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LUÍS NASSIF
Contra-ataque à especulação
As decisões tomadas ontem
pelo novo presidente do Banco
Central, Armínio Fraga, acabam com a previsibilidade do
mercado de câmbio e dotam o
Banco Central de maior poder
de fogo. A impressão inicial do
mercado é que foram criadas
condições técnicas para um
combate efetivo à especulação
cambial.
Aparentemente, as negociações com o Fundo Monetário
Internacional (FMI) levaram
a um empate. De um lado, o
BC passa a apostar em uma
política monetária ativa, de
elevação dos juros, como desejava o FMI. De outro, provavelmente o FMI teria autorizado o BC a utilizar as reservas até abaixo do limite de
US$ 20 bilhões.
Em linhas gerais, as decisões
consistiram dos seguintes
itens:
1) Acabou a âncora monetária. Com a extinção da Teban
e da TBC (que fixavam os limites superior e inferior das taxas de juros), o BC passa a
atuar sobre o over Selic (a taxa
de juros que serve de base para
a troca de reservas entre os
bancos) com maior liberdade.
O mercado passa a não ter referencial de juros e câmbio.
Com isso, aumenta a volatilidade e o risco dos especuladores.
2) O BC vai adotar as chamadas "metas inflacionárias",
como referencial de política
monetária. Ou seja, fixa uma
meta de inflação e joga a taxa
de juros no índice necessário
para se atingir o objetivo. Trata-se de medida controversa,
dada a pouca sensibilidade da
economia brasileira, como um
todo, aos níveis de juros -depois de quatro anos de taxas
exageradas e grande escassez
de crédito.
3) A elevação da taxa de juros para 45% ao ano representa um crescimento potencial
da dívida pública de R$ 13 bilhões (potencial porque depende do tempo em que a taxa
ficar nesse patamar). Ao elevar para 30% o compulsório
sobre depósitos a prazo, o BC
retira do mercado R$ 8,3 bilhões, compensando o impacto
do aumento dos juros.
4) O Comitê de Política Monetária (Copom) criou o conceito de viés de alta e de baixa.
A única pessoa com prerrogativa de mudar a taxa é Fraga.
Pelo que se entendeu, o BC fixa
a taxa de juros de seus títulos.
Na semana seguinte, ao fazer
novo leilão, avisa o mercado se
o viés é de alta ou de baixa. Se
for de baixa, significará que
não aceitará nenhuma taxa
acima da cotação vigente.
A rentabilidade do dólar depende do "cupom cambial"
-o ganho líquido da aplicação em dólar, quando convertida em reais e aplicada no
mercado de taxas. Suponha
uma taxa de juros líquida de
30% ao ano. Se o dólar se valorizasse mais 20%, o "cupom"
ficaria em 8%. Mas, se o dólar
se desvalorizar em 10%, o "cupom" salta para 44%.
Com esse mecanismo, Fraga
joga para os bancos a responsabilidade de aumentar o "cupom", derrubando o dólar. E o
BC ganha mobilidade para
tourear o câmbio por dois ou
três meses, até que se iniciem
as exportações agrícolas, permitindo obter superávits comerciais expressivos.
Contas externas
Desde que se estabilize o
câmbio, e haja uma reversão
de expectativas que permita a
renovação das linhas de crédito, a situação externa este ano
será tranquila.
Antes da mudança cambial,
no cálculo sobre as necessidades de financiamento externo,
o Banco Central levava em
conta apenas o déficit em conta corrente (US$ 32 bilhões) e
não os créditos vincendos (US$
28 bilhões), supondo que seriam automaticamente renovados. Quando estourou a crise brasileira, com a não renovação dos créditos, as necessidades de financiamento saltaram para US$ 60 bilhões.
As últimas estimativas extra-oficiais, feitas pelo setor
privado, indicam uma substancial reversão no déficit em
transações correntes. Estima-se que a balança comercial
possa registrar um superávit
de US$ 7 bilhões -contra um
déficit de US$ 6 bilhões no ano
passado (portanto, um ganho
de US$ 13 bilhões). É possível
que a conta de serviços tenha
um ganho de mais US$ 3 bilhões.
Finalmente, há uma conta
de comércio não contabilizada, que é o contrabando -cujos recursos saem por meio do
flutuante. Estima-se que no
ano passado essa conta possa
ter chegado a US$ 10 bilhões.
Caso se reduza pela metade, o
déficit em contas correntes poderá cair US$ 21 bilhões -situando-se por volta de US$ 11
bilhões-, sendo perfeitamente financiável, desde que se recomponham as linhas de financiamento externo.
E-mail: lnassif@uol.com.br
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