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Programa de milhagem alça voo para outros setores
Assentos ociosos em aviões viram prêmio para clientes de bancos e redes de varejo
Já existem no mercado empresas especializadas em organizar programas de fidelidade, como a Multiplus, que nasceu dentro da TAM
MARIANA BARBOSA
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
Quando surgiram no início
dos anos 80, os programas de
milhagem das companhias aéreas eram uma cara estratégia
de fidelização. Mas o tempo dos
"passivos" de milhas aéreas ficou para trás. Hoje a fidelização
se tornou um grande negócio,
que faz entrar dinheiro no caixa
não só das companhias aéreas
mas também no de bancos, locadoras de automóveis, hotéis e
redes de varejo.
Esses programas têm por
trás uma engenharia financeira
complexa que permite transmutar em dinheiro um dos
bens mais caros para qualquer
empresa: a retenção do cliente.
De todas as formas experimentadas para premiar clientes fiéis, a compra de passagens
com pontos de fidelidade é a
que mais deu certo. É onde o
cliente mais percebe que ganhou uma coisa de verdade
-diferentemente de um bem
físico. É essa percepção de valor que permite às companhias
aéreas transformar em receita
um assento que, de outra forma, voaria vazio.
"O negócio da fidelidade é
uma grande sacada. Levar o
cliente a preferir o seu serviço
ao de um concorrente é um desafio enorme em um mundo de
comoditização", disse o consultor Boanerges Ramos Freire.
"Por que um Walmart entra
nesse negócio? Ele vai fazer a
conta: quanto eu preciso investir para reter meu cliente?
Compara com o custo de mídia,
de propaganda e se fizesse um
desconto. Chega à conclusão de
que é melhor reter e fidelizar. O
negócio é novo, mas a lógica é
simples", disse Líbano Barroso,
presidente da TAM.
Os bancos são os maiores
compradores dessa "capacidade ociosa" das companhias aéreas -que gira em torno de
35% dos assentos. Como compram lotes gigantescos de uma
vez, conseguem um preço que
equivale a um terço do valor
médio do bilhete.
Por outro lado, os bancos ganham quando conseguem fazer
o cliente gastar mais no cartão.
Para cada R$ 100 gastos no cartão, os bancos recebem R$ 1,5.
Soma-se a isso o fato de que de
5% a 30% dos pontos de fidelidade de qualquer programa
não são usados -o que se traduz em ganhos para os bancos.
"Esse é um negócio de escala.
Essa conta depende da capacidade do banco de comprar bem
e barato esse benefício para o
cliente", afirmou Carlos Zanvettor, diretor de cartões do
Itaú Unibanco.
Hoje, há empresas especializadas em organizar programas
do tipo, como a Multiplus, gestora de pontos que nasceu na
TAM. Em fevereiro, a Multiplus ganhou vida própria, foi
separada da TAM e levantou
R$ 720 milhões em sua abertura de capital na Bolsa. Agora
pretende organizar a "fidelidade" para diferentes parceiros,
com exceção da Varig/Gol, dona do concorrente Smiles.
De subsidiária, a Multiplus se
tornou a maior "cliente" individual da própria TAM, responsável por trazer cerca de R$ 425
milhões -6% das receitas no
ano passado (até setembro). A
Multiplus revende os pontos
-conversíveis em passagens
aéreas- para bancos, redes de
varejo e hotéis distribuírem a
seus melhores clientes.
Segundo a TAM, as passagens vendidas para a Multiplus
custam só entre 10% e 15% menos do que a média das passagens vendidas aos passageiros.
"Na TAM, não tem diferença se
o passageiro comprou a passagem ou trocou por pontos", disse Barroso.
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