São Paulo, terça-feira, 05 de março de 2002

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Produtor retém café para fazer preço subir

Odilon Comodaro - 7.mai.01/Folha Imagem
Lavoura de café no nordeste do Estado de São Paulo


DA REDAÇÃO

Os produtores e a indústria de café podem protagonizar uma queda-de-braço neste ano. Quem planta quer fazer uma das maiores estocagens dos últimos 15 anos para segurar os preços. As indústrias, porém, discordam.
O café teve o pior desempenho entre os produtos agrícolas em 2001. Se faturamento despencou 40%, fechando o ano com R$ 3,5 bilhões, contra os 5,9 bilhões registrados em 2000. Os preços internacionais atingiram o nível mais baixo dos últimos 25 anos e o valor exportado caiu 22,55%.
Para tentar segurar a queda de preço no mercado interno, os cafeicultores brasileiros querem fazer uma das maiores pré-comercializações dos últimos 15 anos. Dos 39 milhões de sacas previstos para a próxima colheita, pretendem estocar 10 milhões -o equivalente ao total da produção mexicana, mais um terço da colombiana. No ano passado foram colhidos 28 milhões de sacas e retidos 2,5 milhões.

Manobra arriscada
A Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic) considera a manobra arriscada. "Segurar 10 milhões de sacas de uma safra de 40 milhões é muito. Isso não é política para o setor e o CMN (Conselho Monetário Nacional) não aprovou isso", declara o secretário-geral da Abic, David Nahum Neto. Para indústria, a decisão dos produtores vai servir para elevar o preço de forma "artificial", prejudicar as exportações e aumentar o preço do cafezinho do brasileiro.
"O preço de comercialização mal cobre os custos de produção", diz Osvaldo Paiva Ribeiro, presidente do CNC (Conselho Nacional do Café). Dependendo do nível de tecnologia utilizada, o custo de produção por saca do café arábica, um dos mais elevados, oscila entre R$ 90 e R$ 130.
Na última grande operação de estocagem, na década de 80, o governo comprou o café. Desta vez, o setor vai contar com R$ 1,2 bilhão em financiamento. O CMN aprovou antecipadamente a liberação de R$ 693 milhões, com juros de 9,5%, para pagamento em 18 meses, sendo possível uma prorrogação por mais 18 meses.
O valor financiável será de 90% do preço da saca, tomando-se por base o indicador diário do arábica e do robusta do Cepea/Esalq. O produtor terá a opção de utilizar créditos das linhas de custeio e colheita e migrar para a linha de comercialização.
Não foi definida a data para a liberação dos recursos, mas, segundo o coordenador de Operações do Departamento do Café do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Eduardo Chacur, devem ser postos à disposição dos produtores entre maio e junho.
"Estamos colhendo a segunda maior safra da história. Sem a pré-comercialização, corríamos o risco de ver os preços desabarem", afirma João Roberto Puliti, presidente da Comissão Nacional de Café, da CNA (Confederação Nacional da Agricultura).
A operação, no entanto, não tem efeito no curto prazo. Os estoques formados neste ano também vão garantir a oferta em 2003, quando a produção nacional deve cair para 28 milhões de sacas. Os preços, porém, não vão reagir antes de 2006, acredita o assessor técnico da Comissão Nacional do Café, Luciano Ribeiro Machado.

Estoques altos
Os estoques internacionais permanecem elevados. Só o Brasil tem cerca de 20 milhões de sacas nos armazéns dos principais países consumidores, afirma Machado. O consumo mundial caiu 0,4% no ano passado e já acumula retração de 4% nos últimos cinco anos, lembra o técnico.
Novas quedas nos preços vão agravar a já complicada situação financeira do setor, lembra Reinaldo Caetano, presidente da Associação dos Cafeicultores de Araguari (MG). (AS)


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