São Paulo, sábado, 04 de novembro de 2000

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TRABALHO
Regiões nobres têm desemprego inferior a 8%; em bairros mais pobres, índice passa de 20%, diz estudo da CUT
Periferia tem 71% dos sem-emprego de SP

MARIANA BARBOSA
DA REPORTAGEM LOCAL

Setenta e um por cento dos desempregados da cidade de São Paulo estão concentrados na periferia. Em alguns bairros, como São Miguel Paulista, Guaianazes e Parelheiros, um em cada cinco moradores ativos não tem emprego. Em alguns pontos nobres, como Jardins e Vila Madalena, a média é de apenas um desempregado para cada 12,7 pessoas da PEA (População Economicamente Ativa).
Os números fazem parte do estudo "Mapa do Emprego e Desemprego do Município de São Paulo", o primeiro a analisar o mercado de trabalho nas diferentes regiões da cidade.
O trabalho foi realizado por Alexandre de Freitas Barbosa, André Gambier Campos e Dulce Helena Cazzuni, consultores do Desep (Departamento de Estudos Socioeconômicos e Políticos) da CUT.
O mapa divide a cidade em duas áreas, chamadas de estruturadas e periféricas. As áreas, por sua vez, são divididas em regiões (ver mapa). Por causa da heterogeneidade social da cidade, alguns bairros "emergentes", como Tatuapé, foram agrupados com as áreas periféricas. A Sé, ao contrário, foi incluída nas áreas estruturadas.
Ao cruzar informações sobre a natureza do emprego e do desemprego com dados sobre renda familiar, instrução, sexo e faixa etária, o estudo revela números impressionantes sobre as desigualdades existentes na cidade.
A situação mais dramática está no extremo leste, a chamada Leste 3 (Itaquera, São Miguel Paulista, Ermelino Matarazzo, Gangaíba, Guaianazes e Itaim Paulista).
A região possui quase tantos desempregados (214,11 mil) quanto os de todas as áreas estruturadas (249,24 mil). Ali, a taxa de desemprego (20,7%) fica bem acima da média de 16,6% da cidade.
Os bairros da Sudoeste 1 (Aclimação, Bela Vista, Jardins, Ibirapuera, Indianópolis, Perdizes, Pinheiros, Morumbi, Vila Madalena e Vila Mariana) possuem a mais baixa taxa de desemprego da cidade: 8,3%.
"A existência de duas realidades em São Paulo era óbvia", afirma Alexandre de Freitas Barbosa. "Não imaginávamos que os contrastes seriam tão gritantes."
Outro dado revelador da exclusão social é o fato de quase metade (48,2%) dos desempregados ter menos de 24 anos, sendo que 70,1% deles moram nas áreas periféricas. Somadas as regiões estruturadas Leste 1, Sudoeste 1 e Centro, os desempregados naquela faixa etária somam 5,7%.
A desigualdade fica ainda mais evidente quando se analisam os dados de escolaridade e renda da periferia. As áreas periféricas concentram 77,8% dos desempregados com primeiro grau incompleto e 73,6% daqueles que vivem em famílias com renda inferior a três salários mínimos (até R$ 453).
Nas áreas nobres, o número de desempregados com menos de 24 anos é muito menor devido ao fato de as pessoas nessa faixa etária estarem simplesmente fora da PEA. "Os jovens estão na escola ou na faculdade e não na fila do emprego", afirma Barbosa.
Ainda que as áreas estruturadas concentrem "apenas" 29,2% dos desempregados da cidade, o mapa revela que o desemprego é um fenômeno que não discrimina sexo, cor, classe social ou grau de escolaridade.
"O desemprego deixou de ser um problema de pobre", afirma Márcio Pochman, economista da Unicamp. "Se tivéssemos um estudo similar de uma década atrás, o desemprego nas áreas estruturadas seria menor que 10%."
Os números da pesquisa estão baseados na média dos indicadores da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) da Fundação Seade/Dieese para os anos de 1997 a 99.
"A amostragem mais ampla elimina diferenças conjunturais nas taxas de desemprego", diz Barbosa. "Independentemente de a taxa hoje estar abaixo da média de 16,6%, a realidade das desigualdades na cidade permanece." A taxa de desemprego da PED para o município foi de 15,8% em setembro.


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