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TRABALHO
Regiões nobres têm desemprego inferior a 8%; em bairros mais pobres, índice passa de 20%, diz estudo da CUT
Periferia tem 71% dos sem-emprego de SP
MARIANA BARBOSA
DA REPORTAGEM LOCAL
Setenta e um por cento dos desempregados da cidade de São
Paulo estão concentrados na periferia. Em alguns bairros, como
São Miguel Paulista, Guaianazes e
Parelheiros, um em cada cinco
moradores ativos não tem emprego. Em alguns pontos nobres, como Jardins e Vila Madalena, a
média é de apenas um desempregado para cada 12,7 pessoas da
PEA (População Economicamente Ativa).
Os números fazem parte do estudo "Mapa do Emprego e Desemprego do Município de São
Paulo", o primeiro a analisar o
mercado de trabalho nas diferentes regiões da cidade.
O trabalho foi realizado por Alexandre de Freitas Barbosa, André
Gambier Campos e Dulce Helena
Cazzuni, consultores do Desep
(Departamento de Estudos Socioeconômicos e Políticos) da
CUT.
O mapa divide a cidade em duas
áreas, chamadas de estruturadas e
periféricas. As áreas, por sua vez,
são divididas em regiões (ver mapa). Por causa da heterogeneidade social da cidade, alguns bairros
"emergentes", como Tatuapé, foram agrupados com as áreas periféricas. A Sé, ao contrário, foi incluída nas áreas estruturadas.
Ao cruzar informações sobre a
natureza do emprego e do desemprego com dados sobre renda familiar, instrução, sexo e faixa etária, o estudo revela números impressionantes sobre as desigualdades existentes na cidade.
A situação mais dramática está
no extremo leste, a chamada Leste
3 (Itaquera, São Miguel Paulista,
Ermelino Matarazzo, Gangaíba,
Guaianazes e Itaim Paulista).
A região possui quase tantos desempregados (214,11 mil) quanto
os de todas as áreas estruturadas
(249,24 mil). Ali, a taxa de desemprego (20,7%) fica bem acima da
média de 16,6% da cidade.
Os bairros da Sudoeste 1 (Aclimação, Bela Vista, Jardins, Ibirapuera, Indianópolis, Perdizes, Pinheiros, Morumbi, Vila Madalena e Vila Mariana) possuem a
mais baixa taxa de desemprego da
cidade: 8,3%.
"A existência de duas realidades
em São Paulo era óbvia", afirma
Alexandre de Freitas Barbosa.
"Não imaginávamos que os contrastes seriam tão gritantes."
Outro dado revelador da exclusão social é o fato de quase metade
(48,2%) dos desempregados ter
menos de 24 anos, sendo que
70,1% deles moram nas áreas periféricas. Somadas as regiões estruturadas Leste 1, Sudoeste 1 e
Centro, os desempregados naquela faixa etária somam 5,7%.
A desigualdade fica ainda mais
evidente quando se analisam os
dados de escolaridade e renda da
periferia. As áreas periféricas concentram 77,8% dos desempregados com primeiro grau incompleto e 73,6% daqueles que vivem em
famílias com renda inferior a três
salários mínimos (até R$ 453).
Nas áreas nobres, o número de
desempregados com menos de 24
anos é muito menor devido ao fato de as pessoas nessa faixa etária
estarem simplesmente fora da
PEA. "Os jovens estão na escola
ou na faculdade e não na fila do
emprego", afirma Barbosa.
Ainda que as áreas estruturadas
concentrem "apenas" 29,2% dos
desempregados da cidade, o mapa revela que o desemprego é um
fenômeno que não discrimina sexo, cor, classe social ou grau de escolaridade.
"O desemprego deixou de ser
um problema de pobre", afirma
Márcio Pochman, economista da
Unicamp. "Se tivéssemos um estudo similar de uma década atrás,
o desemprego nas áreas estruturadas seria menor que 10%."
Os números da pesquisa estão
baseados na média dos indicadores da Pesquisa de Emprego
e Desemprego (PED) da Fundação Seade/Dieese para os
anos de 1997 a 99.
"A amostragem mais ampla
elimina diferenças conjunturais nas taxas de desemprego",
diz Barbosa. "Independentemente de a taxa hoje estar abaixo da média de 16,6%, a realidade das desigualdades na cidade permanece." A taxa de desemprego da PED para o município foi de 15,8% em setembro.
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