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Meirelles vê risco de formação de bolhas
Para ele, risco maior está em imóveis, câmbio e commodities; "Brasil precisa administrar o sucesso", diz, ecoando Krugman
Presidente do BC diz ainda que Brasil deve ser um dos primeiros países a adotar nova regulação bancária global, prevista para 2011
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A BERLIM
O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, concorda com quase tudo o que o
Prêmio Nobel de Economia
Paul Krugman disse a respeito
do Brasil, na entrevista publicada nesta Folha, na qual criticou a confiança irracional no
país e disse que o Brasil "está
com tudo", mas não vai virar
"superpotência no ano que
vem".
Meirelles usou uma expressão parecida ontem, em conversa com três jornalistas brasileiros no hotel Ritz-Carlton
de Berlim, onde se hospedou
durante a visita do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva à capital alemã: "O Brasil terá que administrar o sucesso", disse
Meirelles.
Para o presidente do BC, "o
alto nível de liquidez da economia americana e de algumas
outras economias certamente
oferece riscos de formação de
uma bolha e de distorções na
precificação de ativos".
Entre eles, Meirelles menciona imóveis, taxa de câmbio e
commodities.
Meirelles acha que uma bolha que se formasse em decorrência de excessos nesses ativos seria desagradável, mas
não tão danosa quanto uma bolha de crédito, risco que ele
acha que o Brasil não corre,
porque a regulação brasileira
no setor é forte o suficiente.
Mesmo assim, o presidente
do BC garante que, "se não for
o primeiro, o Brasil será dos
primeiros a aplicar as novas
normas para o sistema financeiro" que o Comitê de Supervisão Bancária da Basileia deve
aprovar já na semana que vem.
O Comitê é um dos braços do
BIS (Banco Internacional de
Compensações, geralmente
tratado como o banco central
dos bancos centrais).
O BIS foi o encarregado pelo
G20 de elaborar as regras para
evitar os buracos negros e os
excessos que estão na origem
da crise global
Meirelles detalha as cinco
principais regras:
1) Colchão de capital -
Criar, além do capital mínimo,
requisito já em vigor, uma meta de capital, de maneira que
um banco, na hora da expansão, reserve uma parte de seus
recursos para usar em caso de
contração. Ou seja, para evitar
que os governos é que tenham
que evitar que os bancos quebrem.
"O Brasil já tem isso", diz
Meirelles, lembrando que o índice de capitalização no Brasil
é de 11%, ante apenas 8% na
média dos demais países.
2) Colchão de liquidez - É
estabelecer um número acima
dos padrões mínimos vigentes.
O Brasil também já tem, na forma de depósitos compulsórios
recolhidos dos bancos pelo BC.
3) Alavancagem - O BIS vai
estabelecer um índice máximo
de alavancagem, independentemente do risco. Evita, em tese, que operações financeiras
se façam por meio de tomada
de empréstimos sucessivos.
4) Tudo no balanço - Todas
as transações financeiras devem ser registradas nos balanços das instituições, que devem
ter capital alocado para cobri-las. A crise em parte se deveu à
criação e ao uso de instrumentos financeiros opacos, que
ninguém entendia direito e
nem iam aos balanços das instituições.
5) Qualidade do capital - O
capital terá que ser dinheiro,
mesmo, não obrigações ou debêntures conversíveis. Pelo
menos 50% devem ser capital
que possa ser usado para cobrir
prejuízos.
O problema desses mecanismos é que eles só entram em
vigor em 2011, assim mesmo a
critério de cada país. Meirelles
jura, no entanto, que o Brasil os
adotará tão logo sejam aprovados.
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