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São Paulo, quinta-feira, 04 de dezembro de 2003

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LUÍS NASSIF

A armadilha da liquidez

Neste ano, o risco Argentina caiu a níveis incompreensivelmente baixos. A dívida externa da Polônia está sendo negociada a meros 80 pontos-base (0,8 ponto percentual) acima dos títulos do Tesouro norte-americano, em um momento em que explodem dúvidas sobre a sustentabilidade da sua dívida pública. Com reservas cambiais quase a zero, a moeda da África do Sul sofreu uma valorização de 100% ante o dólar. Com forte possibilidade de reescalonamento de sua dívida externa, o risco Uruguai caiu 800 pontos.
Como se explicam esses movimentos? A explicação é óbvia e foi dada por Desmond Lachman , ex-estrategista-chefe de mercados emergentes na Salomon Smith Barney, em artigo no "Valor" de ontem. As taxas de juros dos EUA, Europa e Japão estão nos níveis mais baixos dos últimos 45 anos. "Em vez de atribuir o rali do mercado da dívida dos emergentes à melhora nas condições da liquidez global, ministros das Finanças em muitos mercados de capitais emergentes argumentam com benevolência que os fundamentos fortalecidos em seus próprios países são o fator que explica o extraordinário encolhimento do spread"."
O Brasil não está fora disso. "Sem querer depreciar as muitas realizações em política econômica do presidente Lula até o presente (...) em um ambiente de liquidez global menos benéfico, não estariam os investidores muito mais preocupados com a ausência de crescimento econômico no Brasil ou com o aparente estancamento do investimento direto estrangeiro? Não estariam formulando as mesmas perguntas contundentes que apresentaram há não muito tempo sobre o nível ainda muito alto de dívida pública do Brasil e sobre a sustentabilidade das contas públicas do país?"
O que ocorrerá com o país em um quadro de inversão da liquidez internacional, que poderá ser daqui um, dois ou três anos? Toda a lógica macroeconômica brasileira está amarrada a uma só variável, que pode mudar da noite para o dia -a taxa de juros norte-americana.
Uma política responsável consistiria, neste momento, em começar a discutir o cenário de redução da liquidez, em estancar a busca de crédito em dólares pelos grupos brasileiros, em começar a estudar maneiras de desdolarizar suas dívidas para deixá-los preparados para o estreitamento da liquidez internacional. Consistiria em estudar maneiras de diminuir o peso descomunal da dívida pública, em fortalecer as contas externas.
Deveria o núcleo duro do governo chamar os técnicos da Fazenda e do Banco Central e pedir uma simulação simples: o que aconteceria com o país com o aumento dos juros internacionais, que derrubaria o fluxo de recursos para os países emergentes e os preços das principais commodities? De preferência o trabalho deveria ser assinado, a firma, reconhecida, e os signatários, oferecer seus bens pessoais em garantia.
Suas apostas sobre o futuro da política econômica mudariam na hora.

Gestão
Pela primeira vez em 14 anos o governo mineiro estará pagando o 13º salário do funcionalismo em dia. No início do ano havia uma receita prevista de R$ 15 bilhões para despesas de R$ 17 bilhões. O caminho encontrado foi gestão de despesas, não aumento de impostos.

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