São Paulo, sexta-feira, 04 de dezembro de 2009

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Meirelles vê risco de formação de bolhas

Para ele, risco maior está em imóveis, câmbio e commodities; "Brasil precisa administrar o sucesso", diz, ecoando Krugman

Presidente do BC diz ainda que Brasil deve ser um dos primeiros países a adotar nova regulação bancária global, prevista para 2011


CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A BERLIM

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, concorda com quase tudo o que o Prêmio Nobel de Economia Paul Krugman disse a respeito do Brasil, na entrevista publicada nesta Folha, na qual criticou a confiança irracional no país e disse que o Brasil "está com tudo", mas não vai virar "superpotência no ano que vem".
Meirelles usou uma expressão parecida ontem, em conversa com três jornalistas brasileiros no hotel Ritz-Carlton de Berlim, onde se hospedou durante a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à capital alemã: "O Brasil terá que administrar o sucesso", disse Meirelles.
Para o presidente do BC, "o alto nível de liquidez da economia americana e de algumas outras economias certamente oferece riscos de formação de uma bolha e de distorções na precificação de ativos".
Entre eles, Meirelles menciona imóveis, taxa de câmbio e commodities.
Meirelles acha que uma bolha que se formasse em decorrência de excessos nesses ativos seria desagradável, mas não tão danosa quanto uma bolha de crédito, risco que ele acha que o Brasil não corre, porque a regulação brasileira no setor é forte o suficiente.
Mesmo assim, o presidente do BC garante que, "se não for o primeiro, o Brasil será dos primeiros a aplicar as novas normas para o sistema financeiro" que o Comitê de Supervisão Bancária da Basileia deve aprovar já na semana que vem.
O Comitê é um dos braços do BIS (Banco Internacional de Compensações, geralmente tratado como o banco central dos bancos centrais).
O BIS foi o encarregado pelo G20 de elaborar as regras para evitar os buracos negros e os excessos que estão na origem da crise global
Meirelles detalha as cinco principais regras:
1) Colchão de capital - Criar, além do capital mínimo, requisito já em vigor, uma meta de capital, de maneira que um banco, na hora da expansão, reserve uma parte de seus recursos para usar em caso de contração. Ou seja, para evitar que os governos é que tenham que evitar que os bancos quebrem.
"O Brasil já tem isso", diz Meirelles, lembrando que o índice de capitalização no Brasil é de 11%, ante apenas 8% na média dos demais países.
2) Colchão de liquidez - É estabelecer um número acima dos padrões mínimos vigentes. O Brasil também já tem, na forma de depósitos compulsórios recolhidos dos bancos pelo BC.
3) Alavancagem - O BIS vai estabelecer um índice máximo de alavancagem, independentemente do risco. Evita, em tese, que operações financeiras se façam por meio de tomada de empréstimos sucessivos.
4) Tudo no balanço - Todas as transações financeiras devem ser registradas nos balanços das instituições, que devem ter capital alocado para cobri-las. A crise em parte se deveu à criação e ao uso de instrumentos financeiros opacos, que ninguém entendia direito e nem iam aos balanços das instituições.
5) Qualidade do capital - O capital terá que ser dinheiro, mesmo, não obrigações ou debêntures conversíveis. Pelo menos 50% devem ser capital que possa ser usado para cobrir prejuízos.
O problema desses mecanismos é que eles só entram em vigor em 2011, assim mesmo a critério de cada país. Meirelles jura, no entanto, que o Brasil os adotará tão logo sejam aprovados.


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