São Paulo, segunda-feira, 04 de dezembro de 2000

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MULTIMÍDIA

THE NEW YORK TIMES
Incapacidade de antever resultados ruins da fabricante de computadores Gateway lesa investidores
Analistas ignoram perdas e causam prejuízo

GRETCHEN MORGENSON
DO "THE NEW YORK TIMES"

Para: todos os analistas de corretoras de valores.
De: investidores decepcionados.
Nós, seus clientes, escrevemos este memorando para lhes dizer que, se dependesse de nós, a maioria de vocês seria despedida. Sua incapacidade de prever as dificuldades de uma empresa quando estão na cara -para alertar seus clientes sobre os problemas antes que as ações despenquem- nos custou bilhões de dólares nas últimas semanas. O desempenho de vocês foi uma vergonha.
Na última semana, a desvalorização dos papéis da Gateway -que nos custou US$ 3 bilhões em um dia- foi apenas a última de uma longa série de desastres na Bolsa que pegou quase todos de surpresa, inexplicavelmente. Vocês ficaram atônitos quando as vendas do fabricante de computadores estagnaram e, de repente, o quarto trimestre e 2001 começaram a parecer sombrios. Afinal, quando a companhia os impressionou com seus resultados do terceiro trimestre, seis semanas atrás, o principal executivo financeiro da Gateway, John Todd, estrilou: "O céu não está caindo!".
Na última quinta-feira, enquanto o céu despencava sobre as ações da Gateway -32%-, alguns de vocês resmungaram que a direção da empresa não foi honesta. É bom poder culpar alguém pela confusão, não é?
É verdade que em 20 de novembro, respondendo a uma reportagem de Jason Wells na "Wit Soundview", Todd disse que estava tranquilo com as estimativas de Wall Street para o rendimento no quarto trimestre. Todd talvez tenha sido o único analista de mercado que desconfiou das ações. Seis dias úteis depois, a Gateway disse que as estimativas cor-de-rosa feitas por todos vocês pareciam exageradas em cerca de US$ 500 milhões. Só então vocês moderaram sua devoção.

Telefonema e sorriso
O que nós não compreendemos é por que vocês acham que a análise de mercado consiste em telefonar para os diretores das empresas e sorrir quando eles dizem que as coisas estão ótimas. Afinal, as evidências de que as vendas de PCs estavam em queda jorraram nos últimos tempos de órgãos de pesquisa independentes.
E as vendas da Gateway estavam diminuindo -a maior surpresa que afundou as ações-, como poderia ver qualquer um que tivesse o trabalho de examinar os resultados da companhia no terceiro trimestre. Por exemplo, embora a empresa tivesse aberto 800 novos pontos-de-venda nos últimos 12 meses, suas vendas de computadores ficaram estáveis.
Mas na entrevista coletiva da Gateway em 12 de outubro algum de vocês perguntou em voz alta: "Por que as vendas estagnadas, em meio a uma grande expansão de lojas?". Algum de vocês indagou à empresa o que estava por trás do US$ 1,53 bilhão em chamados "outros ativos" no balanço, que aumentou 20% em relação ao trimestre anterior? Hoje a companhia diz que vai diminuir US$ 200 milhões ligados a esses ativos no quarto trimestre.
Nenhum de vocês questionou esses sinais perturbadores. Estavam ocupados demais elogiando a empresa por seus resultados. Dos 13 analistas que fizeram perguntas na entrevista, seis tiveram o cuidado de primeiro parabenizar a Gateway. Os aplausos foram de Don Young, da Paine Webber, Richard Gardner, da Salomon Smith Barney, Gillian Munson, do Morgan Stanley Dean Witter, Dan Niles, da Lehman Brothers, e Kevin McCarthy, do Credit Suisse First Boston. Hoje ninguém está aplaudindo.
Quem quiser aprender os meandros da análise de mercado responsável peça lições a Fred Hickey, editor da "High Tech Strategist". Hickey, que vive longe de Wall Street, em Nashua, New Hampshire, foi cada vez mais cauteloso em relação à Gateway. Em outubro ele previu problemas para a empresa com base numa dissecação completa de seus rendimentos no terceiro trimestre. Hickey também foi previdente sobre a Dell Computer, a Micron Technology, a Compaq Computer e a Intel, bem antes de suas ações despencarem.
Aqueles de vocês que não têm disposição para o trabalho exigido por uma análise real não desanimem. Se seus chefes lhes indicarem a porta, vocês terão um futuro brilhante em relações públicas.


Tradução de Luiz Roberto Gonçalves



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