São Paulo, quarta-feira, 04 de outubro de 2000

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INVESTIMENTO
Entrada de moeda estrangeira aumenta 10% em 99 no país, 23% na América Latina e 27% no mundo, diz Unctad
Fluxo de dólar cresce, mas menos que na AL

OSCAR PILAGALLO
DA REPORTAGEM LOCAL

O investimento estrangeiro no Brasil, citado pelo governo como indício do grau de confiança do mercado internacional no país, é relativizado pelo quadro comparativo divulgado ontem pela Unctad, órgão da ONU que trata de comércio e desenvolvimento.
O fluxo desses dólares para o Brasil aumentou, mas a um ritmo mais lento do que o registrado no mundo, na América Latina e até em alguns países que concorrem em condições semelhantes pelo capital internacional.
A entrada de dinheiro no país cresceu 10% no ano passado, enquanto os investimentos estrangeiros no mundo todo cresceram 27%, para US$ 865 bilhões.
Limitando-se a comparação à América Latina, a evolução do Brasil também pode ser considerada modesta. Os investimentos estrangeiros na Argentina, por exemplo, mais do que triplicaram no mesmo período.
No país vizinho, os números foram inflados pelo investimento gigantesco de US$ 13,2 bilhões feito pela espanhola Repsol na YPF.
Quanto ao Chile, dobraram para US$ 9,2 bilhões os investimentos feitos por estrangeiros.
Na América Latina, tudo somado, o fluxo foi de US$ 90 bilhões em 99, um recorde que superou o resultado de 98 em 23%.
Se a evolução dos investimentos no Brasil foi pequena em termos relativos, em números absolutos o país continuou liderando na região. Com US$ 31,4 bilhões de investimentos, o país foi, pelo quarto ano consecutivo, o que mais atraiu dólares na região.
O impacto desse dinheiro é maior em economias de menor porte do que no Brasil, onde fica pulverizado em meio ao estoque de capital já investido.
Na Bolívia, por exemplo, o fluxo de capital estrangeiro entre 1996 e 1998 é equivalente a quase a metade (47,9%) do estoque de investimentos. O Brasil nem aparece na lista com as 20 maiores porcentagens. O último país nesse ranking é a Argentina, com 13%.
O relatório da Unctad, intitulado "World Investment Report-2000", nota que a liderança do Brasil na região foi mantida apesar da adversa situação econômica, marcada pela instabilidade que se seguiu à desvalorização, em 99, e pela estagnação.
A manutenção da forte entrada de capital estrangeiro no país resulta da adoção de um programa econômico de orientação liberal.
Ao fazer essa opção já no início dos anos 90, o Brasil seguiu uma tendência mundial, agora retratada em números pela Unctad.
Em 1991, por exemplo, 35 países introduziram, no total, 82 mudanças nos regimes de investimento, a quase totalidade delas (80) mais favorável aos investimentos estrangeiros. A tendência foi mantida durante toda a década, como mostra a tabela.
O Brasil foi um dos países que mais introduziram reformas liberalizantes no período.
Os EUA continuaram a ser o país que mais atraiu investidores. Em 99, os estrangeiros colocaram US$ 233 bilhões em empresas americanas, comprando-lhes o controle em megafusões.
É crescente o fluxo de investimentos para os EUA. Em 1997, em só 7% dos negócios houve perda do controle acionário por grupos nacionais. Em 99, essa participação superou os 25%.
Grande parte desse dinheiro é transferida da Europa, e essa é uma das razões pelas quais o euro está desvalorizado. O interesse europeu em empresas americanas obriga os investidores a se desfazer do euro e comprar dólar.
























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