São Paulo, quarta-feira, 05 de janeiro de 2005

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COMÉRCIO EXTERIOR

Vendas externas do setor automotivo chegaram a US$ 10,7 bi, contra US$ 9,8 bilhões da commodity

Exportações de carros superam as de soja

CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL

As exportações do complexo automotivo (veículos, peças de montadoras, autopeças e outros) suplantaram, pelo segundo ano consecutivo, as vendas externas do complexo soja (soja em grão, farelo de soja e óleo).
Com base em dados do Ministério do Desenvolvimento e em projeções próprias, a consultoria Tendências concluiu que, em 2004, as vendas externas do setor automotivo chegaram a US$ 10,7 bilhões, contra US$ 9,8 bilhões da soja.
Segundo a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), as montadoras de automóveis registraram um crescimento de 45% nas exportações em 2004, chegando a uma cifra de US$ 8 bilhões.
Na avaliação da entidade, a agressividade das empresas em conquistar novos mercados -são mais de cem hoje- foi uma das razões para o crescimento. A consolidação dos acordos comerciais com o Chile e com o México também ajudaram a impulsionar as vendas. Caminhões, ônibus e máquinas agrícolas foram os principais produtos.
Para Frederico Estrella, analista da Tendências, o desempenho do complexo automotivo em 2004 está inserido no contexto de aumento das vendas externas de bens manufaturados. Olhando para o desempenho em dólares, nota-se que a fatia das vendas de bens manufaturados no total das exportações brasileiras teve uma alta discreta em 2004 ante 2003. Em 2004, a participação ficou em 54,9%. No ano anterior, 54,3%. Os dados foram divulgados pelo Ministério do Desenvolvimento na última segunda-feira. Mas houve um acréscimo de 33,5% no total exportado pelo segmento. De acordo com a Tendências, aviões, máquinas de terraplanagem e tratores foram os itens vendidos que alavancaram o resultado dos bens manufaturados.
Quanto ao "quantum" (volume) de exportação desses produtos, houve alta de 22,6% entre janeiro e novembro de 2004 contra o mesmo período de 2003. "Essa é uma evolução positiva que mostra a busca pela diversificação da pauta e a incorporação de novos produtos", disse Estrella.

Cenários
Apesar do avanço dos produtos manufaturados, a soja e os demais produtos básicos ainda vão manter a importância na pauta exportadora brasileira.
Segundo Glauco Carvalho, da MB Associados, há, em 2005, uma expectativa de queda nos preços dos produtos agrícolas. A soja, diz, poderia perder US$ 1 bilhão em receitas. Há quem diga, porém, que pode até haver um aumento de receitas no complexo soja neste ano em decorrência de uma redução na safra americana no segundo semestre deste ano. Uma recuperação dos preços da oleaginosa elevaria as receitas do complexo soja.
A Anfavea não se arrisca a estimar mais um ano de ganhos do complexo automotivo acima daqueles registrados pela soja. Para a associação, deve haver um incremento das exportações de 7%.
Mais do que um cenário favorável no mercado internacional, o desempenho do mercado interno será o principal condicionante do fôlego das vendas externas do segmento automotivo. Para a Anfavea, sem uma demanda doméstica mais robusta -a previsão de crescimento para 2005 é de 7%- não haverá lastro para os investimentos já realizados para dar competitividade para o parque industrial. Mais: sem a sinalização de que os consumidores brasileiros estão dispostos a comprar carros, os investimentos estrangeiros no setor não irão se concretizar. O resultado seria um declínio no potencial de exportação do setor.


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