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NÓ CAMBIAL
BC unifica mercado livre e flutuante e acaba com limites para compras de dólar, mas descarta impacto na cotação
Governo simplifica e liberaliza o câmbio
LEONARDO SOUZA
GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo anunciou ontem
uma ampla abertura do mercado
de câmbio, que facilitará a compra e a remessa de dólares, abolindo limites de volume e restrições
legais ainda existentes para pessoas físicas e jurídicas. Operações
que hoje são feitas por meio das
chamadas contas CC5 poderão
ser realizadas pelos mecanismos
normais do mercado.
Foram unificados os dois mercados de câmbio existentes atualmente: o de taxas livres -mais
burocratizado e destinado a transações comerciais e financeiras de
maior volume- e o de taxas flutuantes -voltado para negócios
de menor volume, como viagens
ao exterior.
Como princípio geral, qualquer
pessoa e qualquer empresa poderá comprar e enviar para o exterior a quantidade de dólares e de
outras moedas estrangeiras que
desejar, desde que especifique a
finalidade dos recursos adquiridos ou enviados.
Na prática, torna-se oficial o que
já vale atualmente, por meio de
brechas na legislação e de improvisos, para grande parte das operações realizadas.
Investimentos e pagamentos
em países estrangeiros não-previstos nas normas, por exemplo,
acabam sendo feitos por meio das
CC5 -assim como evasões de divisas investigadas pela CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito)
do Banestado, encerrada no ano
passado sem um relatório final.
Cai, entre outras, a regra que
obrigava uma empresa a pedir autorização ao Banco Central para
fazer um investimento no exterior
acima de US$ 5 milhões.
Também acaba a indefinição
sobre operações como empréstimos a filiais estrangeiras, não previstas na legislação. Agora, sabe-se que toda transação, devidamente identificada, é permitida.
Efeitos
As medidas, na avaliação do governo, não deverão afetar a cotação do dólar, ao menos no curto
prazo. "Não antecipo nenhum
impacto", disse ontem o diretor
de Assuntos Internacionais do
Banco Central, Alexandre
Schwartsman, ao divulgar, às 18h,
após o fechamento do mercado
medidas aprovadas em reunião
extraordinária do CMN (Conselho Monetário Nacional). Um dia
antes, na quinta-feira, as medidas
foram apresentadas ao presidente
Luiz Inácio Lula da Silva.
A finalidade das mudanças, de
acordo com Schwartsman, é reduzir os custos para as empresas
com a burocracia e a incerteza referente à legislação cambial -o
que se insere, disse ele, na chamada agenda microeconômica do
governo, voltada para a melhoria
do ambiente de negócios.
Os princípios fundamentais que
regem o mercado não foram alterados. Continua proibido fazer
transações domésticas em moeda
estrangeira, comprar dólares como investimento financeiro e fazer operações cambiais sem registro -embora o BC não vá mais
especificar a documentação detalhada, que passa a ser atribuição
do setor privado.
Exportadores seguem obrigados a trazer seus dólares para o
país; contas em moeda estrangeira permanecem proibidas, salvo
as exceções já existentes; e fica
mantida também a regra que
obriga declarar qualquer remessa
acima de R$ 10 mil.
CC5
Criadas para permitir a movimentação de recursos por parte
de não-residentes no país, mas
identificadas com a remessa ilegal
de recursos para o exterior, as
CC5s serão simplificadas para o
envio de dinheiro a outros países.
O BC eliminou a figura da instituição financeira intermediária,
que mandava para fora dinheiro
de terceiros. Ao receber reais em
um conta CC5 no Brasil por serviços prestados, um advogado estrangeiro, por exemplo, tem de
transferir seus dólares para uma
conta CC5 de uma instituição financeira para poder enviar os recursos para seu país de origem.
Esse banco fecha o câmbio no
mercado financeiro (a conversão
para dólar, por exemplo) e envia o
dinheiro para o exterior.
Agora, o não-residente não precisa mais transferir o dinheiro para a conta de uma instituição intermediária. Pode procurar um
banco qualquer no Brasil e contratar diretamente o câmbio. Segundo Schwartsman, isso dará mais transparência às CC5.
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