São Paulo, quinta-feira, 04 de outubro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Vale arremata trecho da Ferrovia Norte-Sul

Única participante de leilão, empresa deu lance mínimo de R$ 1,478 bi pela subconcessão de 720 km da ferrovia por 30 anos

Transporte de grãos será prioridade no corredor ferroviário, diz companhia; parte de trecho deverá ficar pronta apenas em dois anos

PAULO DE ARAUJO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A Companhia Vale do Rio Doce arrematou ontem em leilão a subconcessão do trecho da Ferrovia Norte-Sul entre Açailândia (MA) e Palmas (TO). O lance foi de R$ 1,478 bilhão, valor mínimo estipulado.
Com o negócio, a empresa vai administrar, por 30 anos, 720 km da ferrovia. Dessa extensão, a Vale já operava, desde 1996, 225 km, entre Açailândia e Estreito, no Estado do Maranhão. Outros 134 km, já concluídos, necessitam de um prazo de pelo menos quatro meses antes de entrar em operação.
O restante do trecho sob concessão deve ser entregue até 2009. As obras ficarão a cargo da estatal Valec Engenharia, Construções e Ferrovias S.A.
Segundo o diretor de logística da Vale do Rio Doce, Eduardo Bartolomeo, o transporte de grãos será a prioridade da empresa no corredor de cargas.
"Esse é o corredor de maior crescimento da soja, daí a importância estratégica em explorar esse negócio", afirmou.
Além da soja, a companhia espera transportar arroz, milho, álcool e açúcar produzidos na região centro-norte. "Essa região é onde o crescimento está acontecendo", disse.
De acordo com estimativas da Vale, deve ser movimentado neste ano cerca de 1,7 milhão de toneladas de grãos; para 2013, a previsão do volume é de 8,8 milhões de toneladas de grãos.
A concessão do trecho da Ferrovia Norte Sul à Vale já era esperada, uma vez que a empresa foi a única habilitada a participar do leilão de ontem.
Além do lance de R$ 1,478 bilhão, a Vale prevê investir R$ 66 milhões até 2010 em infra-estrutura (sinalização, oficinas e postos de abastecimento).
A empresa já opera a Estrada de Ferro Carajás, a Estrada de Ferro Vitória a Minas e a Ferrovia Centro Atlântica, de acordo com a ANTF (Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários).
Segundo um analista do setor, que pediu para não ser identificado, o negócio demonstra que a malha ferroviária no Brasil está "demasiadamente concentrada nas mãos de poucas empresas". A Vale discorda (leia texto abaixo).
Para o diretor-executivo da ANTF, Rodrigo Vilaça, "ferrovia virou negócio para grandes empresas" devido ao volume de investimentos envolvido. "O problema é que a malha ferroviária ainda é muito pequena."

Atrasos na ferrovia
Lançada em 1986, durante o governo José Sarney, a Ferrovia Norte-Sul foi concebida inicialmente para ter um traçado de 1.550 km e cortar os Estados do Maranhão, do Tocantins e de Goiás. Tornou-se uma obra polêmica e chegou a ser batizada como "aquela que ligaria o nada a lugar nenhum", com custos previstos de US$ 2,5 bilhões. Em 1987, conforme a Folha revelou na época, comprovou-se fraude na concorrência de empresas que iriam participar da construção da ferrovia.
Após 21 anos, foram concluídos apenas 359 km. Atualmente, segundo informações da Valec, já foram iniciadas obras para a construção de mais 319 km.
Em 2006, a ferrovia foi incluída no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). A respeito da sua retomada, a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) disse, em maio, que é "essencial para escoar a safra produzida no Centro-Oeste".


Com a Reuters


Texto Anterior: Crise: Deutsche Bank anuncia perdas, mas prevê lucro maior no ano
Próximo Texto: Concorrência: Para Dilma, não há problema em só haver um interessado
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.