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Banco central dos EUA confunde analistas
Mercado diverge sobre sinais dados pelo Fed para a trajetória do juro; relatório compara reações do banco às de "garoto de 17 anos'
No Brasil, especialista vê espaço para queda maior
da taxa Selic, apesar das preocupações do Copom com a demanda "robusta"
MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
O mercado e o Federal Reserve, o banco central dos Estados
Unidos, vêm divergindo em relação aos juros. Lá, como aqui,
uma parcela de economistas
considera que os juros básicos
estão fora de lugar.
Em divertido relatório na semana passada, a Pimco, grande
administradora de recursos,
compara as reações do Fed às
de um garoto de 17 anos.
"Como pai de um adolescente, meu trabalho noturno se parece muito com o que faço como observador de banco central, mas, cada vez, mais acredito que seja mais fácil antecipar
um menino de 17 anos do que
um BC", escreve Paul McCulley, diretor da Pimco.
"Garotos de 17 anos, em contraste com os bancos centrais,
são rápidos em corrigir desajustes entre as expectativas deles e as dos pais: "Se você pensa
que vou sair do computador
quando você achar que é hora
de dormir, pai, está louco.'"
McCulley afirma que adolescentes de 17 anos não usam jogo de palavras com seus pais como fazem banqueiros centrais,
que se valem de ambigüidade,
"esperando minimizar a magnitude e o caráter abrupto de
suas estratégias".
"BCs detestam o risco de serem condenados por prematuramente mudarem de estratégia em razão de ruído no fluxo
de informações, e depois terem
que rapidamente reverter na
direção oposta, e serem acusados de estar mirando preços de
ativos", segundo ele.
Nos EUA, boa parte do mercado reclama da demora do Fed
em cortar os juros, depois de
iniciar pausa em 8 de agosto.
"O Fed afirmava que seu viés
ainda era de alta, e os mercados
não queriam acreditar, numa
postura ousada e arrogante.
Com os números de fevereiro, o
mercado "baixou a bola", e as taxas de juros subiram bem", diz
Caio Megale, economista da
Mauá. Aqui, muitos economistas não concordaram com a redução do ritmo de queda para
0,25 ponto percentual, na semana retrasada, quando os juros recuaram para 13%.
Nos EUA, os juros no curto
prazo estão em 5,25%, considerados por muitos especialistas
como fora de equilíbrio.
"Isso representa um juro real
ao redor de 3%; a inflação, para
os padrões deles, também está
fora do equilíbrio", diz Alexandre Póvoa, do Banco Modal.
"O Fed está relutando em iniciar o ciclo de quedas dos juros
com receio de retirar sustentação do dólar, que poderia enfraquecer rapidamente, elevando
a inflação", diz Marcelo Ribeiro, economista da Pentágono.
"Já no Brasil, não vejo motivo para o BC não cortar os juros
de maneira mais agressiva
diante de um cenário de abundante liquidez global. Essa
atuação do BC está colocando o
real "grosseiramente" fora de
posição", acrescenta.
Para Póvoa, há um medo justificável de que a oferta não responda à demanda no médio e
longo prazo. "A demanda cresce a taxas "robustas", conforme
diz o BC, mas até onde o juro
real pode ser testado, sem comprometer a estabilidade? Cada
1% de juro nominal são R$ 10
bilhões de custo da dívida."
Póvoa lembra que o aumento
de importações poderia suprir
a demanda, e o BC poderia deixar de ser obrigado a intervir no
mercado todo dia para impedir
que o dólar despenque.
"Não entendi a queda no corte. Aceitamos juros reais que
são mais que o dobro da média
dos emergentes", diz Póvoa.
"Como tem medo de ir com
muita sede ao pote, o BC tenta
amainar os ânimos do mercado. Mas o mercado parece que
não ter dado muita bola, e os juros futuros continuaram a
cair", diz Megale.
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