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PARCEIROS
País ultrapassa os EUA com incentivos fiscais do governo holandês
Holanda lidera investimento no Brasil
DA REPORTAGEM LOCAL
A globalização tem causado
uma forte mudança no perfil dos
países que mais investem no Brasil. Graças a benefícios fiscais oferecidos a empresas de outras nacionalidades, Holanda, Ilhas Cayman e Bermudas desbancaram
investidores tradicionais no país,
como Espanha e Portugal.
Dados do Banco Central mostram que a Holanda ultrapassou
os Estados Unidos e é o maior investidor direto na economia brasileira. Mas, segundo a Folha apurou, boa parte dos US$ 3,097 bilhões vindos da Holanda para o
Brasil até novembro de 2002 eram
investimentos de empresas de outros países da Europa.
É o caso da inglesa Glaxo Smith
Klein e das italianas TIM e Fiat
que investiram, respectivamente,
US$ 83 milhões, US$ 687 milhões
e US$ 176 milhões no Brasil via
Holanda em 2002.
A principal razão para empresas
de outros países europeus abrirem subsidiárias na Holanda e fazerem de lá seus investimentos
são as vantagens fiscais oferecidas
pelo governo do país.
O mesmo ocorre com empresas
dos EUA que acabam fazendo investimentos estratégicos por
meio de escritórios que mantêm
nas Ilhas Cayman e em Bermudas. Esses dois paraísos fiscais
ocupam o quarto e o quinto lugares, respectivamente, na lista dos
maiores investidores em 2002.
Segundo Altamir Lopes, chefe
do Departamento Econômico do
BC, esse movimento se iniciou
por volta de 1996, quando deslanchou o processo de privatização.
"Nas privatizações, já havíamos
notado que nem todo investimento vinha do país de origem da
holding", afirma Lopes.
Redução de custos
Essa tendência tem se intensificado graças ao processo de globalização. A liberalização econômica e financeira facilitou a realização de negócios em outros países.
Possibilidades e volumes de investimento crescentes têm levado
as empresas a buscar cortes de
custos. Isso explica a abertura de
subsidiárias em países que oferecem benefícios fiscais.
"As empresas buscam baratear
seus custos e a globalização tem
facilitado esse processo", diz Antonio Corrêa de Lacerda, presidente da Sobeet (Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas
Transnacionais e Globalização).
Boa parte dos recursos que o
Brasil recebeu em 2002 foi fruto
da conversão de dívidas de empresas locais em participação no
capital pela matriz. Esse tipo de
negócio saltou de US$ 2,3 bilhões
em 2001 para US$ 7,5 bilhões até
novembro de 2002 e trata-se apenas de registro contábil de transação entre companhias. Ou seja,
não representam investimentos
nos setores produtivos.
Dos investimentos feitos pela
Holanda no Brasil, por exemplo,
cerca de 30% foram referentes a
operações de conversão de dívida
em maior participação acionária.
É o caso da Unilever, conglomerado holandês que tem, entre seus
negócios, investimentos no ramo
de produtos alimentícios e bebidas e no setor químico. Segundo a
Folha apurou, do total de US$ 484
milhões que a Unilever investiu
no Brasil em 2002, cerca de US$
350 milhões se referiram a transações de conversão de dívida.
Outra empresa holandesa, a Royal Ahold, que comprou o supermercado Bompreço, também enviou ao Brasil US$ 420 milhões no
ano passado, dos quais US$ 300
milhões foram resultado de operações de conversão.
Esse também foi o caso dos US$
83 milhões mandados pela Glaxo
Smith Klein para o Brasil em 2002.
Redução gradual
Segundo Lopes, o movimento
de conversão no ano passado foi
muito intenso, mas já apresentou
sinais de arrefecimento nos últimos meses.
"Com a redução gradual das taxas cobradas para a rolagem de
dívidas das empresas brasileiras, a
tendência é que esse processo de
conversão perca fôlego", diz.
A expansão dos investimentos
no Brasil de países que oferecem
benefícios fiscais veio acompanhada pela redução de recursos
vindos de países como Estados
Unidos, Espanha, Alemanha e Japão. A forte desaceleração que
afetou Estados Unidos, Europa e
Japão, principais centros desenvolvidos e motores da economia
mundial, explica a retração de investimentos em países emergentes como o Brasil.
Especialistas acreditam também que parte dos investimentos
vindos normalmente dos Estados
Unidos possa ter sido feito em
2002 via paraísos fiscais.
No caso da Espanha, as grandes
perdas amargadas pelas empresas
do país em consequência da crise
argentina são apontadas como a
principal razão para a queda de
investimentos no Brasil.
"O temor de contágio e novas
perdas no Brasil ditou, em parte, a
redução de investimentos", diz
Fernando Barbosa, economista
do BBV Banco.
Além disso, segundo Barbosa,
os investimentos feitos pela Espanha no Brasil foram inflados no
passado durante as privatizações.
(ÉRICA FRAGA)
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