São Paulo, quinta-feira, 05 de fevereiro de 2004

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LEITE DERRAMADO

Presidente da empresa faz ronda em lojas; maioria das fábricas está parada e ociosidade chega a até 80%

Lojas param de receber itens da Parmalat

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Apenas uma fábrica da Parmalat Brasil S.A. Indústria de Alimentos opera com ritmo normal hoje. As outras sete unidades fabris trabalham com ociosidade de até 80% ou estão paralisadas. Ricardo Gonçalves, presidente do grupo, esteve ontem em reunião na sede de grandes supermercados ontem. Ele pediu cooperação.
Levantamento da Folha com dez supermercados mostra que cinco decidiram parar de vender mercadorias da companhia ou só recebem itens de forma picada.
Entre eles estão: D'Avó Supermercados, Nordestão e Econ -lojas com receita anual de R$ 45 milhões a R$ 400 milhões.
Foi armada uma operação de emergência pela empresa, tanto na área logística como no setor de vendas: 1) a empresa passou a deslocar insumos entre fábricas na tentativa de manter certas linhas operando; 2) o varejo de grande porte, com receita anual superior a R$ 500 milhões, ganhou prioridade na entrega de mercadorias. Mas médias e pequenas lojas foram atingidas pelos atuais gargalos na produção.
A rede D'Avó Supermercados não recebeu lotes de leite UHT nas últimas semanas de janeiro. A cadeia Império da Banha, 31ª maior rede do país, segundo ranking do setor, decidiu parar de comprar itens da marca. Na Good Bom, 60% do volume de mercadorias solicitado pela loja não está sendo entregue pela companhia. A Good Bom confirma o fato, mas diz que a situação é "tranqüila".
O cenário se repete na cadeia Nordestão, com receita anual em R$ 230 milhões (2002) e na Econ.
"Há produtos enlatados que a empresa não entrega para nós desde dezembro. No caso de lácteos, isso ocorre há dez dias", diz Leandro Cortes, gerente de compras da Econ.
Com a estratégia de manter vendas em grandes redes, explicam analistas de varejo, a companhia "tenta manter a visibilidade da marca em redes nacionais e evita desgaste da marca perante os consumidores", diz Eugênio Foganholo, sócio-diretor da Mixxer Consultoria. Carrefour, grupo Pão de Açúcar, Bompreço e Sonae, as quatro maiores redes do país, confirmaram que a entrega está regular.
A empresa está nesta situação depois que foi descoberto um rombo nas contas da matriz, na Itália, em dezembro. A polícia italiana investiga indícios de desvios de recursos e fraude contábil. No país, o grupo pediu concordata.

Linha parada
Com oito fábricas no país, a Parmalat opera com ociosidade média de 60% atualmente, informa a empresa. A unidade de Garanhuns (PE) trabalha com apenas 20% de sua capacidade de produção. Nas fábricas de Santa Helena (GO) e Araçatuba (SP), a ociosidade chega a 70%, informam os sindicatos locais da alimentação. Em Jundiaí (SP) a produção de biscoitos e sucos continua parada.
A fábrica de leite em Itaperuna (RJ) operou ontem com 40% de sua capacidade produtiva. Apenas a unidade de lácteos da Batávia, em Carambeí (PR), mantém as linhas de produção trabalhando regularmente. Também operam com ociosidade as fábricas de Carazinho (RS) e Ouro Preto D'Oeste (RO).
As sete unidades atingidas pela queda na produção empregam 2.606 operários e a grande parte aderiu ao sistema de banco de horas. Ou seja, eles recebem salários, mas ficam em casa e aguardam serem convocados pela empresa. Se for necessário fazer hora extra no futuro, o período de folga é descontado.
Ontem à tarde, Ricardo Gonçalves, presidente da Parmalat Alimentos, esteve em conversa com diretores comerciais de supermercados em São Paulo, apurou a Folha. Ele falou sobre a atual situação da empresa e pediu compreensão do varejo. Algumas redes varejistas anteciparam pagamento à empresa em janeiro.


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