São Paulo, domingo, 05 de janeiro de 2003

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PARCEIROS

País ultrapassa os EUA com incentivos fiscais do governo holandês

Holanda lidera investimento no Brasil

DA REPORTAGEM LOCAL

A globalização tem causado uma forte mudança no perfil dos países que mais investem no Brasil. Graças a benefícios fiscais oferecidos a empresas de outras nacionalidades, Holanda, Ilhas Cayman e Bermudas desbancaram investidores tradicionais no país, como Espanha e Portugal.
Dados do Banco Central mostram que a Holanda ultrapassou os Estados Unidos e é o maior investidor direto na economia brasileira. Mas, segundo a Folha apurou, boa parte dos US$ 3,097 bilhões vindos da Holanda para o Brasil até novembro de 2002 eram investimentos de empresas de outros países da Europa.
É o caso da inglesa Glaxo Smith Klein e das italianas TIM e Fiat que investiram, respectivamente, US$ 83 milhões, US$ 687 milhões e US$ 176 milhões no Brasil via Holanda em 2002.
A principal razão para empresas de outros países europeus abrirem subsidiárias na Holanda e fazerem de lá seus investimentos são as vantagens fiscais oferecidas pelo governo do país.
O mesmo ocorre com empresas dos EUA que acabam fazendo investimentos estratégicos por meio de escritórios que mantêm nas Ilhas Cayman e em Bermudas. Esses dois paraísos fiscais ocupam o quarto e o quinto lugares, respectivamente, na lista dos maiores investidores em 2002.
Segundo Altamir Lopes, chefe do Departamento Econômico do BC, esse movimento se iniciou por volta de 1996, quando deslanchou o processo de privatização.
"Nas privatizações, já havíamos notado que nem todo investimento vinha do país de origem da holding", afirma Lopes.

Redução de custos
Essa tendência tem se intensificado graças ao processo de globalização. A liberalização econômica e financeira facilitou a realização de negócios em outros países.
Possibilidades e volumes de investimento crescentes têm levado as empresas a buscar cortes de custos. Isso explica a abertura de subsidiárias em países que oferecem benefícios fiscais.
"As empresas buscam baratear seus custos e a globalização tem facilitado esse processo", diz Antonio Corrêa de Lacerda, presidente da Sobeet (Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e Globalização).
Boa parte dos recursos que o Brasil recebeu em 2002 foi fruto da conversão de dívidas de empresas locais em participação no capital pela matriz. Esse tipo de negócio saltou de US$ 2,3 bilhões em 2001 para US$ 7,5 bilhões até novembro de 2002 e trata-se apenas de registro contábil de transação entre companhias. Ou seja, não representam investimentos nos setores produtivos.
Dos investimentos feitos pela Holanda no Brasil, por exemplo, cerca de 30% foram referentes a operações de conversão de dívida em maior participação acionária.
É o caso da Unilever, conglomerado holandês que tem, entre seus negócios, investimentos no ramo de produtos alimentícios e bebidas e no setor químico. Segundo a Folha apurou, do total de US$ 484 milhões que a Unilever investiu no Brasil em 2002, cerca de US$ 350 milhões se referiram a transações de conversão de dívida.
Outra empresa holandesa, a Royal Ahold, que comprou o supermercado Bompreço, também enviou ao Brasil US$ 420 milhões no ano passado, dos quais US$ 300 milhões foram resultado de operações de conversão.
Esse também foi o caso dos US$ 83 milhões mandados pela Glaxo Smith Klein para o Brasil em 2002.

Redução gradual
Segundo Lopes, o movimento de conversão no ano passado foi muito intenso, mas já apresentou sinais de arrefecimento nos últimos meses.
"Com a redução gradual das taxas cobradas para a rolagem de dívidas das empresas brasileiras, a tendência é que esse processo de conversão perca fôlego", diz.
A expansão dos investimentos no Brasil de países que oferecem benefícios fiscais veio acompanhada pela redução de recursos vindos de países como Estados Unidos, Espanha, Alemanha e Japão. A forte desaceleração que afetou Estados Unidos, Europa e Japão, principais centros desenvolvidos e motores da economia mundial, explica a retração de investimentos em países emergentes como o Brasil.
Especialistas acreditam também que parte dos investimentos vindos normalmente dos Estados Unidos possa ter sido feito em 2002 via paraísos fiscais.
No caso da Espanha, as grandes perdas amargadas pelas empresas do país em consequência da crise argentina são apontadas como a principal razão para a queda de investimentos no Brasil.
"O temor de contágio e novas perdas no Brasil ditou, em parte, a redução de investimentos", diz Fernando Barbosa, economista do BBV Banco.
Além disso, segundo Barbosa, os investimentos feitos pela Espanha no Brasil foram inflados no passado durante as privatizações. (ÉRICA FRAGA)


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