São Paulo, domingo, 05 de abril de 2009

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Investimentos minguam com a crise global

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Principal propulsor do crescimento econômico, o investimento sente a atual crise com mais intensidade do que o consumo, tendência notada desde janeiro deste ano. É o que mostram dados de importação e produção de bens de capital e de insumos da construção civil e de financiamentos do BNDES levantados pela Folha.
Pelos dados do IBGE, a produção de bens de capital chegou a cair mais de 70% em alguns setores, como o de máquinas e equipamentos para a construção civil, no primeiro bimestre deste ano na comparação com igual período de 2008. Já os segmentos de bens de capital para a indústria e para agricultura caíram mais de 30%.
Na média, a produção doméstica de bens de capital caiu 19,5% no primeiro bimestre -em fevereiro, o resultado foi pior: -24,4%. São taxas mais intensas do que a média da indústria, cuja produção caiu na faixa de 17% em janeiro e fevereiro.
Esses números, dizem especialistas, refletem o receio e o pessimismo de empresários em relação ao futuro da economia, que os leva a postergar investimentos diante da incerteza quanto à recuperação da demanda. Os dados sinalizam ainda que uma recuperação da indústria será mais demorada.
"A queda abre espaço para um desempenho negativo do PIB neste ano [de até -0,5%] e indica que não há muito canal de recuperação da indústria. Só o consumo não sustentará a economia", diz Sérgio Vale, economista da MB Associados.
Ao lado dos dados negativos de produção do IBGE, está também o fraco desempenho de importações de bens de capital, que caíram, em volume, 12,9% em janeiro (último dado), segundo a Funcex (Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior). A redução reflete a retração da indústria -menos disposta a investir.
Também sinalizam o comportamento futuro da demanda os financiamentos do BNDES para aquisição de máquinas. Em janeiro, os desembolsos do banco estatal recuaram 6,4%.
Outro importante vetor do investimento -com peso de cerca de 40%- é a construção civil, que, segundo o IBGE, também sente com força a crise. A produção de insumos típicos do setor (areia, cimento etc.) cedeu 12,3% no primeiro bimestre de 2009.
Para Leonardo Carvalho, economista do Ipea, o investimento deve se manter fraco nos próximos meses. O que vai assegurar algum dinamismo à indústria, diz, é o consumo interno. Sérgio Vale, da MB, afirma que as ações de desoneração do governo para estimular o consumo têm efeito nulo sobre os investimentos, que só crescerão com a recuperação dos níveis de confiança.


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