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VAREJO
Margem de lucro motiva disputa; descontos e "enxoval" são focos de rixa
Guerra entre comércio e indústria vai além de preço
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Não é apenas devido à disparada do dólar que o consumidor vai
pagar mais caro pelos alimentos e
bebidas neste mês. Comércio e fabricantes bateram de frente na semana passada -tornando pública a desavença- por uma disputa por margem de lucro. O dólar,
na prática, acentuou a crise.
Nos bastidores, a briga extrapola a questão da moeda. Fabricantes não querem mais, por exemplo, dar descontos elevados na fatura sempre que o varejo paga em
dia as entregas. A prática, que se
tornou comum, já é foco de mal-estar entre as partes.
Tem mais: as lojas começam a
fazer resistência ao modelo de
vendas chamado "desconto fidelidade incondicional", como batizam os analistas. Nele, a indústria
só dá a oferta melhor de preços à
loja num produto "x" se a loja
comprar esse item com frequência. O varejo não quer mais essa
obrigação. Muito menos numa
fase de demanda retraída.
Até mesmo o chamado primeiro "enxoval" não ficou fora da
pendenga. Cláusula do contrato
com o varejo obriga os fabricantes
a darem de graça, para a rede, o
primeiro lote de venda das lojas
que forem recém-inauguradas.
Nada é cobrado pela indústria.
O varejo, em contrapartida, pode dar descontos no valor cobrado à indústria por determinado
espaço na loja.
No acordo com o comércio, fabricantes dão bonificação às redes
caso o produto seja colocado em
determinado local da prateleira
-de preferência na altura dos
olhos do consumidor.
Não é à toa que, às vezes, o consumidor entra na loja e percebe
que o sabão em pó de sua preferência foi parar no topo da gôndola. É que até mesmo esses espaços viraram "moeda de troca".
"É briga de cachorro grande. A
indústria acredita que está ocorrendo uma transferência de margem dela para o varejo, nesses
acordos entre as partes. E o comércio, por sua vez, está irritado
com a enxurrada de aumentos de
preços recentes da indústria", diz
Eugênio Foganholo, diretor da
Mixxer Consultoria.
Desde meados do ano, essas
questões, definidas em contrato,
são alvo de negociação dos supermercados com alguns fabricantes
de produtos de higiene e limpeza,
segundo a Folha apurou.
Isoladamente, essas questões levantadas pelas partes têm poder
de fogo muito limitado. O custo
de um "enxoval" ou o peso de um
desconto numa fatura podem ser
desprezíveis. Juntos, porém, os fatores contribuem para deixar
mais delicada a relação entre as
partes. Pior ainda se, somado a isso, existe a disparada do dólar.
"Imposições unilaterais do comércio têm irritado os fabricantes. Essas divergências, que estão
abaixo da "superfície", afloram
quando qualquer novo motivo
aparece, como as negociações sobre reajustes", explica Nelson
Barrizelli, analista de varejo. Pão
de Açúcar e Carrefour não comentam o caso.
Enquanto as divergências continuam, as negociações de preços se
arrastam. Na sexta, a diretoria da
rede Bretas, uma das maiores de
Minas Gerais, esteve em São Paulo para fechar acordos com a Nestlé. A Sadia e a Perdigão ainda tentam finalizar a venda do peru para
redes no Nordeste e para o Carrefour. O produto deve sofrer reajuste entre 10% e 15%.
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