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São Paulo, quarta-feira, 05 de fevereiro de 2003

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INTEGRAÇÃO REGIONAL

Decisão é primeiro sinal da estratégia de aproximação entre os países e de fortalecimento do Mercosul

Brasil e Argentina negociarão a Alca juntos

MARCELO BILLI
DE BUENOS AIRES

O Brasil e a Argentina negociarão a Alca (Área de Livre Comércio das Américas) em conjunto e proporão aos outros países do Mercosul -Uruguai e Paraguai- que façam o mesmo.
A decisão de negociar em bloco é o primeiro sinal concreto da estratégia de aproximação entre os dois países e de fortalecimento do Mercosul, impulsionada pelo governo brasileiro e bem recebida pelo argentino.
A aliança dos dois países também parece pôr fim à política de alinhamento quase automático que a Argentina vinha mantendo com os EUA desde o início dos anos 90.
Ontem, os chanceleres brasileiro, Celso Amorim, e argentino, Carlos Ruckauf, anunciaram que os dois países decidiram negociar a Alca em conjunto. O primeiro passo foi anunciar que os países não entregarão, no próximo dia 15, propostas de abertura dos setores de compras governamentais e de investimentos.
Os 34 países americanos que hoje negociam a Alca têm até o dia 15 de fevereiro para entregar listas com propostas de abertura de cinco setores: produtos agrícolas, produtos industriais, serviços, investimentos e compras governamentais.
Brasil e Argentina querem que os países do Mercosul só entreguem as listas de produtos agrícolas, industriais e, talvez, de serviços. No caso dos dois primeiros setores, já existe uma proposta comum dos países do bloco. Os técnicos ainda trabalham para finalizar a proposta comum para a área de serviços.
O ministro brasileiro esteve ontem na capital argentina, Buenos Aires, onde se reuniu com o presidente Eduardo Duhalde, empresários brasileiros e representantes do governo argentino.
O ministro pediu aos empresários que se tornem "soldados do Mercosul" e disse que, mais que uma área de livre comércio, o bloco é "um projeto político". "É muito melhor para o Mercosul que estejamos juntos", disse Amorim, referindo-se à necessidade de os países do bloco apresentarem uma só proposta na mesa de negociação da Alca.
Funcionários do governo argentino afirmavam, há menos de duas semanas, que o país entregaria uma proposta individual caso o Brasil decidisse atrasar a entrega do documento.
Ontem, o tom já era outro. Depois de almoço do qual participaram Amorim, Duhalde e vários ministros argentinos, o porta-voz da Presidência, Luis Verdi, afirmou que os representantes dos dois países concordaram que "a Argentina e o Brasil não vão ter vozes discordantes em nenhum fórum internacional, seja a respeito do que for".
O chanceler brasileiro repetiu durante todo o dia que a decisão de apresentar propostas individuais fragilizaria o Mercosul. Durante reunião com empresários brasileiros, chegou a afirmar que esta "era a hora da verdade" para a integração dos quatro países.
"É a hora da verdade, de definir se queremos manter o Mercosul ou algo que com o tempo perderá sua relevância internacional. Algo que poderia ter alguma utilidade, mas que não é o projeto político que queremos que o Mercosul seja", disse.
O ministro interpretou a boa acolhida do governo argentino como um sinal do "prestígio do presidente Lula. "O governo argentino tratou esta visita de uma forma muito especial."


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