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São Paulo, quarta-feira, 05 de fevereiro de 2003

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ENERGIA

Valor final não poderá superar 60% do que for cobrado pela gasolina

Governo quer limitar preço do álcool ao consumidor

GABRIELA ATHIAS
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA

O governo quer limitar o preço final do álcool para o consumidor a, no máximo, 60% do valor da gasolina. Dados da ANP (Agência Nacional do Petróleo) mostram que, em janeiro, o produto chegou a custar 62,9% em relação a gasolina nos postos do Sudeste e 70,5% no Centro-Oeste.
Segundo o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, os produtores de cana-de-açúcar não cumpriram um acordo firmado com o governo, no dia 15 de janeiro, e aumentaram o preço do álcool além do combinado. O acordo, segundo ele, estabelecia que o preço do álcool não ultrapassasse 60% do preço da gasolina.
Preocupado com o impacto que esse aumento poderá ter na inflação, o governo convocou os produtores para uma reunião, amanhã, no Palácio do Planalto. "Queremos saber por que o acordo não foi cumprido", disse Rodrigues, que também é produtor de cana-de-açúcar.
"O preço do álcool está mais alto do que o esperado pelo governo", afirmou o ministro. Segundo ele, esse foi um dos assuntos tratados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ontem de manhã.

Novo programa
A assessoria do ministério da Agricultura informou que o governo estuda a criação de um novo programa de estímulo a produção do álcool capaz de transformar o produto numa alternativa à gasolina.
Os técnicos dizem que o extinto Proálcool foi criado para ser apenas uma alternativa às crises do petróleo, e não como política para o setor.
Para Rodrigues, a retomada de um projeto similar ao Proálcool num cenário de guerra ao Iraque permitiria ao Brasil oferecer aos outros países um alternativa ao uso do petróleo.
"O Brasil surge, na iminência de uma guerra que terá reflexos no setor de combustíveis, como o grande país capaz de responder a um projeto de alternativa energética ambientalmente mais limpa e renovável", disse o ministro.
José Newton de Souza Vieira, coordenador-geral do departamento que acompanha e avalia o mercado de combustíveis no Ministério da Agricultura, afirmou que o governo espera a próxima safra de cana-de-açúcar, em abril, antes de definir datas para lançar o programa. Por enquanto, há no Orçamento R$ 500 milhões para financiar a estocagem do álcool.

Poucos mecanismos
Apesar da preocupação com a alta do preço do álcool, o governo tem poucos mecanismos para interferir no setor sucro-alcooleiro, já que a regulação do setor é feita pelo mercado (oferta e procura).
Rodrigues evitou dar declarações sobre eventuais medidas de regulação: "Vamos tratar o assunto no nível do convencimento."
O consultor da Unica (União da Agroindústria Canavieira de São Paulo), José Cláudio Manesco, disse que o setor não comentaria as declarações do ministro.
A Folha apurou que, para os representantes do setor, a declaração do ministro foi inusitada. Segundo eles, os produtores não fizeram acordo envolvendo o preço final do álcool para o consumidor. Isso envolveria, disseram, os custos de distribuição e de revenda, sobre os quais eles não têm controle. Os produtores disseram que, na reunião do dia 15, comprometeram-se apenas a vender o álcool hidratado (combustível puro) a R$ 0,90 e o anidro (aditivo à gasolina) a R$ 1,00 incluídos PIS e Cofins. Para eles, isso não seria o suficiente para controlar o preço final do produto.


Colaboraram Sandra Manfrini e Patrícia Zimmermann, da Folha Online, em Brasília, e a Sucursal de Brasília


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