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Investimentos minguam com a crise global
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Principal propulsor do
crescimento econômico, o
investimento sente a atual
crise com mais intensidade
do que o consumo, tendência
notada desde janeiro deste
ano. É o que mostram dados
de importação e produção de
bens de capital e de insumos
da construção civil e de financiamentos do BNDES levantados pela Folha.
Pelos dados do IBGE, a
produção de bens de capital
chegou a cair mais de 70%
em alguns setores, como o de
máquinas e equipamentos
para a construção civil, no
primeiro bimestre deste ano
na comparação com igual
período de 2008. Já os segmentos de bens de capital
para a indústria e para agricultura caíram mais de 30%.
Na média, a produção doméstica de bens de capital
caiu 19,5% no primeiro bimestre -em fevereiro, o resultado foi pior: -24,4%. São
taxas mais intensas do que a
média da indústria, cuja produção caiu na faixa de 17%
em janeiro e fevereiro.
Esses números, dizem especialistas, refletem o receio
e o pessimismo de empresários em relação ao futuro da
economia, que os leva a postergar investimentos diante
da incerteza quanto à recuperação da demanda. Os dados sinalizam ainda que uma
recuperação da indústria será mais demorada.
"A queda abre espaço para
um desempenho negativo do
PIB neste ano [de até -0,5%]
e indica que não há muito canal de recuperação da indústria. Só o consumo não sustentará a economia", diz Sérgio Vale, economista da MB
Associados.
Ao lado dos dados negativos de produção do IBGE,
está também o fraco desempenho de importações de
bens de capital, que caíram,
em volume, 12,9% em janeiro (último dado), segundo a
Funcex (Fundação Centro
de Estudos do Comércio Exterior). A redução reflete a
retração da indústria -menos disposta a investir.
Também sinalizam o comportamento futuro da demanda os financiamentos do
BNDES para aquisição de
máquinas. Em janeiro, os desembolsos do banco estatal
recuaram 6,4%.
Outro importante vetor do
investimento -com peso de
cerca de 40%- é a construção civil, que, segundo o IBGE, também sente com força
a crise. A produção de insumos típicos do setor (areia,
cimento etc.) cedeu 12,3% no
primeiro bimestre de 2009.
Para Leonardo Carvalho,
economista do Ipea, o investimento deve se manter fraco nos próximos meses. O
que vai assegurar algum dinamismo à indústria, diz, é o
consumo interno. Sérgio Vale, da MB, afirma que as
ações de desoneração do governo para estimular o consumo têm efeito nulo sobre
os investimentos, que só
crescerão com a recuperação
dos níveis de confiança.
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