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Unibanco dá R$ 30 mil para festa de servidor da Receita
Banco diz que busca atrair clientes; BB deu R$ 8.000, e 2 entidades sindicais, R$ 18 mil
Jantar reuniu cerca de 800 servidores no clube Sírio
em dezembro; ajuda de entidades ajudou a baratear custo de convites da festa
CLAUDIA ROLLI
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
O Unibanco contribuiu com
R$ 30 mil para a festa de fim de
ano de funcionários da Receita
Federal em São Paulo, que
ocorreu em dezembro de 2007
no Esporte Clube Sírio.
É a primeira vez que um banco privado patrocina festa de
funcionários da Receita Federal em São Paulo. O apoio causou polêmica entre auditores
fiscais, que questionam o fato
de uma instituição, que é fiscalizada pela Receita Federal,
ajudar financeiramente um
evento desses servidores.
Banco do Brasil e ao menos
duas entidades sindicais que
representam a categoria
-Unafisco São Paulo e Apafisp
(Associação Paulista dos Auditores Fiscais da Receita Federal
do Brasil)- também deram dinheiro ao evento. Os valores foram respectivamente de R$
8.000, R$ 6.000 e cerca de R$
12 mil. O custo total da festa foi
de cerca de R$ 70 mil.
Com a ajuda, segundo as entidades, o custo dos convites à
festa foi barateado. Sem o
apoio, dizem, custaria cerca de
R$ 100, mas saiu por R$ 40. A
Receita diz que a administração do órgão não participou da
organização da festa.
Servidores que ajudaram a
organizar o evento informaram
que a contribuição do Unibanco foi voluntária e ocorreu devido ao relacionamento entre
empregados das duas instituições -os R$ 30 mil foram repassados diretamente ao clube-, já que uma parte dos funcionários da Receita Federal
em São Paulo já recebe salário
em conta no Unibanco.
Para o Unibanco e o Banco do
Brasil, esse tipo de apoio a
eventos faz parte de ações de
marketing e de relacionamento
com novos clientes, como os
servidores públicos.
Ação agressiva
Alguns fiscais relataram à
Folha que estranharam a ação
agressiva de marketing do Unibanco no evento. Além de faixas com nomes de produtos do
banco, havia no meio da festa
um zepelim (balão dirigível)
conduzido de mesa em mesa. O
banco distribuiu brindes e fotos aos servidores.
O que chamou a atenção de
auditores foi que, um mês após
a festa, funcionários do Unibanco começaram a visitá-los
em seus locais de trabalho para
vender produtos e serviços. Um
desses locais foi a sede da Deinf
(Delegacia Especial de Instituições Financeiras) da Receita
Federal em São Paulo.
Auditores fiscais que preferem não se identificar por temerem represálias afirmam
que não é possível o fiscalizado
ter tal proximidade com o órgão fiscalizador.
Citam o Código de Ética do
Servidor Público Civil do Poder
Executivo Federal, criado em
1994, que veda ao servidor
"pleitear, solicitar, provocar,
sugerir ou receber qualquer tipo de ajuda financeira, gratificação, prêmio, comissão, doação ou vantagem de qualquer
espécie, para si, familiares ou
qualquer pessoa, para o cumprimento da sua missão ou para
influenciar outro servidor para
o mesmo fim".
Por e-mail, esses auditores
questionam as contribuições.
Por que não abriram o patrocínio para outros bancos e empresas?, questionam. Em outro
relato, um fiscal afirma que na
festa estavam o superintendente [da Receita Federal de São
Paulo] Edmundo Rondinelli
Spolzino, o superintendente-adjunto Paulo Jacson e vários
delegados da Receita no Estado
de São Paulo. Outro e-mail relata que a festa foi no salão
principal do Sírio, durou até as
4h da manhã, com 500 pessoas,
não havia mesa para todos e alguns comeram até em pé".
Funcionários da organização
da festa, entretanto, afirmam
que os bancos estão de olho no
filão da folha de pagamentos
dos servidores federais, que anteriormente recebiam seus salários somente por meio do
Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal. Para eles, a
concorrência de bancos dentro
da instituição é positiva.
Ives Gandra da Silva Martins,
advogado e professor emérito
da Universidade Mackenzie,
diz que a ajuda do Unibanco à
festa de funcionários da Receita "pode não ter sido prudente,
mas não é ilegal. "Funcionários
da Receita são sérios, e não vejo
como uma doação de R$ 30 mil
para sindicatos de funcionários
possa ter problema, a não ser
que houvesse prova de que os
R$ 30 mil resultaram em algum
favorecimento. A festa foi de
funcionários, que têm liberdade de buscar recursos".
Já Adilson Dallari, professor
titular de direito administrativo da PUC-SP, "não vê com
bons olhos" o apoio financeiro
de instituições privadas a órgãos públicos. "Sou rígido nisso. Acho que o setor público
não deve receber favores de
particulares. Se a empresa tal
patrocina a conservação de
uma praça, é uma relação institucional de interesse público.
Agora, quando se trata de dar
dinheiro para uma festa de final
de ano, que interesse público
há nisso? Esse apoio acaba
criando um relacionamento de
gratidão entre as duas instituições. Não chega a ser uma infração disciplinar, legal, mas é,
sim, um problema moral", diz.
Para o advogado Rubens Naves, fundador e conselheiro da
ONG Transparência Brasil,
"em decorrência dos princípios
constitucionais da impessoalidade e da moralidade administrativa, os servidores devem se
abster de praticar qualquer ato
que possa caracterizar favorecimento ou acesso privilegiado
de determinadas empresas ao
poder público ou a seus integrantes". Ele diz que o código
de ética do servidor federal "enfatiza" que o comportamento
do servidor deve levar em conta
"não apenas o legal e o ilegal
mas o justo e o injusto, o conveniente e o inconveniente, o
oportuno e o inoportuno, o honesto e o desonesto".
"Caso se confirme eventual
tratamento privilegiado às empresas que patrocinaram a festa mencionada, a conduta poderia caracterizar descumprimento desse dever", afirma.
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