São Paulo, quarta-feira, 04 de outubro de 2000

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ANÁLISE
Dificuldade da aceitação é mostrada por relatório feito pelo Parlamento Europeu que pretende provar o contrário
Dinamarca dificulta adesão inglesa ao euro

MARTIN WOLF
DO "FINANCIAL TIMES"

O temor da opinião pública pode estar abafando qualquer entusiasmo dos líderes políticos quanto a um plebiscito sobre a adesão do Reino Unido ao euro. Furando o mito da inevitabilidade, os teimosos dinamarqueses tornaram ainda mais difícil para o governo britânico ingressar na zona euro.
Os entusiastas da participação do Reino Unido negam isso. Estão assobiando no vento. A dificuldade da adesão é mostrada por uma análise que pretende provar o contrário. Ela foi feita por uma comissão dirigida por Christopher Huhne, um liberal-democrata do Parlamento Europeu.
O relatório começa supondo a eleição de um governo pró-euro, então faz o percurso inverso a partir da adoção do euro no final da próxima legislatura. Sem isso, afirma o relatório, o "mercado poderia ser desestabilizado por comentários da oposição levantando a possibilidade de reversão" depois da eleição seguinte.
Ele também supõe que a libra esterlina deveria passar por um momento de transição até ser substituída pelo euro, como prevê o Tratado de Maastricht. Se a próxima eleição geral for em maio de 2001, como ainda se espera, a última data segura para um referendo seria daqui a apenas dois anos.
Essas datas ainda não são definitivas. A zona euro poderia dispensar o período de teste de dois anos, embora seus membros provavelmente considerem um precedente perigoso (e ilegal). O governo também poderia adiar a próxima eleição geral. Mas nenhuma dessas possibilidades parece provável.
Em todo caso, nenhum governo gostaria de especulações febris sobre sua intenção de alterar um mandato parlamentar. É por isso que a decisão de descartar a adesão nesta legislatura foi tomada em outubro de 1997. Pela mesma lógica, o governo desejaria tomar medidas em direção à zona euro no início do próximo mandato ou mais uma vez adiar a tentativa.
Suponha-se que o plebiscito não ocorrerá antes de outubro de 2002. Gordon Brown precisaria declarar que seus cinco testes foram satisfeitos até junho de 2002. O relatório afirma que ele poderia fazer isso. O teste mais importante, por ser o mais preciso, é o primeiro: "Os ciclos empresariais e as estruturas econômicas são compatíveis para que nós e os outros possamos viver confortavelmente com as taxas de juros do euro em base permanente?"
Se o Reino Unido poderia viver permanentemente com essas taxas de juros é uma incógnita, mas as posições cíclicas estão muito mais próximas do que três anos atrás. Felizmente, o Reino Unido também preenche quase todos os critérios do Tratado de Maastricht: a inflação dos preços ao consumidor é a menor da União Européia; as taxas de juros a longo prazo são tão baixas quanto na Alemanha; e a posição fiscal cumpre os critérios de déficit e dívida.
Para a adesão ao euro, a condição da estabilidade da taxa de câmbio teria de ser cumprida. Para isso, o governo britânico teria de fazer acordos com os membros da zona euro.
A sugestão sensata do relatório sobre a taxa de câmbio é negociar antes do referendo a taxa de conversão da libra em euro. Ele defende uma taxa entre 1,25 e 1,45 por libra, contra o atual 1,67.
Não há motivo para que a taxa acertada seja igual à taxa vigente na época. A moeda convergiria nessa taxa acertada (com variações para os diferenciais das taxas de juros a curto prazo) desde que a adesão tivesse credibilidade.
Como a economia é tão polêmica, o governo também teria de ganhar um referendo sobre política. Precisaria convencer as pessoas não apenas de que não existe barreira constitucional à adesão, mas que essa adesão é politicamente desejável. Isso seria muito difícil. Até agora ele mal tentou dar uma explicação política para a adesão. E também deixou de admitir que as implicações políticas quase certamente incluirão uma integração muito maior.
Para vencer a hostilidade pública e uma oposição organizada e agora reforçada, o governo teria de fazer uma defesa econômica e política convincente da adesão ao euro. A menos que a oposição milagrosamente desapareça, o Reino Unido parece mais uma vez destinado a continuar esperando "o momento certo".


Tradução de Luiz Roberto Gonçalves

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