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MATEMÁTICA FINANCEIRA
Formas de reestruturação incluem incorporação, corte de custos e busca de novos mercados
Com lucro em queda, universidades mudam
MAELI PRADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Com margens de lucro em baixa, o momento é de reposicionamento no mercado para as mais
de 1.780 instituições privadas de
ensino superior no país. Algumas
se preparam para fusões ou para
serem compradas. Outras cortam
custos, baixam mensalidades ou
se expandem para outros Estados.
Independentemente do caminho escolhido, o consenso é que,
em um mercado extremamente
competitivo -foram criadas
mais de mil instituições privadas
de ensino superior de 1996 a 2004,
e as mensalidades caíram em média 15% nos últimos quatro
anos-, quem ficar parado corre
o risco de morrer.
Algumas poucas instituições de
ensino superior, posicionadas estrategicamente no mercado, estão
na mira de grupos internacionais,
que sondam o Brasil de olho em
um negócio que, apesar de ser
muito concorrido, movimenta
R$ 15 bilhões por ano no país.
A maior parte das universidades, faculdades e centros universitários, entretanto, não tem a sorte
de ver capital estrangeiro entrando para resolver seus problemas.
A margem de lucro média das instituições de ensino superior, que
chegou a 18%, é de 7,7% atualmente, segundo estimativa da
consultoria Hoper Educacional.
De acordo com a mesma consultoria, em três anos 400 instituições de ensino superior de pequeno porte (as que têm menos de
500 alunos e representam a maior
parte do mercado) fecharão as
portas por causa do excesso de
oferta de vagas para uma demanda não tão aquecida. Atualmente,
a procura por cursos superiores
cresce 2% ao ano -até o final dos
anos 90, de acordo com consultores, a taxa chegava a 25%.
"Quando a taxa de crescimento
do mercado estava lá em cima,
elas cresciam de qualquer forma.
Agora, essas instituições estão
quebrando porque não conseguem alunos para fechar turma.
Em geral, elas passam a carteira
de alunos para outra instituição,
sob supervisão do MEC", diz
Ryon Braga, da Hoper.
Além da concorrência acirrada,
especialistas lembram que o calote é outro problema sério enfrentado pelas instituições: a inadimplência do dia (ou seja, o não-pagamento no dia seguinte ao vencimento), é de 44%. Após 30 dias do
vencimento, 27% dos alunos não
pagam a mensalidade, e na rematrícula, o percentual é de 9,5%.
Para lidar com esses problemas,
a tendência, no caso das instituições de ensino superior de médio
a grande porte (mais de 5.000 alunos), é que realizem fusões entre
si, na tentativa de reduzir custos,
ou sejam incorporadas por outros
grupos. De acordo com Braga, há
pelo menos três instituições na
capital paulista que seriam prováveis candidatas a esse tipo de solução de negócios.
Elas perderam muitos alunos
nos últimos anos e estudam como
se recuperar, segundo Braga. "Há
casos de universidades que se endividaram muito rápido para investir quando a demanda estava
crescendo. Quando o mercado
parou de crescer, ficaram com débitos que não conseguiram quitar", afirma o consultor.
"O momento é de consolidação
do mercado, com fusões e aquisições. Isso já aconteceu em outros
segmentos, como na indústria
têxtil. São setores que cresceram
muito, por haver uma demanda
reprimida, e que depois ficaram
saturados", reforça o vice-reitor
da Anhembi Morumbi, Maurício
Garcia.
"Não tenho bola de cristal, mas
creio que no caso das instituições
de pequeno porte a maioria não
vai se sustentar", completa.
Gestão
Um dos principais desafios das
grandes instituições é adequar
sua gestão à nova realidade do
mercado.
Caso emblemático é o da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), que, como outras universidades comunitárias,
tem uma estrutura inchada, seguindo as instituições públicas
como modelo. Com um déficit de
R$ 4 milhões por mês, a universidade vai demitir 10% de seus professores.
De acordo com Roberto Lobo,
ex-reitor da USP (Universidade
de São Paulo) e consultor na área
de educação, com a concorrência
trazida pelo boom de cursos superiores no país, a preços mais
baixos, essas universidades privadas não conseguem mais, como
faziam no passado, repassar altas
em seus custos para as mensalidades dos alunos.
"O que aconteceu com a PUC
também aconteceu com as universidades comunitárias da região Sul do país, que enfrentam
crise parecida", afirma Lobo.
Um exemplo de instituição que
passou por pequenas reestruturações e melhorou sua situação financeira é a Universidade Mackenzie, que chegou a demitir funcionários de alto escalão.
Além da readequação de gestão
e da busca por investimentos, a
tendência, segundo consultores, é
que as grandes busquem a expansão para outros Estados. Exemplos disso são a Universidade Estácio de Sá e a Unip.
Brasil na mira
O mercado das universidades
privadas não é formado só de crises. A Faap (Fundação Armando
Álvares Penteado), por exemplo,
que cobra altas mensalidades e investe para atrair alunos de maior
poder aquisitivo, é apontada como um caso de instituição saudável financeiramente.
A FGV-SP (Fundação Getulio
Vargas), que também investe nesse segmento, não enfrenta problemas financeiros, mas a avaliação
entre os consultores é que a instituição se elitizou muito, cobrando
preços altos, o que acabou fazendo com que tivesse dificuldade
para fechar turmas de pós-graduação, por exemplo.
"Há instituições que estão muito bem, há instituições que estão
muito mal", diz Paulo Renato
Souza, ex-ministro da Educação,
ex-reitor da Unicamp e dono da
Paulo Renato Souza Consultoria.
Prova de que o setor pode ser lucrativo é o fato de o grupo americano Laureate -que acabou de
desembolsar R$ 160 milhões para
entrar no mercado brasileiro, adquirindo a Anhembi Morumbi-
estudar hoje novos investimentos
no país. O grupo tem 20 universidades na Ásia, na Europa e em outros países da América Latina.
Outro exemplo é o grupo Apollo, dono da Universidade de
Phoenix, nos Estados Unidos, que
já havia comprado há quatro anos
metade do controle da Faculdade
Pitágoras, em Minas Gerais, e
quer investir novamente. Uma
possibilidade é a Universidade Estácio de Sá, do Rio de Janeiro, a
maior do país (120 mil alunos).
"Há mais grupos internacionais
interessados em entrar no mercado brasileiro", afirma Souza. "No
momento, assessoramos um deles", completa, sem revelar o nome do interessado.
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