|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LEITE DERRAMADO
Presidente da empresa faz ronda em lojas; maioria das fábricas está parada e ociosidade chega a até 80%
Lojas param de receber itens da Parmalat
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Apenas uma fábrica da Parmalat Brasil S.A. Indústria de Alimentos opera com ritmo normal
hoje. As outras sete unidades fabris trabalham com ociosidade de
até 80% ou estão paralisadas. Ricardo Gonçalves, presidente do
grupo, esteve ontem em reunião
na sede de grandes supermercados ontem. Ele pediu cooperação.
Levantamento da Folha com
dez supermercados mostra que
cinco decidiram parar de vender
mercadorias da companhia ou só
recebem itens de forma picada.
Entre eles estão: D'Avó Supermercados, Nordestão e Econ
-lojas com receita anual de R$
45 milhões a R$ 400 milhões.
Foi armada uma operação de
emergência pela empresa, tanto
na área logística como no setor de
vendas: 1) a empresa passou a
deslocar insumos entre fábricas
na tentativa de manter certas linhas operando; 2) o varejo de
grande porte, com receita anual
superior a R$ 500 milhões, ganhou prioridade na entrega de
mercadorias. Mas médias e pequenas lojas foram atingidas pelos atuais gargalos na produção.
A rede D'Avó Supermercados
não recebeu lotes de leite UHT
nas últimas semanas de janeiro. A
cadeia Império da Banha, 31ª
maior rede do país, segundo ranking do setor, decidiu parar de
comprar itens da marca. Na Good
Bom, 60% do volume de mercadorias solicitado pela loja não está
sendo entregue pela companhia.
A Good Bom confirma o fato, mas
diz que a situação é "tranqüila".
O cenário se repete na cadeia
Nordestão, com receita anual em
R$ 230 milhões (2002) e na Econ.
"Há produtos enlatados que a
empresa não entrega para nós
desde dezembro. No caso de lácteos, isso ocorre há dez dias", diz
Leandro Cortes, gerente de compras da Econ.
Com a estratégia de manter vendas em grandes redes, explicam
analistas de varejo, a companhia
"tenta manter a visibilidade da
marca em redes nacionais e evita
desgaste da marca perante os consumidores", diz Eugênio Foganholo, sócio-diretor da Mixxer
Consultoria. Carrefour, grupo
Pão de Açúcar, Bompreço e Sonae, as quatro maiores redes do
país, confirmaram que a entrega
está regular.
A empresa está nesta situação
depois que foi descoberto um
rombo nas contas da matriz, na
Itália, em dezembro. A polícia italiana investiga indícios de desvios
de recursos e fraude contábil. No
país, o grupo pediu concordata.
Linha parada
Com oito fábricas no país, a Parmalat opera com ociosidade média de 60% atualmente, informa a
empresa. A unidade de Garanhuns (PE) trabalha com apenas
20% de sua capacidade de produção. Nas fábricas de Santa Helena
(GO) e Araçatuba (SP), a ociosidade chega a 70%, informam os
sindicatos locais da alimentação.
Em Jundiaí (SP) a produção de
biscoitos e sucos continua parada.
A fábrica de leite em Itaperuna
(RJ) operou ontem com 40% de
sua capacidade produtiva. Apenas a unidade de lácteos da Batávia, em Carambeí (PR), mantém
as linhas de produção trabalhando regularmente. Também operam com ociosidade as fábricas de
Carazinho (RS) e Ouro Preto
D'Oeste (RO).
As sete unidades atingidas pela
queda na produção empregam
2.606 operários e a grande parte
aderiu ao sistema de banco de horas. Ou seja, eles recebem salários,
mas ficam em casa e aguardam
serem convocados pela empresa.
Se for necessário fazer hora extra
no futuro, o período de folga é
descontado.
Ontem à tarde, Ricardo Gonçalves, presidente da Parmalat Alimentos, esteve em conversa com
diretores comerciais de supermercados em São Paulo, apurou a
Folha. Ele falou sobre a atual situação da empresa e pediu compreensão do varejo. Algumas redes varejistas anteciparam pagamento à empresa em janeiro.
Texto Anterior: Luís Nassif: Barbeiragem e ortodoxia Próximo Texto: BB paga a produtor por vaca leiteira Índice
|