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TRABALHO
Sindicato dos docentes pediu desligamento da central por não concordar com seu posicionamento na gestão Lula
CUT é "esteio" do governo, afirma dissidente
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Depois de 16 anos filiado à CUT,
o Andes (sindicato nacional de
docentes das instituições de ensino superior), que representa 74
mil professores das universidades
públicas e privadas, encaminhou
anteontem seu pedido de desligamento da central.
Marina Barbosa, presidente do
Andes, afirma que a saída da CUT
é discutida desde que a central tomou "posições contrárias" aos
servidores durante o processo da
reforma previdenciária. Ela critica a reforma sindical defendida
pelo governo Lula e afirma que a
CUT serve de "esteio" para o governo. Leia a seguir os principais
trechos da entrevista.
Folha - Por que o Andes decidiu se
desfiliar à CUT?
Marina Barbosa - Esse debate
vem sendo feito nos últimos dois
anos dentro do Andes. Há duras
críticas à postura política da central, em relação às reivindicações
da categoria e ao funcionamento
da CUT. Internamente, notamos
um estrangulamento do processo
interno de democracia. Ao longo
do tempo, as medidas adotadas
pela direção majoritária da CUT
foram cerceando e afunilando cada vez mais a participação da base, que são os sindicatos, nos
eventos de deliberação da central.
Folha - Que medidas são essas?
Barbosa - Desde o governo FHC,
a central assumiu atitudes que relativizam os interesses dos trabalhadores. A CUT discutiu e aceitou, por exemplo, a adoção de
bancos de horas e de câmaras setoriais que envolviam negociatas
em torno de reivindicações dos
trabalhadores. Para os servidores,
isso ficou claro na reforma da Previdência, que foi traumática.
Folha - Por quê?
Barbosa - Os servidores públicos
tentavam impedir que a reforma
fosse aprovada. Mas a CUT encaminhou e aceitou uma série de
proposições que não atendem às
demandas da categoria. Uma delas são os fundos de pensão, que
serão criados para complementar
as aposentadorias de servidores.
Isso significa que o Estado não vai
se responsabilizar pela integralidade da aposentadoria ao abrir
espaço para o capital privado nesse setor. A CUT defendeu isso, o
que prova o quanto é capaz de negociar direitos históricos em nome de suposta modernização.
Folha - A CUT é "governista"?
Barbosa - A central tem servido
de esteio para sustentar posições e
projetos do governo no movimento sindical. A reforma sindical é a mais clara prova disso.
Folha - Governo e centrais sindicais afirmam que a reforma foi discutida durante 16 meses no Fórum
Nacional do Trabalho.
Barbosa - A CUT foi para o fórum sem consultar os trabalhadores. Foi falar em nome deles sem
nunca chamar um debate para saber o que eles pensam.
Folha - O Andes é contra a reforma sindical?
Barbosa - Não concordamos
com o projeto. Ele desloca da base
dos sindicatos o poder de decisão
sobre seus conflitos. Se o problema não for resolvido no âmbito
do sindicato, é delegada à central,
por força de lei, a resolução desse
conflito.
Folha - E quanto à sustentação financeira dos sindicatos, o projeto
não traz avanços?
Barbosa -Não. Somos totalmente contra a contribuição negocial,
que será criada e vai deslocar parte dos recursos para as centrais.
Também somos contra o imposto
sindical obrigatório, que existe há
60 anos. O Andes defende o funcionamento dos sindicatos sem
nenhuma forma de contribuição
compulsória. Vivemos da mensalidade espontânea dos associados.
Folha - Alguns especialistas criticam o projeto dizendo que o poder
do Estado vai aumentar.
Barbosa - O projeto não vai permitir a liberdade e a autonomia
sindical, que sempre foram bandeiras históricas da CUT. A perspectiva não é ampliar a liberdade,
dando a chance de o trabalhador
escolher a quem quer se filiar. O
projeto atrela os sindicatos ao Estado, que vai reconhecer a personalidade sindical de uma entidade
e vai conferir critérios de representatividade.
Folha - Como o Andes avalia os
dois anos de governo petista?
Barbosa - O governo Lula dá
continuidade a uma política econômica adotada há mais de dez
anos. A lógica tem sido aprofundar essa política, com juros subindo e renda caindo. Em nome da
modernização do Estado, o país
retrocede na distribuição de renda e na criação de empregos dignos. A economia, quando cresce,
atende às demandas do capital.
Folha - É mais fácil negociar salário com o governo petista?
Barbosa - No ano passado, as negociações salariais foram interrompidas pelo governo, que decidiu instituir uma medida provisória [com reajuste para a categoria
variando de 10,15% a 35%]. O governo não aceitou a reivindicação
do Andes de equiparar os valores
entre aposentados e docentes na
ativa. Também pedíamos a incorporação das gratificações aos salários, mas não fomos atendidos.
Foram mais de 30 dias em greve,
mas o reajuste médio, de 12%, foi
dado à gratificação.
Folha - Qual o salário médio de
um professor universitário?
Barbosa - O de um professor-mestre numa universidade pública, com 15 anos de serviço, deve
chegar a R$ 2.800. O problema é
que esse salário é composto em
55% por gratificações.
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