São Paulo, segunda-feira, 05 de fevereiro de 2007

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Governo Kirchner é acusado de manipular dado de inflação

Técnicos de instituto similar ao IBGE vêem "intervenção"

BRUNO LIMA
DE BUENOS AIRES

Em carta aberta à população argentina, os funcionários do Indec (Instituto Nacional de Estatística e Censos), órgão que corresponde ao IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), acusaram ontem o presidente Néstor Kirchner de manipular o cálculo do IPC (Índice de Preços ao Consumidor) para exibir uma taxa de inflação inferior à verdadeiramente registrada no mês passado.
Sob suspeita de fraude nos dados, o Indec difundirá hoje a taxa de inflação do mês de janeiro. Dependendo do número apresentado, os técnicos do instituto ameaçam divulgar a inflação "real", que se aproximaria dos 2,1%.
Segundo os funcionários do instituto, o governo argentino realizou "a primeira intervenção de fato sobre um indicador público na história do Indec". Para eles, "o objetivo imediato é alterar arbitrariamente a metodologia vigente de construção" do IPC, o que teria um impacto direto nos demais indicadores relacionados a ele.
O governo nega a existência de manipulação. O ministro do Interior, Aníbal Fernández, reagiu à ameaça dizendo que os técnicos são uma "máfia" e que o movimento de funcionários é fruto de "manobras políticas".
Para conter a inflação, Kirchner aplica uma política de congelamento de preços específicos -os produtos que compõem a lista dos controlados são exatamente os que mais têm impacto no cálculo do IPC, que, assim, é artificialmente mantido baixo.
Os economistas criticam a estratégia e dizem que a inflação real da economia é maior do que a que é registrada pelo IPC. A acusação feita pelos técnicos do instituto, porém, é mais grave e representa uma escalada no alerta pela maquiagem do índice.
O governo acaba de substituir a funcionária que respondia pelo IPC dentro do Indec e interveio no órgão, impondo novas diretrizes. Entre as medidas adotadas estariam ordens para desconsiderar o aumento de 22% dos planos de saúde e para revelar ao governo a lista de estabelecimentos comerciais consultados na pesquisa (o que violaria o segredo estatístico).
Além disso, haveria exigência para só registrar no sistema dados previamente analisados (hoje, dados brutos vão para o computador e só depois passam por análise).
O governo Kirchner anunciou no mês passado que cumpriu a meta de fechar 2006 com taxa de inflação de apenas um dígito: 9,8%.

Lavagna
Verdadeira ou manipulada, a inflação de janeiro deverá ser a maior taxa mensal desde que Felisa Miceli assumiu o Ministério da Economia argentino, com a saída de Roberto Lavagna em novembro de 2005.
Candidato oposicionista à presidência da Argentina para as eleições de outubro, o ex-ministro criticou o afastamento da funcionária responsável pelo IPC e afirmou que o governo anunciaria uma inflação "meio ponto menor que a real".
Ao jornal argentino "Perfil", o ex-titular do Indec, Juan Carlos del Bello, afirmou que, quando ministro, Lavagna também tentou modificar dados sobre a pobreza no país. A diferença é que não teria conseguido. Lavagna nega ações nesse sentido.


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