|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ENERGIA
Valor final não poderá superar 60% do que for cobrado pela gasolina
Governo quer limitar preço do álcool ao consumidor
GABRIELA ATHIAS
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA
O governo quer limitar o preço
final do álcool para o consumidor
a, no máximo, 60% do valor da
gasolina. Dados da ANP (Agência
Nacional do Petróleo) mostram
que, em janeiro, o produto chegou a custar 62,9% em relação a
gasolina nos postos do Sudeste e
70,5% no Centro-Oeste.
Segundo o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, os produtores de cana-de-açúcar não
cumpriram um acordo firmado
com o governo, no dia 15 de janeiro, e aumentaram o preço do álcool além do combinado. O acordo, segundo ele, estabelecia que o
preço do álcool não ultrapassasse
60% do preço da gasolina.
Preocupado com o impacto que
esse aumento poderá ter na inflação, o governo convocou os produtores para uma reunião, amanhã, no Palácio do Planalto.
"Queremos saber por que o acordo não foi cumprido", disse Rodrigues, que também é produtor
de cana-de-açúcar.
"O preço do álcool está mais alto do que o esperado pelo governo", afirmou o ministro. Segundo
ele, esse foi um dos assuntos tratados pelo presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, ontem de manhã.
Novo programa
A assessoria do ministério da
Agricultura informou que o governo estuda a criação de um novo programa de estímulo a produção do álcool capaz de transformar o produto numa alternativa à gasolina.
Os técnicos dizem que o extinto
Proálcool foi criado para ser apenas uma alternativa às crises do
petróleo, e não como política para
o setor.
Para Rodrigues, a retomada de
um projeto similar ao Proálcool
num cenário de guerra ao Iraque
permitiria ao Brasil oferecer aos
outros países um alternativa ao
uso do petróleo.
"O Brasil surge, na iminência de
uma guerra que terá reflexos no
setor de combustíveis, como o
grande país capaz de responder a
um projeto de alternativa energética ambientalmente mais limpa e
renovável", disse o ministro.
José Newton de Souza Vieira,
coordenador-geral do departamento que acompanha e avalia o
mercado de combustíveis no Ministério da Agricultura, afirmou
que o governo espera a próxima
safra de cana-de-açúcar, em abril,
antes de definir datas para lançar
o programa. Por enquanto, há no
Orçamento R$ 500 milhões para
financiar a estocagem do álcool.
Poucos mecanismos
Apesar da preocupação com a
alta do preço do álcool, o governo
tem poucos mecanismos para interferir no setor sucro-alcooleiro,
já que a regulação do setor é feita
pelo mercado (oferta e procura).
Rodrigues evitou dar declarações sobre eventuais medidas de
regulação: "Vamos tratar o assunto no nível do convencimento."
O consultor da Unica (União da
Agroindústria Canavieira de São
Paulo), José Cláudio Manesco,
disse que o setor não comentaria
as declarações do ministro.
A Folha apurou que, para os representantes do setor, a declaração do ministro foi inusitada. Segundo eles, os produtores não fizeram acordo envolvendo o preço
final do álcool para o consumidor. Isso envolveria, disseram, os
custos de distribuição e de revenda, sobre os quais eles não têm
controle. Os produtores disseram
que, na reunião do dia 15, comprometeram-se apenas a vender o
álcool hidratado (combustível
puro) a R$ 0,90 e o anidro (aditivo
à gasolina) a R$ 1,00 incluídos PIS
e Cofins. Para eles, isso não seria o
suficiente para controlar o preço
final do produto.
Colaboraram Sandra Manfrini e
Patrícia Zimmermann, da Folha Online,
em Brasília, e a Sucursal de Brasília
Texto Anterior: Panorâmica - Alimentos: Lucro da Sadia cresce 15,5% em 2002 Próximo Texto: Novo programa deve incentivar a produção Índice
|