São Paulo, domingo, 05 de fevereiro de 2006

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MATEMÁTICA FINANCEIRA

Formas de reestruturação incluem incorporação, corte de custos e busca de novos mercados

Com lucro em queda, universidades mudam

MAELI PRADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Com margens de lucro em baixa, o momento é de reposicionamento no mercado para as mais de 1.780 instituições privadas de ensino superior no país. Algumas se preparam para fusões ou para serem compradas. Outras cortam custos, baixam mensalidades ou se expandem para outros Estados.
Independentemente do caminho escolhido, o consenso é que, em um mercado extremamente competitivo -foram criadas mais de mil instituições privadas de ensino superior de 1996 a 2004, e as mensalidades caíram em média 15% nos últimos quatro anos-, quem ficar parado corre o risco de morrer.
Algumas poucas instituições de ensino superior, posicionadas estrategicamente no mercado, estão na mira de grupos internacionais, que sondam o Brasil de olho em um negócio que, apesar de ser muito concorrido, movimenta R$ 15 bilhões por ano no país.
A maior parte das universidades, faculdades e centros universitários, entretanto, não tem a sorte de ver capital estrangeiro entrando para resolver seus problemas. A margem de lucro média das instituições de ensino superior, que chegou a 18%, é de 7,7% atualmente, segundo estimativa da consultoria Hoper Educacional.
De acordo com a mesma consultoria, em três anos 400 instituições de ensino superior de pequeno porte (as que têm menos de 500 alunos e representam a maior parte do mercado) fecharão as portas por causa do excesso de oferta de vagas para uma demanda não tão aquecida. Atualmente, a procura por cursos superiores cresce 2% ao ano -até o final dos anos 90, de acordo com consultores, a taxa chegava a 25%.
"Quando a taxa de crescimento do mercado estava lá em cima, elas cresciam de qualquer forma. Agora, essas instituições estão quebrando porque não conseguem alunos para fechar turma. Em geral, elas passam a carteira de alunos para outra instituição, sob supervisão do MEC", diz Ryon Braga, da Hoper.
Além da concorrência acirrada, especialistas lembram que o calote é outro problema sério enfrentado pelas instituições: a inadimplência do dia (ou seja, o não-pagamento no dia seguinte ao vencimento), é de 44%. Após 30 dias do vencimento, 27% dos alunos não pagam a mensalidade, e na rematrícula, o percentual é de 9,5%.
Para lidar com esses problemas, a tendência, no caso das instituições de ensino superior de médio a grande porte (mais de 5.000 alunos), é que realizem fusões entre si, na tentativa de reduzir custos, ou sejam incorporadas por outros grupos. De acordo com Braga, há pelo menos três instituições na capital paulista que seriam prováveis candidatas a esse tipo de solução de negócios.
Elas perderam muitos alunos nos últimos anos e estudam como se recuperar, segundo Braga. "Há casos de universidades que se endividaram muito rápido para investir quando a demanda estava crescendo. Quando o mercado parou de crescer, ficaram com débitos que não conseguiram quitar", afirma o consultor.
"O momento é de consolidação do mercado, com fusões e aquisições. Isso já aconteceu em outros segmentos, como na indústria têxtil. São setores que cresceram muito, por haver uma demanda reprimida, e que depois ficaram saturados", reforça o vice-reitor da Anhembi Morumbi, Maurício Garcia.
"Não tenho bola de cristal, mas creio que no caso das instituições de pequeno porte a maioria não vai se sustentar", completa.

Gestão
Um dos principais desafios das grandes instituições é adequar sua gestão à nova realidade do mercado.
Caso emblemático é o da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), que, como outras universidades comunitárias, tem uma estrutura inchada, seguindo as instituições públicas como modelo. Com um déficit de R$ 4 milhões por mês, a universidade vai demitir 10% de seus professores.
De acordo com Roberto Lobo, ex-reitor da USP (Universidade de São Paulo) e consultor na área de educação, com a concorrência trazida pelo boom de cursos superiores no país, a preços mais baixos, essas universidades privadas não conseguem mais, como faziam no passado, repassar altas em seus custos para as mensalidades dos alunos.
"O que aconteceu com a PUC também aconteceu com as universidades comunitárias da região Sul do país, que enfrentam crise parecida", afirma Lobo.
Um exemplo de instituição que passou por pequenas reestruturações e melhorou sua situação financeira é a Universidade Mackenzie, que chegou a demitir funcionários de alto escalão.
Além da readequação de gestão e da busca por investimentos, a tendência, segundo consultores, é que as grandes busquem a expansão para outros Estados. Exemplos disso são a Universidade Estácio de Sá e a Unip.

Brasil na mira
O mercado das universidades privadas não é formado só de crises. A Faap (Fundação Armando Álvares Penteado), por exemplo, que cobra altas mensalidades e investe para atrair alunos de maior poder aquisitivo, é apontada como um caso de instituição saudável financeiramente.
A FGV-SP (Fundação Getulio Vargas), que também investe nesse segmento, não enfrenta problemas financeiros, mas a avaliação entre os consultores é que a instituição se elitizou muito, cobrando preços altos, o que acabou fazendo com que tivesse dificuldade para fechar turmas de pós-graduação, por exemplo.
"Há instituições que estão muito bem, há instituições que estão muito mal", diz Paulo Renato Souza, ex-ministro da Educação, ex-reitor da Unicamp e dono da Paulo Renato Souza Consultoria.
Prova de que o setor pode ser lucrativo é o fato de o grupo americano Laureate -que acabou de desembolsar R$ 160 milhões para entrar no mercado brasileiro, adquirindo a Anhembi Morumbi- estudar hoje novos investimentos no país. O grupo tem 20 universidades na Ásia, na Europa e em outros países da América Latina.
Outro exemplo é o grupo Apollo, dono da Universidade de Phoenix, nos Estados Unidos, que já havia comprado há quatro anos metade do controle da Faculdade Pitágoras, em Minas Gerais, e quer investir novamente. Uma possibilidade é a Universidade Estácio de Sá, do Rio de Janeiro, a maior do país (120 mil alunos).
"Há mais grupos internacionais interessados em entrar no mercado brasileiro", afirma Souza. "No momento, assessoramos um deles", completa, sem revelar o nome do interessado.


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