$ 50
milhões para ter a exclusividade da folha de salários, em geral
por um período de cinco anos.
Nesse tempo, os bancos contam recuperar o investimento
com a venda de produtos financeiros aos empregados-clientes
e com a cobrança de tarifas.
Licitações feitas por Sadia,
Colgate Palmolive, Goodyear e
Philip Morris também envolveram pagamento, segundo a
Folha apurou, embora os valores não sejam conhecidos. Todas as empresas negociaram,
também, redução ou isenção
temporária de tarifas bancárias
para seus empregados.
Valor de mercado
A movimentação no setor
privado começou depois que o
então prefeito José Serra
(PSDB) leiloou, em setembro
do ano passado, a folha de pagamento dos 210 mil funcionários
da Prefeitura de São Paulo. O
Itaú pagou R$ 510 milhões pela
exclusividade do serviço -cerca de R$ 2.400 per capita.
Desde então, as empresas
descobriram que suas folhas
salariais valem muito e obtêm
entre R$ 833 e R$ 2.300 por
funcionário nos seus leilões.
Nos primeiros leilões de folhas salariais realizados pelo
setor privado, o preço pago por
um funcionário com alto salário equivalia a 60% do que o
Itaú desembolsou por um trabalhador graduado da Prefeitura de São Paulo. Para os salários
mais baixos, um empregado do
setor privado valia 30% de um
similar da prefeitura.
O "deságio" no preço per capita da folha salarial das empresas deve-se ao risco de demissão no setor privado: um
corte de pessoal pode dizimar o
lote de correntistas captado.
Na maior dessas licitações,
feita pelo grupo Votorantim,
que centralizou a folha de pagamento dos quase 28 mil empregados da Votorantim Industrial, o ABN Amro decidiu pagar R$ 1.789 por funcionário.
O banco holandês substituiu
oito bancos que faziam o pagamento dos salários das 12 empresas da unidade industrial do
grupo. Consultado, o diretor financeiro da Votorantim Participações, Luis Felipe Schiriak,
informou que, no contrato,
"existe uma cláusula de confidencialidade" sobre o pagamento feito pelo ABN Amro. O
banco também não se manifestou sobre o valor pago.
"Ao avaliarmos uma licitação, levamos em consideração
vários aspectos, entre eles a
quantidade de contas salário
envolvidas, a segmentação da
folha e a necessidade de investimentos para suportar o atendimento aos potenciais clientes", diz o diretor comercial do
ABN Amro, Wagner Ferrari.
O segredo do negócio com folhas de pagamento, segundo
consultores, é a pirâmide salarial. Os bancos calculam o custo
e as receitas por funcionário
para ver se compensa a aquisição. Empresas com um percentual elevado de trabalhadores
de baixa renda não interessam
às instituições financeiras.
Já corporações como o grupo
Votorantim são muito disputadas. A Folha teve acesso à chamada da licitação ("request for
proposal") do grupo Votorantim. No documento, entre as
informações relevantes, a companhia mostra que 46% dos
trabalhadores recebem entre
R$ 1.000 e R$ 3.000, 40% até
R$ 1.000 e 14% ganham acima
de R$ 3.000 mensais.
Outra licitação de peso foi a
da folha de pagamento do grupo Arcelor Brasil, realizada em
julho deste ano. Com 14,5 mil
empregados, a folha foi disputada por oito bancos. Segundo
informação da assessoria do
grupo, participaram da licitação Banco do Brasil, Bradesco,
Caixa Econômica Federal,
HSBC, Itaú, Unibanco, ABN
Amro e Santander Banespa.
Quem levou o pacote de funcionários para sua base de
clientes foi o espanhol Santander Banespa, mediante o desembolso de cerca de R$ 35 milhões. O banco começa a operar
a folha a partir de outubro.
Silêncio
A Folha procurou as empresas que licitaram suas folhas,
mas a maioria não se manifestou. Os bancos, com exceção do
ABN Amro, também não responderam ao pedido.
A Philip Morris informou,
por intermédio de sua assessoria, que todos os anos faz licitação para fornecimento de serviços bancários. O objetivo, segundo a companhia, é verificar
se está pagando as menores tarifas bancárias do mercado. Há
seis anos é o Itaú que presta o
serviço, e o banco não pagou
para manter a exclusividade,
de acordo com a Philip Morris.
O grupo JBS-Friboi informou que, "recentemente, fez licitação da folha de pagamento
da empresa entre os maiores
bancos brasileiros".
O objetivo foi "melhorar a
prestação de serviços aos colaboradores da empresa". Também não comentou o valor pago pelo Unibanco -avaliado
em cerca de R$ 10 milhões-
para ter os 12 mil funcionários
da empresa como correntistas.
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