São Paulo, terça-feira, 05 de janeiro de 2010

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Crise causa a maior queda nas exportações

Vendas ao exterior recuaram 22% em 2009, para US$ 152 bi; setores automobilístico e siderúrgico lideram as perdas

Superavit fica em US$ 24,6 bi, pior da era Lula, mas dado deve ser revisto para cima; analista vê saldo encolher em 2010, com mais importação

EDUARDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A crise financeira internacional fez com que as exportações brasileiras despencassem 22,2% em 2009, a maior queda desde que os dados passaram a ser registrados, em 1950.
A menor demanda de tradicionais parceiros comerciais do país atingiu em cheio as vendas de produtos manufaturados, 27% inferiores às de 2008, enquanto os embarques de matérias-primas, beneficiados pela retomada do consumo chinês, declinaram 14,1% no ano.
O resultado de US$ 152,2 bilhões em 2009 ficou abaixo da previsão do governo -US$ 160 bilhões- e bastante aquém dos US$ 197,9 bilhões registrados no ano anterior, que foi recorde. De acordo com os dados do Ministério do Desenvolvimento, os setores mais afetados pela crise foram as indústrias siderúrgica e automobilística.
"A queda dos manufaturados é preocupante e reforça a necessidade de recuperar mercados importantes como os EUA e a América Latina", disse o secretário de Comércio Exterior do ministério, Welber Barral.
A retração do comércio mundial também derrubou em 25% as importações, que fecharam o ano em US$ 127,637 bilhões. Mas, segundo Barral, o ritmo de queda tem diminuído, e a tendência é que o real valorizado e o próprio crescimento da economia estimulem o aumento das compras neste ano.
Mesmo com quedas similares nos dois sentidos do intercâmbio de mercadorias, a balança comercial brasileira encerrou 2009 com o pior desempenho da era Lula, com saldo de US$ 24,62 bilhões. Em 2008, o superavit havia sido de US$ 24,96 bilhões.
No entanto, o saldo comercial de 2009 ainda poderá ganhar um reforço de US$ 300 milhões nas próximas semanas e ultrapassar o resultado de 2008, segundo o ministério. Isso porque, no final do ano passado, foram registradas várias operações de venda de energia elétrica brasileira à Argentina que ainda não foram computadas no balanço anual. Há discrepâncias entre os valores apurados pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) e pelas autoridades argentinas.
Dos US$ 760 milhões apontados pela agência reguladora, só US$ 338 milhões foram confirmados até agora. Apesar de serem referentes a operações realizadas desde 2007, quando a venda de energia deixou de ser contabilizada junto aos serviços, todos os 11 pagamentos em análise serão registrados na balança de 2009 após a verificação. "Energia não é um produto que você tenha controle aduaneiro. A consequência da análise é que o saldo ficará maior que o de 2008", disse Barral.
Para este ano, no entanto, o cenário não é tranquilizador. Segundo o vice-presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil), José Augusto de Castro, o descompasso entre o ritmo de crescimento da economia brasileira e o de importantes parceiros deve derrubar pela metade o superavit em 2010, para US$ 12,23 bilhões. "A expansão do PIB, em torno de 5%, certamente será o principal fator de impacto no aumento das importações", diz.


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