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Fundo dos EUA cobra dívida da VarigLog
Matlin Patterson recorre à Justiça para recuperar cerca de R$ 360 milhões em empréstimos concedidos à companhia
Fundo acusa acionistas brasileiros de terem depositado em conta na Suíça dinheiro pago pela
Gol na compra da Varig
JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO
O fundo de investimentos
americano Matlin Patterson
está cobrando empréstimos
concedidos à VarigLog na Justiça. Há ações tramitando em
São Paulo e em Nova York. A
disputa judicial expõe a crise
entre os acionistas controladores da VarigLog, ex-dona da Varig, e já envolve o nome da Gol,
nova dona da companhia aérea.
Na Justiça brasileira, o fundo
cobra cerca de R$ 195 milhões,
e, na Justiça americana, mais
US$ 88 milhões (equivalentes a
R$ 161,9 milhões).
O Matlin Patterson se associou a três investidores brasileiros (Marco Antonio Audi,
Luiz Eduardo Gallo e Marcos
Haftel) para investir na VarigLog, ex-subsidiária de transporte de cargas da Varig.
A lei brasileira determina um
limite de 20% do capital votante para a participação de investidores estrangeiros em companhias aéreas, daí a necessidade de se associar a brasileiros.
Com a crise da Varig, a VarigLog levou as operações da empresa aérea em leilão, em 2006,
e depois a revendeu à Gol, neste
ano, por US$ 320 milhões.
O Matlin Patterson é conhecido no mercado como um
"fundo abutre". Compra empresas em dificuldades financeiras, promove melhorias de
gestão e as revende por um valor muito superior ao que investiu. Especialistas do setor
ouvidos pela Folha que preferiram não se identificar afirmam que a disputa na Justiça
entre o Matlin e os acionistas
brasileiros pode representar a
saída deles do negócio.
As ações de execução de dívida no Brasil correm na 9ª Vara
Cível de São Paulo, onde o Matlin cobra R$ 176,3 milhões, e
na 16ª Vara Cível, onde a causa
tem valor estimado de R$ 19,02
milhões. A Gol tentou interferir e requereu a tramitação do
processo da 9ª Vara Cível em
segredo de Justiça, mas o pedido foi negado porque ela não é
parte do processo de execução.
O racha entre os acionistas
da VarigLog começou há cerca
de dois meses. Segundo a Folha apurou, o fundo foi à Justiça, acusando os acionistas brasileiros de terem aberto uma
conta na Suíça em que teria sido depositada a parcela paga
em dinheiro pela Gol na compra da Varig. A operação de
compra da companhia previa
pagamento de US$ 98 milhões
em dinheiro e mais US$ 172 milhões em ações, além de um
montante a ser emitido em debêntures (títulos de dívida).
Além disso, o fundo acusava
os acionistas brasileiros de terem vendido 1,5 milhão das
ações dadas em garantia pela
Gol -eram 6 milhões de ações.
O fundo conseguiu bloquear
na Justiça de Nova York os recursos depositados na conta da
Suíça e parte dos papéis da Gol
dados em garantia na compra
da Varig. A ação foi movida por
investidores americanos, mas,
apesar dos esforços, os recursos
em conta seriam agora de apenas US$ 85 milhões, segundo a
Folha apurou. O fundo administra recursos que chegam a
US$ 9 bilhões, a maior parte
proveniente de fundos de pensão. Durante o auge da crise da
Varig e após a aquisição, ele investiu US$ 220 milhões na
companhia, além de US$ 128
milhões na VarigLog.
Com a disputa na Justiça, o
ambiente entre os acionistas na
VarigLog vem piorando. Pessoas ligadas à empresa afirmam
que houve um racha entre o
fundo americano e os sócios
brasileiros e que as duas partes
praticamente não se falam
mais no dia-a-dia da empresa.
Rumores de venda
Nas últimas semanas, começaram a circular rumores de
que a VarigLog poderia ser vendida. Procurada, a empresa disse que não se manifestaria.
A Gol afirmou que não pretende comentar o caso. A reportagem tentou ouvir o empresário Marco Antonio Audi durante todo o dia de ontem,
mas ele não foi localizado.
O Matlin Patterson afirmou
que não faria comentários porque o processo corre em segredo de Justiça.
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